A colaboradora do CCN Notícias, Daiane Sousa, esteve em Macapá, capital do Amapá, e relata como a população enfrenta dias seguidos de escuridão.
Sem energia elétrica desde terça-feira (3), o estado do Amapá vive dias de tensão. Um incêndio que ocorreu na principal subestação do Estado levou ao desligamento automático da linha de transmissão Laranjal/Macapá e das usinas hidrelétricas de Coaracy Nunes e Ferreira Gomes. O fogo tomou conta da subestação e afetou os serviços de eletricidade para quase 90% da população. 13 dos 16 municípios do Estado ficaram sem energia. A subestação pertence à empresa espanhola Isolux, porém são técnicos da Eletrobras que resolvem o problema.
Moradores de Macapá têm relatado que a queda da energia gerou falta de água, de alimentos, o encarecimento de produtos, dificuldade para encontrar itens básicos, sem mencionar os problemas de comunicação percebidos por todo o Estado. A falha vem afetando o funcionamento das redes de telefonia fixa, móvel e de internet, que tem funcionado de maneira precária. Na cidade, é possível ver inúmeros postos de gasolina fechados, apenas os que possuem gerador conseguem continuar abastecendo. Sem acesso a caixas eletrônicos e sem energia para o funcionamento de máquinas em estabelecimentos, só quem já tinha dinheiro consegue fazer compras. E na busca por energia, macapaenses fazem fila em volta de tomadas, o que gera aglomeração.
O Ministério de Minas e Energia previa o restabelecimento do fornecimento de energia para 15 dias, agora prometem a resolução em até dez dias, mas a demora para encontrar soluções tem sido alvo de protesto dos moradores do Estado. As perdas causadas pelo apagão se somam às perdas que o Estado já teria devido aos efeitos do isolamento social em prevenção à Covid-19. Em março, com o início da pandemia do novo coronavírus, o comércio foi paralisado, retornando semanas depois. No dia 28 de outubro de 2020, o Prefeito de Macapá, Clecio Luis (sem partido), havia assinado o Decreto Nº 3.431/2020, intensificando as medidas de isolamento devido ao aumento de casos no município. Pequenos comerciantes, pescadores e toda a população afetada pela falta de energia perderam todas as comidas e estoques que precisavam de resfriamento para não estragar. O prejuízo está sendo enorme.
A Prefeitura de Macapá decretou Estado de Emergência na cidade na última quinta-feira (5), válido por 30 dias. Segundo a administração municipal, o decreto 3.462/2020 entrou em vigor com o objetivo de adotar medidas emergenciais para que sejam adquiridos outros tipos de insumos, atendendo a população e amenizando problemas ocasionados pela falta de energia.
Com a situação, Hospitais passaram a depender de geradores. Minha irmã, Daniele de Sousa, moradora da cidade, deu entrada no Hospital São Camilo na noite de quarta-feira (4) para dar luz ao seu primeiro filho. A situação era inimaginável. Mesmo no Hospital, a energia não funcionava constantemente. Ao chegar lá, estava tudo escuro. Apenas algumas recepções funcionavam com luzes de emergência, a televisão estava ligada no noticiário e nenhuma tomada no espaço funcionava. O outro aparelho ligado era o computador da recepção. Segundo minha mãe, Veny Sousa, o Centro Cirúrgico continuava funcionando, assim como algumas outras alas, mas quando elas chegaram, o espaço que minha irmã deveria ficar após o parto – a Enfermaria – não estava com energia. A enfermeira responsável pediu para que ela ficasse no pré-parto. Às 22h e 52 minutos o meu sobrinho veio ao mundo (para esse mundo caótico). Com todos os procedimentos necessários, quando minha irmã precisou se dirigir para a Enfermaria já era mais de meia noite e o local se encontrava com luz. Mas a oscilação é constante e ela, assim como outras mulheres, precisaram trocar de quarto, pois a central de ar parou de funcionar.
A partir da sexta-feira (6) teve início na cidade um rodízio de 6h de energia entre os bairros, mas ainda é difícil perceber alguma melhora e muitos bairros continuam relatando nenhum acesso à energia. O governo do Amapá informou em redes sociais que o fornecimento está sendo parcialmente restabelecido desde a madurgada de sábado, porém que será necessário fazer racionamento nos próximos dias. A água, no entanto, continua sendo um problema. Em lugares que tem poço, os moradores estão tentando conseguir bombas e geradores para retirar a água.
Empresas, órgãos públicos e entidades do Estado do Pará tem recolhido donativos para o Estado vizinho, na tentativa de diminuir as necessidades dos atingidos pelo apagão. A Cervejaria Paraense Cerpa e a distribuidora JC, no Amapá, estão fazendo a doação de pacotes de água e de guaraná para hospitais da região metropolitana amapaense. A base da companhia aérea Azul tem recebido doações, como água mineral e alimentos não perecíveis, as quais devem ser encaminhadas para a Defesa Civil do Amapá, ajudando as pessoas impactadas pela falta de energia no estado.
Hoje (8), a minha irmã teve alta do Hospital e retornou para uma casa que se encontra sem água e sem energia há cinco dias com um bebê recém-nascido nos braços e é praticamente impossível encontrar água para comprar na cidade ou nas cidades vizinhas. Esses são relatos de uma família que se encontra em Macapá, apenas uma. O que será que as outras 765 mil pessoas afetadas por essa crise estão passando?
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