O “Movimento Metrô Brasilândia Já!” realizará mais um ato público neste sábado, dia 5, às 14 horas, pela imediata retomada das obras paralisadas da Linha 6-Laranja do Metrô. A manifestação será em frente às obras da futura Estação João Paulo I, na Praça Giovanelli Luigi, ao lado do Cartório da Freguesia do Ó.

A Linha 6-Laranja, que liga a Estação do Metrô São Joaquim (Linha 1-Azul), na zona central, à Brasilândia, na Zona Norte, passando pelo Bixiga e pela Lapa, está paralisada há quatro anos. Inicialmente, os responsáveis pela obra era a parceria público-privada, a chamada PPP, entre o governo do Estado e o Consórcio Move SP, que iniciou a obra em 2015, mas paralisou o andamento um ano depois, porque não conseguiu cumprir o acordado e rompeu o contrato.

O governo, ao invés de retomar a obra para si, repassou o empreendimento, sem fazer licitação, para a empresa espanhola Acciona, que também tem em seu histórico uma série de obras não concluídas, por não conseguir cumprir o acordado. É o caso do trecho norte do Rodoanel e em obras do Metrô de Fortaleza, CE. O Movimento teme que a espanhola Acciona também vá paralisar as obras em pouco tempo.

A CPTM já anunciou que a empresa só retomará as obras em 2021. A empresa promete concluir tudo em cinco anos, sem entregas parciais. Enquanto isso, é possível verificar a falta de segurança, o acúmulo de lixo e entulho nos terrenos abandonados pelo governo do Estado.

Ênio Silva, um dos coordenadores do Movimento Metrô Brasilândia Já, criticou o modelo de parceria adotado pelo Estado para construir e manter o Metrô. “Quando fomos investigar o porquê as obras do Metrô estavam paralisadas pelo Consórcio Move SP, descobrimos que havia um inquérito no Ministério Público e multas aplicadas pelo Tribunal de Contas. A parceria era de um lado só. O governo do estado investiu todo o recurso possível para viabilizar a obra, incluindo infraestrutura, enquanto que a empresa não entrou com nenhum centavo. Na verdade, é uma privatização disfarçada da linha do Metrô”, disse em uma live realizada em outubro.

Já o diretor do Sindicato dos Metroviários, Ricardo Senese, também acredita na intenção do governo de privatizar a Linha 6 – Laranja. “O governo já privatizou 16 postos de bilheterias e prepara a empresa para o fechamento ou a privatização. Dessa forma, tudo o que o Metrô arrecadar irá para o bolso da empresa e não necessariamente reverterá em investimentos de infraestrutura”, diz. No caso da Linha 6-Laranja, tudo o que for arrecadado iria para a matriz da empresa espanhola. Em crítica à privatização das linhas do Metrô, Ricardo aponta o caso da Linha 15 do Monotrilho que liga Vila Prudente a São Mateus. “Custou ao Estado R$ 5 bilhões e foi leiloado à iniciativa privada por R$ 169 milhões”, em enorme prejuízo aos cofres públicos.

Para o diretor do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, Nestor Tupinambá, que trabalhou no planejamento e construção da Linha 2-Vermelha (antiga Leste-Oeste) nos anos 80, esse modelo torna a obra muito cara. Cita exemplos que viu e conheceu de perto, como as dos Metrôs de Londres, Paris, Moscou e, até de Nova York, que está sob controle do Estado. “O certo é a empresa pública construir o que prometeu e arrecadar pelo bem que proporcionou, tornando o sistema rápido, eficiente e de custo acessível e justo. Mas, uma empresa privada não está interessada nisso”, avalia. “Quando construímos a linha Leste-Oeste, o Metrô melhorou muito a vida das pessoas, porque pensamos na infraestrutura local, como saneamento, duplicação de ruas, construção de creches, pontes, diminuição do número de acidentes e, portanto, de internações, desafogando a rede pública de saúde. Mas, isso exigiria um grau de articulação muito grande com as autoridades e as empresas privadas não estão nenhum pouco interessadas nisso. Só querem saber do lucro”, finaliza.