"Para citar a diferença fundamental: o escravo não pode mudar de proprietário, escolher quem o explora; o operário pode mudar de emprego." Paul Singer

Uma das maiores tragédias da humanidade foi o nazismo.

Na entrada da prisão em Auschwitz, no sul da Polônia, tem uma inscrição em alemão "Arbeit Macht Frei" que significa "O trabalho liberta".

Os prisioneiros (na sua maioria judeus) chegavam para o campo de trabalho e estavam entrando num campo de extermínio.

Essa é uma das maldades humanas mais recentes, que rivaliza em crueldade com da escravidão de milhões de africanos e o genocídio das populações indígenas nas Américas.

Nos Estados Unidos de 1861 a 1865 houve uma guerra civil que, entre outras consequências, acabou com a escravidão.

No ano passado uma reportagem da revista de finanças Forbes abordou uma contradição da sociedade norte-americana atual, embora tenha um desemprego de 4,6% da força de trabalho, existem 10 milhões de vagas sem ocupação.

Para piorar (ou melhorar), 4 milhões e seiscentos mil trabalhadores pediram demissão.

É o maior movimento coletivo dos trabalhadores, desde a Segunda Guerra Mundial nesse país.

Os analistas da grande mídia, diziam que o auxílio financeiro de, aproximadamente, 1,200 dólares do governo federal durante a pandemia, era o responsável, mas com o término da ajuda, essa situação não se modificou.

A reportagem relata que existe um movimento anti-trabalho, organizado pelas redes sociais, que denuncia os baixos salários, os ambientes tóxicos de trabalho, a falta de garantias mínimas de direitos e um inconformismo generalizado com a desigualdade.

Esse movimento é desde a luta dos sindicatos por direitos (segundo pesquisa do Instituto Gallup, a aprovação dos sindicatos é de 68%), passa por boicote às festas de fim de ano das empresas, alta de greves sem precedentes na história e até os movimentos de extrema-direita xenófobos contra trabalhadores imigrantes.

Durante a pandemia, aumentou a valorização da vida familiar e comunitária, a tendência de redução do consumo (minimalismo) e a procura de qualidade de vida com menos horas de jornada.

A maior inflação dos últimos quarenta anos, o aumento da riqueza dos bilionários, o empobrecimento da classe média, a radicalização política e a criminalidade crescente, estão catalisando o movimento anti-trabalho.

Outro aspecto de combate do movimento anti-trabalho é o assédio organizacional das empresas com metas e cobranças descabidas que causam terror psicológico, estresse e um ambiente de trabalho tóxico.

A crescente informatização e automação também ameaça o futuro dos empregos e causa insegurança.

As disputas geopolíticas com a China e a Rússia aumentam a complexidade de uma economia globalizada e muito dependente de importações.

Tudo isso está gerando mudanças.

O comércio varejista passou de 7,50 para 17 dólares a hora e muitas empresas dão bônus de 3 mil dólares a cada três meses trabalhados.

No parlamento começaram as discussões de legislação trabalhista para o mercado de trabalho mais desregulado do primeiro mundo.

As empresas estão buscando chefias não abusivas, avaliadas pelos subordinados, punindo assédio moral e sexual, apoiando trabalho remoto em casa e até ajuda para cursar universidade.

As contradições no interior das empresas norte-americanas com o assédio institucional, sexual e moral estão sendo enfrentadas com a demissão em massa pelos trabalhadores e a denúncia nos fóruns das redes sociais.

As guerras no exterior vão continuar sendo uma tentativa de distração e coesão interna para superar essa crise?

A classe dominante reagirá com mais violência ou fará concessões?

O imenso aumento de produtividade vai continuar sendo apropriado por uma minoria cada vez mais rica?

Continuaremos prisioneiros da exploração do homem pelo homem?

E afinal, o trabalho liberta ou estamos indo para a câmara de gás?

Autoria
José Paulo Barbosa é professor, escritor e militante de causas sociais e ambientais.
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