Quando, há mais ou menos, quatro meses vazou na grande imprensa que havia conversas para a formação de uma Chapa “Lula-Alckmin” à presidência da República, algumas lideranças do PT apressaram-se em desmentir as conversas. Diziam que nunca se sentaram para conversar com o “companheiro” Geraldo Alckmin, mais conhecido nas hostes tucanas como “Santo”.
Alguns militantes petistas, inclusive, reagiram com veemência. “Isso é coisa da imprensa burguesa ou da Folha golpista”, diziam. “Eles querem nos dividir e fazer intrigas”, acusavam!
Bom, o tempo passou e o assunto, ao invés de murchar, passou a pipocar cada vez mais, incluindo na imprensa de esquerda. Não demorou muito, e começaram a surgir os primeiros rastros de que as conversas realmente foram feitas e, até hoje, continuam.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, já deixou claro sua simpatia e não fez questão de desmentir conversa alguma, nem com Alckmin e nem com o também ex-governador, Márcio França.
Aliás, Haddad e França sabem que se Alckmin, o líder de todas as pesquisas eleitorais para o Palácio dos Bandeirantes, abrir mão da candidatura para compor a chapa com Lula, ambos se beneficiam. Até porque, para quem acompanha a política, existe apenas uma vaga para o segundo turno. A outra já está definida; será um “poste” tucano e tudo indica para o vice-governador Rodrigo Garcia. É evidente que a máquina azeitada do PSDB vai colocá-lo no segundo turno, como sempre fizeram nos últimos 30 anos, queira ou não queira, goste ou não goste.
Claro. Essa engenharia política não será fácil. Márcio França e o PSB passaram a enxergar, a possibilidade de França ser o candidato da esquerda e passaram a exigir a retirada da candidatura Haddad, além de outras em alguns Estados.
Minha gente, isso não nos deve impressionar. Faz parte do jogo político. Todos nós sabemos que os programas partidários são apenas “uma carta de boas intenções” que servem para dizer ao final que “foi um acordo para o bem do Brasil”. Salvo raras exceções, os projetos políticos são colocados em primeiro plano. Para as alianças e coligações partidárias, o que vale, mesmo, são o pragmatismo e “quantos votos vamos ter”. Simples assim.
A verdade é que, chapa “puro sangue” não leva Lula à Presidência da República pela terceira vez. Ou seja, o PT está entre a cruz e a espada; ou monta uma chapa forte, igual a que fez em 2002, quando fechou com o PL de José de Alencar, para o desespero de alguns militantes ou a candidatura Lula repetirá os fiascos de 1994 e 1998, quando virou “cavalo paraguaio”.
Claro, o PT, Lula e as esquerdas estão mais experientes e calejados. Sabem que têm de ceder para chegarem novamente ao poder e expulsar os fascistas representados pelas candidaturas Moro, Bolsonaro e Dória.
O PT, Lula e as esquerdas sabem que têm um preço a pagar por isso. E não será barato, até porque o chamado Centrão continuará sendo o maior “partido” do Brasil com seus 300 picaretas ou melhor, Deputados Federais, e tudo indica com o Deputado Arthur Lira comandando a Câmara, novamente, em 2023.
O PT, Lula e as esquerdas precisam fazer uma grande bancada de Deputados Federais, definir a eleição no primeiro turno e iniciar 2023 sem precisar ceder tantos ministérios. Dessa forma, não ficaria refém nas mãos do Centrão, como aconteceu no segundo mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff. Só o PT, na época, perdeu 20 deputados federais, fragilizou o início da gestão e ficou nas mãos do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Há mais ou menos, dois meses o ex-presidente Lula visitou alguns Estados do Nordeste, sua principal base política. Reconciliou-se com algumas “velhas raposas” (inclusive com aqueles que ajudaram a apunhalar Dilma) para garantir apoio a sua candidatura. Espantosamente, o linguajar e golpismo sumiu o horizonte petista. Talvez agora, o preço a pagar não seja o Benedito, mas o Alckmin.
