O “Coletivo Espíritas à Esquerda”, um dos muitos grupos de espíritas progressistas organizados em todo o país, acaba de divulgar um manifesto sobre as eleições do próximo dia 2 de outubro. O Coletivo apresenta sete motivos pelos quais os espíritas de todo o Brasil não devem votar em Jair Bolsonaro nas próximas eleições. Dentre eles, que o espiritismo tem caráter progressista, como diz o próprio decodificador da doutrina, Alan Kardec; que ninguém deve morrer de fome ao contrário do que acontece no Brasil; que o direito à vida é imprescindível e, portanto, os espíritas devem se opor à disseminação de armas; por fim, que a justiça preconizada pelo espiritismo consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.

Leia a íntegra do manifesto

“Nós, espíritas, abaixo-assinados, vimos ao público em geral e às comunidades espíritas em particular para nos posicionarmos sobre a eleição presidencial de 2 de outubro de 2022 afirmando que os espíritas NÃO devem votar no atual presidente da República. E tal posicionamento se dá em função de:

  1. O espiritismo possuir caráter essencialmente progressista, conforme textos de Kardec, como se lê, por exemplo, em “A gênese”, nos itens 10, cap. IV; 56, cap. XVII; e 24, 25, 28 e 30, cap. XVIII. E esse caráter progressista, colocado como lei no cap. VIII da parte III de “O livro dos espíritos” (LE), está ligado ao respeito e ao fomento das ciências, incluindo as ciências sociais, e a educação como base de nossas relações;
  2. Que “numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”, como afirma a resposta à questão 930 de “O livro dos espíritos”, mostrando-nos que a justiça social é parte indissociável das propostas espíritas, pois “Deus fez o homem para viver em sociedade” (LE766) e que “todos devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente” (LE767).
  3. Que o primeiro de todos os direitos naturais é o de viver, como nos diz a resposta à questão 880 de “O livro dos espíritos”, e que tal direito é oposto à disseminação de armas e à falta de cuidados com a saúde da população;
  4. Que o compromisso com a vida se estende necessariamente aos seres que compartilham conosco o planeta que nos acolhe, sendo, portanto, essenciais o cuidado e a manutenção de todos os biomas naturais para a preservação da fauna e da flora;
  5. Que o espírito imortal não tem sexo, gênero, etnia ou nacionalidade e que, portanto, torna-se premente a superação da discriminação social que aflige grande parte da população, como o racismo, a LGBTfobia, o machismo, o capacitismo e todas as demais formas de discriminação e preconceito;
  6. Que a “justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais” (LE875) e que “o forte deve trabalhar para o fraco. […] É a lei de caridade” (LE685), não sendo possível, portanto, pactuar com a contínua e opressiva cassação de direitos básicos de trabalhadoras e trabalhadores; e
  7. Que, como a laicidade do estado é um pilar das sociedades contemporâneas, as pautas sociais discutidas nos parlamentos e na própria sociedade devem-se pautar exclusivamente pela ciência e pelo interesse social, excluindo-se quaisquer interferências de credo nesse debate.

Diante dessas premissas fundamentais do espiritismo e do fato de o atual presidente não se alinhar a NENHUM desses princípios, entendemos que o avanço da sociedade brasileira só será possível mediante a superação desse trágico momento social em que vivemos no Brasil e que isso passa necessariamente pela NÃO reeleição desse grupo ora no poder, pois o amor ao próximo e a justiça social estão justamente no seu lado oposto.”

Como surgiu o Coletivo

O grupo formou-se no início de 2016, quando o clima de polarização política no país já dava sinais de que um golpe contra a presidenta Dilma Rousseff estava em andamento. As casas espíritas de modo geral também contaminaram-se ao iniciarem discursos de apologia e de caráter conservador ao que viria se concretizar no golpe.

Sentindo-se isolados, espíritas baianos deram o primeiro passo para romper com a ordem estabelecida e criaram um pequeno coletivo com perfil progressista. Desde então, e, a partir da cisão definitiva ocorrida em 2018, o grupo cresceu, organizou-se e deu origem ao Coletivo Espíritas à Esquerda, com atuação consolidada em 17 Estados.

Para um dos fundadores do Coletivo, Sérgio Maurício Pinto, “os espíritos em ‘O Livro dos Espíritos’, bem como o anúncio do reino feito por Jesus, são necessariamente transformadores, revolucionários", ao citar a obra fundamental à doutrina espírita escrita no século XIX pelo francês Allan Kardec.

“Eles ensinam o tempo todo que o nosso dever é lutar por uma sociedade de justiça social, de igualdade de direitos. Então, todo discurso conservador, reacionário, discriminatório, preconceituoso, como nós temos visto dentro desse movimento espírita hegemônico, na verdade, é uma farsa, uma mentira”, explica Sérgio.


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