Para muitas pessoas, e este que escreve incluso, o golpe sofrido por Dilma Rousseff, em 2016, foi um marco divisório no processo histórico político da República pós-regime militar. A própria eleição de Jair Bolsonaro possui um elo umbilical com este processo. 

Contudo, era previsto que o próprio Partido dos Trabalhadores amenizaria os hematomas do golpe. Já nas eleições municipais de 2020, foi comum vermos conjunturas locais que uniram o PT ao MDB e outras agremiações que militaram pela derrubada da supracitada presidente. Mas as capotadas da terra plana não podem ser subestimadas. 

Há algumas semanas, ventila-se a possibilidade de uma chapa presidencial encabeçada por Lula e, pasmem, Geraldo Alckmin, um dos tucanos mais tradicionais, o governador que impulsionou ações da PM mais violenta do país e, mais importante, ferrenho defensor do impeachment de Dilma. O que no começo era apenas um boato tomou formas mais concretas. O ex-presidente já confirma que vem conversando com o ex-governador sobre uma eventual chapa. O próprio PSB já tem indicado quais seriam as contrapartidas que o PT deve oferecer para garantir a dobradinha com seu provável futuro filiado, o que inclui a desistência da candidatura de Fernando Haddad para o governo do Estado de São Paulo para oferecer apoio a Márcio França.

Poderia ser uma reedição do casamento entre Dilma e Temer de 2010, mas é pior. Além do precedente golpista, Alckmin não é um articulador político de uma legenda, mas sim alguém que estabeleceu identidade administrativa como um governante, diferentemente do cacique emedebista quando foi convidado para ser candidato a vice. Uma das características que demarcou esta identidade foi a forma violenta, truculenta e, por vezes, assassina, que a PM paulista agiu com estudantes, professores e militantes políticos de esquerda, várias destas pessoas base eleitoral do PT. Sem contar a discrepância no tratamento da corporação para com os manifestantes pró e contra impeachment/golpe nos atos de 2015 e 2016.

O trauma de ter apertado “13” na urna e ter de ver a foto de Temer ainda é muito latente para repetir a dose, mas perante o cenário calamitoso na política nacional e o desastre bolsonarista, Gleisi se vê confortável para pregar a necessidade de acriticidade em torno de Lula. Estratégia que tem funcionado. Absolutamente ninguém do campo da esquerda questionou o silêncio do ex-presidente e da direção do partido em relação ao apoio da bancada do PT no senado à aprovação da PEC dos precatórios. Enfim… momentos...

Articular uma chapa com Alckmin não é lutar por governabilidade, ninguém acredita que tucanos, Amoedos, Liras, Pachecos, MDB e afins vão corroborar com o mesmo governo que articularam para destruir só porque o picolé de chuchu lá estará. 

Articular uma chapa com Alckmin é só um deboche a quem denunciou os Alckmins da política.

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*Esse artigo não representa, necessariamente, a opinião do CCN Notícias

Autoria
Jonathan Portela - Doutorando em História pela Universidade Estadual de Campinas, criador do Nota de Rodapé e na inquietude de ser brasileiro.
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