A CCN tem certeza que você, leitor, já deve ter ouvido uma dessas razões para a volta ao trabalho, a abertura do mercado e, principalmente, a volta às aulas: “é preciso abrir as escolas, porque os pais precisam trabalhar e não têm com quem deixar seus filhos”. Ou ainda, “se as lojas, shoppings, empresas vão voltar a funcionar, por que não as escolas”? “Ah! já sei, é os professores que não querem trabalhar!”
Pois sabe que não há nada mais injusto do que esses argumentos. Primeiro, não ter com quem deixar o filho, enquanto trabalha, não é problema da escola. A escola tem outra finalidade; a da aprendizagem.
Segundo, achar que as crianças estarão a salvo do contágio do novo coronavírus na Escola, é não lembrar que as salas de aula do Ensino Fundamental e Infantil têm, no mínimo, 30 alunos sentados bem juntinhos um do outro. E as crianças não sabem manter distância, deixar de brincar com o coleguinha, não compartilhar material, passar álcool em gel nas mãos o tempo todo (até porque nem a rede municipal, nem a estadual foram abastecidas com esses materiais).
Terceiro, a hora do “recreio” é sagrada. É, praticamente, impossível suspendê-la, porque as crianças não conseguem ficar quatro horas dentro da sala de aula, sem um minuto para brincar.
Quarto, na escola aprende-se a solidariedade e a dividir a merenda entre os coleguinhas. E, agora, de uma hora para outra, tudo muda?
Quinto, quando as crianças vão ao banheiro, invariavelmente, é necessário acompanhá-las para verificar a correta higienização e, convenhamos, uma Escola não tem só uma turma de 30 alunos, mas muitas turmas, com muitas crianças.
Sexto, a Escola tem horário de entrada e saída, o que sugere aglomeração do começo ao fim.
Sétimo, os adolescentes do Ensino Médio também aglomeram-se, dividem o lanche e sentam-se próximos.
Oitavo, na Universidade, os jovens usam transporte, dividem apartamento, casa do estudante, vêm de diversas cidades o que traria ainda mais movimento e aglomeração para a cidade. Isso vale para as universidades federais e privadas.
Nono, se os adultos se incomodam com o uso das máscaras, quem, em sã consciência, acredita que as crianças e adolescentes vão conseguir usá-las por longo período?
Mas, ainda assim, tem àqueles que dizem: mas e os professores? Não interessa se eles precisam conter brigas entre alunos, acalmar quando alguma criança chora, cai ou se machuca. Não importa se, de uma hora para outra, as crianças que precisam da demonstração de afeto, vão deixar de receber o abraço e o beijo da prô! Não interessa se a professora tem que pedir ao aluno não tossir ou limpar o nariz sem proteção dele e dos outros. Não interessa se a professora tem que acompanhar a criança no banheiro, porque a criança quer vomitar ou está com dores de barriga e a mãe não atende ao telefone pra vir buscar o filho. Para essa gente, o professor e a professora não gostam de trabalhar, mesmo! Então, tanto faz se eles se expuserem ou não à contaminação e levá-la para casa.
É de espantar ouvir de um pai ou de uma mãe pedindo a volta às aulas e ter coragem de mandar seus filhos para a Escola, quando quase 1 mil pessoas já morrem por dia no Brasil.
Infelizmente, ainda não é o momento da volta às aulas.