As eleições municipais estão logo ali. Ano que vem, a população do maior município do País, São Paulo, elegerá o(a) Prefeito(a) e vereadores(as) para a Câmara Municipal. Um momento importante, quando se reafirma ou se rejeita conceitos, projetos e políticas públicas. E São Paulo, como espelho da macropolítica brasileira, precisa estar em evidência com lentes de aumento e olhos críticos da análise política.
Nesse sentido, nos próximos três artigos, analisarei o desempenho e o comportamento do paulistano nas eleições municipais, sobretudo, quanto à performance dos petistas e do Partido dos Trabalhadores – maior partido de esquerda do País, com grande influência popular e hoje, protagonista no governo federal.
Este primeiro artigo, abordarei as eleições de 2020, num contexto em que o PT apresentou-se rachado e dividido aos eleitores, anunciando um desastre perfeito. O segundo artigo, falarei sobre a preparação do Partido para as eleições do ano que vem. E o terceiro, ainda em construção, abordarei a dicotomia “as esquerdas unidas ou divididas e a necessidade de aprender com os acertos e erros da história”. Vamos lá.
Eleições de 2020
Em 2020, o PSDB, tendo Bruno Covas como candidato a prefeito, formou junto com o MDB e outros oito partidos, a Coligação “Todos por São Paulo”. O então vereador Ricardo Nunes (MDB) seria o candidato a vice-prefeito na chapa. Conferida as urnas, o tucano foi reeleito. A aliança política ampliou para 11 partidos (PSDB, MDB, PP, Podemos, PSC, PL, Cidadania, DEM, PTC, PV e PROS). Este acordo garantiu à Coligação o maior tempo de propaganda política nos meios de comunicação no primeiro turno. No entanto, não foi suficiente para conquistar a maioria de vereadores na Câmara. Das 55 cadeiras, a Coligação ficou com 25 (45%).
Bruno Covas (PSDB) e sua gigantesca coligação contava com estrondosos 14min e 56seg já no primeiro turno. No segundo turno, recebeu o apoio de Márcio França (PSB), mas não do Partido; de Celso Russomanno (Republicanos); de Joice Hasselmann (PSL) e de Andrea Matarazzo (PSD).
Já o candidato Guilherme Boulos (PSOL) foi para as ruas com sua campanha “Pra Virar o Jogo” e com míseros 1min e 16seg na TV. Mas, ao meu ver e aos olhos da esmagadora maioria dos analistas políticos, fez uma campanha diferente. Empolgante, com o apoio da juventude e das redes sociais, aproveitou-se do desgaste, do isolamento e das divisões internas do PT (incluindo abandonos), para colocar o seu PSOL, pela primeira vez na história, no segundo turno na maior cidade do Brasil.
O candidato Márcio França, da Coligação “Aqui tem Palavra”, formada por PSB, PDT, AVANTE e Solidariedade, e com um tempo excelente de 6min e 54seg chegou em terceiro lugar.
Celso Russomanno, o eterno candidato à Prefeito de São Paulo, compôs a Coligação “Aliança Por São Paulo”, formada por Republicanos e PTB. Tinha 3min e 41seg na TV. Ao final, amargou a quarta colocação.
Arthur do Val, mais conhecido como Mamãe Falei, do Patriotas, mesmo com apenas 1min e 11seg conseguiu fazer uma campanha neoliberal voltada para jovens da classe média e da periferia. Sua propaganda ufanista dizia que “todos podiam vencer com seus próprios esforços e se tornarem microempreendedores”. O candidato afirmava, em outras palavras, que a pauperização das relações de trabalho era um “avanço” para a juventude e a solução para o desemprego.
E Jilmar Tatto, candidato do PT?
O candidato petista tinha um excelente tempo de 4min e 48seg. No entanto, vários fatores contribuíram e “conspiraram” para que ele e o PT tivessem o pior resultado eleitoral da história. Porém, para analisar esses fatos, é preciso voltarmos para 2019 e início de 2020.
O PT tinha sete pré-candidatos à Prefeitura: Jilmar Tatto, Alexandre Padilha, Carlos Zaratini, Eduardo Suplicy, Paulo Teixeira, Nabil Bonduki e Kika da Silva. As lideranças do Partido estavam divididas entre essas candidaturas. E foi com a anuência e, até certo ponto inconsequente, do Diretório Municipal que essa complicada questão política foi sendo “empurrada com a barriga”. Todo mundo olhava somente para o seu umbigo e, consequentemente, seus próprios projetos pessoais. Conclusão: os postulantes à Prefeitura e o DM perderam o “trem da história”. Ou melhor, o tempo político para construir uma candidatura que unificasse o PT e formasse uma coligação forte capaz de disputar as eleições de 2020 com reais possibilidades de vitória.
Vamos mandar a real: o Diretório Municipal do PT, todo pulverizado e sem coragem política, não realizou os debates entre os candidatos adequadamente com a militância. Não conseguiu marcar as prévias ainda para 2019, mas só para um longínquo 22 de março de 2020. Como resultado, a militância assistiu o atestado desastroso da derrota sendo construído e que estava por confirmar-se.
No dia 16 de março, às vésperas das prévias marcadas, o Diretório Municipal decidiu pelo óbvio, já que, devido à pandemia da Covid-19, não haveria condições de realizar as prévias com toda a militância; marcou uma escolha de forma virtual com a participação de somente os 46 membros do próprio DM para o dia 30 de abril. Evidentemente, os pré-candidatos recorreram desta decisão e o Partido aprofundou-se em uma crise política interna sem precedentes.
Mas, como acontece na saída do período escolar, já na porta da Escola, a Direção tem que mandar chamar o pai e a mãe do aluno para resolver a confusão que, invariavelmente, acontece, no PT não é diferente. No caso, chamaram os “caciques” Lula (o líder máximo) e Gleise Hoffman (Presidenta Nacional do PT). Ambos “bateram o martelo” e puxaram as orelhas dos “briguentos”. Criaram um “meio termo”; o candidato (que teria o privilégio de ser derrotado em outubro de 2020) seria escolhido por meio de eleição virtual pelos membros do Diretório Municipal e pelas Direções dos Diretórios Zonais do Partido. O Colégio Eleitoral, de aproximadamente, 615 eleitores(as) substituiu os filiados ao PT e, mais uma vez, o partido empurraria com a barriga a definição do seu candidato, para 16 de maio de 2020.
Como um passe de mágica, cinco pré-candidatos abandonaram a disputa e declararam apoio, respectivamente, a dois candidatos: Jilmar Tatto e Alexandre Padilha. O primeiro ganhou a “eleição” por 15 votos de diferença (312 a 297), com um voto em branco.
O PT pagou caro por sua irresponsável demora em escolher o candidato. Não conseguiu fazer alianças e nem formar Coligação. Montou uma chapa “puro sangue”, tendo como vice o Deputado Federal Carlos Zaratini. O PT saiu sozinho e dividido. Era o prelúdio do desastre. Para completar a hecatombe, vários militantes e candidatos à Câmara Municipal abandonaram formal ou informalmente a candidatura de Jilmar Tatto. É possível verificar que houve até quem fizesse dobrada, com “santinho e redes sociais e tudo”, com o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Quando foram cobrados internamente, alegaram que eram “atos espontâneos da base da militância” e que “foram eles, com seus próprios recursos que recorreram às gráficas para imprimirem os materiais”. Conclusão, o PSOL foi, pela primeira vez, ao segundo turno das eleições na maior cidade do Brasil e o PT, e Jilmar Tatto, acabaram na sexta posição. A pior de toda a história. Seguiu-se com a terceira diminuição seguida da bancada de vereadores com apenas 8 eleitos. Em 2016, foram 9. Em 2012, foram 11 vereadores eleitos.
Para piorar mais ainda, essa desastrosa campanha mostrou uma queda acentuada dos votos na legenda e nos candidatos nominalmente. Quer dizer, o partido enfraqueceu-se em suas próprias bases.
Não percam a segunda parte dessa análise.
ELEIÇÃO PREFEITO: 1º Turno 2020
|
Candidato (a) |
Votos |
Porcentagem |
Partido |
1º |
Bruno Covas |
1.754.013 |
32,85% |
PSDB |
2º |
Guilherme Boulos |
1.080.736 |
20,24% |
PSOL |
3º |
Márcio França |
728.441 |
13,64% |
PSB |
4º |
Celso Russomanno |
560.666 |
10,50% |
REPUBLICANOS |
5º |
Arthur Do Val Mamãe Falei |
522.210 |
9,78% |
PATRIOTA |
6º |
Jilmar Tatto |
461.666 |
8,65% |
PT |
7º |
Joice Hasselmann |
98.342 |
1,84% |
PSL |
8º |
Andrea Matarazzo |
82.743 |
1,55% |
PSD |
9º |
Marina Helou |
22.073 |
0,41% |
REDE |
10 |
Orlando Silva |
12.254 |
0,23% |
PC do B |
11 |
Levy Fidelix |
11.960 |
0,22% |
PRTB |
12 |
Vera |
3.052 |
0,06% |
PSTU |
13 |
Antônio Carlos |
630 |
0,01% |
PCO/SUB JUDICE |
|
Eleitorado Apto a Votar |
8.986.687 |
100% |
|
|
Comparecimento |
6.354.100 |
70,71% |
|
|
Válidos |
5.338.156 |
84.01% |
Votos Válidos: 99,99% Sub Judice: 0,01% |
|
Brancos |
373.037 |
5.87% |
|
|
Nulos |
642.277 |
10.11% |
|
|
Abstenções |
2.632.587 |
29.29% |
|
ELEIÇÃO PREFEITO: 2º Turno 2020
|
Candidato (a) |
Votos |
Porcentagem |
Partido |
1º |
Bruno Covas |
3.169.121 |
59,38% |
PSDB |
2º |
Guilherme Boulos |
2.168.109 |
40,62% |
PSOL |
|
Eleitorado Apto a Votar |
8.986.687 |
100% |
|
|
Comparecimento |
6.217.508 |
69,19% |
|
|
Válidos |
5.337.230 |
85,84% |
|
|
Brancos |
273.216 |
4,40% |
|
|
Nulos |
607.062 |
9,76% |
|
|
Abstenções |
2.769.179 |
30,81% |
|
Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do CCN Notícias