Mais um episódio atrapalhado envolvendo a área econômica do governo e o presidente Bolsonaro serviu para deixar ainda mais evidente que, na disputa entre Paulo Guedes e o resto do Governo, o ministro de Economia e seu discurso liberal estão perdendo no momento.
O discurso de Paulo Guedes ainda conta com o apoio do mercado, que reagiu mal à bronca pública que levou de Bolsonaro ao recusar a proposta de acabar com o abono salarial para financiar o “Renda Brasil” – versão bolsonarista do Bolsa Família.
A verdade é que Bolsonaro não se preocupa muito sobre de onde virá o dinheiro para seus planos de reeleição. A princípio, foi convencido pelo presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por Paulo Guedes e pela pressão do mercado a só acrescentar novos gastos apontando a receita que seria usada para pagá-los – leia-se aumento de impostos ou da redução de gastos existentes.
Mas, todas as possibilidades que foram levantadas até agora são difíceis de colocar em prática e poderiam impactar negativamente o eleitorado mais bolsonarista. Enquanto o Ministro faz contabilidade financeira, Bolsonaro faz um cálculo político e corre o risco de enfraquecer seu eleitorado mais duro, ao buscar o que ele entende por “eleitores petistas”.
As três possibilidades de financiamento do “Renda Brasil”, cogitadas até agora pela equipe de Guedes são: acabar com o abono salarial, acabar com as deduções no Imposto de Renda ou através da criação da nova CPMF. Todas as opções gerariam um impacto duro na classe média e média baixa e, como nem Bolsonaro, nem Guedes sonham em desagradar o mercado taxando as fortunas, dificilmente Bolsonaro vai conseguir criar a sua “Renda Brasil” sem onerar a classe média.