O caso envolvendo o comediante Március Melhem, em que é acusado de assédio sexual contra colegas de trabalho na Rede Globo, teve desdobramentos na semana que passou. A advogada Mayra Cotta, representante das supostas vítimas de assédio, falou à coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, afirmando que, segundo suas clientes, Melhem agia de forma violenta e usava de seu poder hierárquico de Diretor de Humor da Rede Globo para constrangê-las, chegando até, a trancá-las em salas para cometer o assédio.

Mayra Cotta conta que o caso teve desdobramento quando as vítimas denunciaram Melhem ao setor jurídico da emissora. No entanto, ficaram insatisfeitas com o procedimento interno tomado pela direção da Globo. A saída de Marcius Melhem da emissora ocorreu em agosto de 2019, que emitiu uma carta de agradecimento pelos 17 anos de parceria de sucesso com o ator e diretor da casa. A Globo não cita nesta carta as acusações de assédios feitas por seis atrizes da emissora. Só então, que as vítimas resolveram expor o caso à público.

A advogada revela a forma agressiva e sistemática com que Melhem se aproveitava da sua posição de Diretora de Humor para agir. “Houve um comportamento recorrente, de trancar as mulheres em espaços pequenos para tentar agarrá-las contra a vontade delas. De insistir e ficar mandando mensagens, inclusive, de teor sexual, para mulheres que ele decidia se iam ser escaladas ou não para trabalhar. De prejudicar as carreiras de mulheres que o rejeitaram. De ficar obcecado, perseguindo mesmo. Foi um constrangimento sistemático e insistente, muito recorrente”.

Estão arroladas no processo contra Marcius Melhem, as representações de seis vítimas de assédio sexual, outras de assédio moral, seis testemunhas  e um grupo de apoio formado pro cerca de 30 pessoas. As identidades, tanto das vítimas, quanto das testemunhas, são mantidas em sigilo.

O que diz Melhem

Após a repercussão da entrevista da advogada Dra. Mayra Cotta, o comediante e ex-Diretor de Humor da Rede Globo, Marcius Melhem, usou das suas redes sociais para se manifestar e negar as acusações que sofreu.

O humorista afirma que participou de um grupo de pessoas que usava o humor, justamente, no combate aos preconceitos e que combate cotidianamente o machismo “dentro de si, mesmo” e que ainda tem “muito a melhorar”. Segundo Melhem, “como escrever uma nota para comentar acusações dessa gravidade? Culpados e inocentes dizem a mesma coisa. Sou inocente. Vou provar na Justiça. Por isso, qualquer coisa que eu diga pode soar falsa de cara (...) mas, preciso falar e, com o tempo, mostrar minha sinceridade. Estou disposto a reconhecer meus erros, pedir desculpas e, se possível, reparar pessoas que eu tenha de qualquer forma magoado. Quero enfrentar isso com verdade e humanidade e me expor se for preciso”, escreveu.

Ainda pelas redes sociais, Marcius Melhem pede que a verdade seja apurada. Explica também que sua saída da Rede Globo foi de “comum acordo”. “(...) [na] rede Globo tudo foi apurado e investigado rigorosamente. Saí pela porta da frente da emissora em que trabalhei por 17 anos. Sei que, num caso desses, ainda mais no momento que vivemos, de tanto ódio, serei culpado até provar o contrário. Então, quero que tudo seja colocado às claras, expor a minha inocência e os meus erros. Quero poder pedir desculpas e cobrar responsabilidades. Vou em busca da verdade”, disse.

A Gobo

Com a saída de Marcius Melhem do cargo de Diretor de Humor e as limitação impostas pela pandemia da Covida-19, a programação de humor da emissora sofreu grandes transformações. O histórico programa “Zorra” anunciou que está na sua última temporada. A equipe do “Zorra” se juntou com as equipes de “Fora de Hora” e “Escolinha do Professor Raimundo”, atuais programas cancelados, em um grande núcleo sob o comando de Marcelo Adnet e Fernando Caruso.

OIT

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 52% das mulheres, economicamente ativas, já foram vítimas de assédio sexual no trabalho. O Ministério Público do Trabalho afirma que a subnotificação dos casos de assédio sexual ou a confusão com assédio moral ainda são grandes. Isso é decorrente de diversas barreiras e preconceitos que as vítimas enfrentam para denunciar, levando em consideração a estrutura cultural que impõe a culpa a si própria pela ocorrência do assédio.