O Sistema Único de Saúde (SUS) deixou de realizar 8 milhões de consultas médicas na cidade de São Paulo no ano passado em relação a 2019. Essa informação foi apresentada na audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. A audiência serviu para a prestação de contas do ano de 2020 da Secretaria Municipal de Saúde.

A redução drástica de consultas prenuncia um cenário problemático no futuro, mesmo porque das 8 milhões de consultas canceladas, 2,7 milhões seriam de urgência.

Com a justificativa de proteger pacientes e profissionais da saúde do risco de infecções da COVID-19, além de abrir mais vagas de leitos de UTI (Unidades de Terapia Intensiva) para receber pessoas contaminadas, o represamento deve trazer outras consequências graves, conforme previsões de especialistas.

Ao suspender os atendimentos, a gestão Bruno Covas (PSDB) estica o tempo de espera de consultas especializadas, cirurgias eletivas e realização de exames periódicos. Tratamentos adiados para a pós pandemia devem agravar a situação dos portadores de doenças crônicas. 

Pacientes que hoje precisam de acompanhamentos podem engrossar as estatísticas de óbitos, sobretudo por insuficiência renal ou cardíaca. Aliás, antes da pandemia, doenças cardíacas se constituíam na principal causa de mortes no Brasil. A média era de 390 mil vítimas ao ano. 

IABAS COM 78% – Na audiência pública chamou a atenção o tratamento privilegiado que o IABAS (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde) recebe da gestão Covas.

Os contratos de gestão com as Organizações Sociais e os convênios cresceram 22%, mesmo índice de gastos do orçamento geral. O repasse subiu de R$ 5,4 bilhões para R$ 6,5 bilhões.

É um aumento estranho, pois houve redução das consultas. Mais estranho ainda foi o repasse para o IABAS que registrou aumento ainda maior, de 78%. Ele recebeu em 2019 o montante de R$ 345 milhões. E em 2020 a gestão Covas repassou R$ 615 milhões. Indagado, o secretário de Saúde, Edson Aparecido, não explicou o valor pago ao IABAS. 

Justamente o IABAS, envolvido em escândalos no Rio de Janeiro e alvo de denúncias de irregularidades em São Paulo. Tanto que o Ministério Público recomendou no ano passado à gestão Covas não renovar os contratos de prestação de serviços nas regiões central e norte. O contrato da zona norte venceu dia 28 de fevereiro.

Mas, o Diário Oficial da véspera (27) publicou decisão prorrogando por um mês esse contrato. A Secretaria não conseguiu organizar novo chamamento público e a recomendação do MP não está sendo cumprida.

Nesta semana outra denúncia veio à tona.  O MP está apurando termo aditivo celebrado pela Prefeitura com o IABAS para administrar o Hospital da Bela Vista, região central, inaugurado há um ano.

De escândalo em escândalo, o IABAS continua atuar na cidade?

* Juliana Cardoso é vereadora (PT), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo.