O combate ao Covid-19, ainda sem remédio ou vacina para a cura, tem sido, principalmente, o isolamento social. Dessa maneira, elimina-se o risco do contágio dos sadios e dos que estão no grupo de risco. No entanto, essa permanência forçada em casa evidenciou situações que pouco se fala, para além da desigualdade social que insiste em gritar em nossa cara: uns que, mesmo em casa, têm direitos garantidos, e outros que precisam trabalhar fora dela, sejam por pressão de seus chefes, por medo do desemprego, ou por falta de auxílio do governo.

Nessa nova realidade, estão duas funções exercidas majoritariamente por mulheres e fundamentais para a sociedade, as profissionais de enfermagem e as educadoras.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e a Fundação Oswaldo Cruz, 84,7% dos auxiliares e técnicos de enfermagem em todo o País são constituídos por mulheres. Ao redor do mundo, 70% são mulheres. São profissionais que atuam na linha de frente contra o Covid-19. São as primeiras a terem contato com os pacientes e, portanto, também as que mais sofrem com a pandemia. 

Segundo os últimos números confirmados, divulgados dia 27 de abri, mais de 4 mil profissionais da enfermagem afastaram-se de seus postos devido a infecção pelo coronavírus. Desses, 57 morreram, sendo 32 mulheres (56%).

Na educação, a situação é a mesma. Também tem o rosto e o corpo de mulher. Segundo o Censo Escolar, divulgado em 2018, 80% de docentes na Educação Básica é constituída por mulheres. As escolas, como todos sabem, foram as primeiras a sentirem o impacto. Por serem pontos de aglomeração, as aulas foram suspensas, o calendário escolar alterado e, até última ordem, sem previsão de volta. Assim, as professoras, agentes escolares, merendeiras e funcionárias da limpeza (a maioria nas escolas) tiveram que se adaptar à nova realidade e ao medo de perder o emprego. Além disso, essas profissionais, mães e pais tiveram que assimilar a nova rotina, mantendo suas crianças e adolescentes em casa, muitas vezes sem tecnologia para atividades online.

Embora o modelo atual de sociedade imponha o desmerecimento à grande maioria dos trabalhadores, principalmente às funções consideradas “femininas” (por serem consideradas menores, sem grandes habilidades para sua realização), nessa pandemia temos dois exemplos bem ao contrário. Mulheres na luta pela saúde e educação; eixo central na vida de qualquer um.

Fique em casa!

 

Thaís Linhares

É Cientista Social e mestranda da Unesp