Na última semana do ano, esse texto busca refletir nossa trajetória ao longo do ano de 2021. É um esforço bastante clichê, pois a maioria de nós realiza esse exercício quando chegamos às vésperas de um novo ano.

Trilhamos uma jornada que basicamente teve início em 2020, com a eclosão de uma pandemia, algo que a maioria de nós nunca havia vivenciado. Ao longo da História outras experiências como a atual dilaceram sociedades, economias e, obviamente, vidas.

O início da pandemia em 2020 exigiu do ser humano bravura para sobreviver ao desemprego que assolou nosso país, desgaste econômico, político e é claro, foi necessário conviver de forma dolorosa com a perda de pessoas próximas ou de indivíduos que não conhecíamos, mas que fizeram parte do grande espetáculo da morte que tomou conta do Brasil em forma de números nos jornais e notícias diárias.

O ano de 2021 e a promessa de vacina deu um pequeno sentimento de esperança que logo foi contestado pela demora e ineficiência de uma boa campanha de vacinação, pouco incentivada pelo governo federal. Com o avanço da pandemia e ao longo do ano da vacinação, nós fomos confrontados com outras questões de extrema gravidade. Nesse ponto, houve uma intensa contestação em relação à ciência e discussões que se mostraram retrógradas, em um país que até recentemente possuía tradição na produção de vacinas, tornaram-se recorrentes. As chamadas fake news sobre os efeitos das vacinas se alastraram aumentando o número de não vacinados no país, o que aumentou a possibilidade de novas variantes surgirem e circularem entre a população.

Em meio ao caos no âmbito das ideias também foi escancarado como a pandemia foi utilizada em um jogo político para aumentar chances de possíveis presidenciáveis, enquanto isso uma CPI sobre a pandemia foi instalada promovendo dias polêmicos entre políticos e constatando em seu relatório final diversos crimes cometidos pelo governo federal.

Além da pandemia, a sociedade brasileira viu o aumento violento e revoltante dos preços de alimentos, gás e combustíveis, crise energética em alguns estados do país, ao passo que o desemprego continuou chegando a níveis alarmantes, bem como a fome. Manifestações foram realizadas ao longo do ano polarizando opiniões e marcando oposições políticas bastante evidentes.

O fim do ano não trouxe sentimentos de esperança e superação, mesmo com a vacina que mostrou-se eficaz e diminuiu o número de mortos e internações, a população ainda convive com a incerteza do que enfrentará no próximo ano. Inclusive, tais incertezas nos levam a refletir sobre o processo eleitoral que será realizado. O ano de 2021 evidencia a falência de diversos aspectos políticos, problemas sociais e econômicos não superados. Contudo, as próximas eleições não podem ser romantizadas e o eleitor não pode simplesmente sentar à espera de um salvador.

O ano trouxe a necessidade de mais empatia com a vida, a urgência de mais conhecimento nas escolas e no cotidiano, maior posicionamento crítico e ao mesmo tempo, nos alertou de que nosso país é facilmente influenciável pela desinformação, crendices e informações sem qualquer embasamento que circulam nas redes sociais.

Assim, o próximo ano que chegará em poucos dias não pode ser visto com meras esperanças superficiais de superação, mas como a continuação de um cenário caótico que vai exigir do cidadão ainda mais comprometimento com seu país, agora sem idealizar candidatos políticos, mas com uma visão mais crítica e real desse contexto.

*Originalmente publicado no Nota de Rodapé, um espaço de crítica e construção do conhecimento das Ciências Humanas, assim como um lugar para promover os debates ligados a pesquisa científica. Siga-o no Instagram @nota_de_rodape

Autoria
Aline Ribeiro é Mestre em História pela Universidade Federal de São Paulo e aluna de doutorado pela Universidade de São Paulo. Atualmente, trabalha como professora de História em escolas de Ensino Fundamental II e Médio.
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