Dois fatos graves ocorreram em campos de futebol no final de semana que passou. Ao observá-los e entendê-los ficam duas lições que devemos levar conosco. Uma pelo lado positivo e outra pelo negativo. Primeiro, pelas atitudes sábias que deram desfecho aos fatos e, segundo, pelas tolices que cartolas do nosso futebol e o poder público conservador continuam cometendo.
Primeiro fato: o sub-20 das equipes do São Paulo e Palmeiras entraram em campo, no último dia 22 de janeiro, pelas semifinais da Copa São Paulo de Futebol Júnior, mais conhecida como “Copinha”. A partida foi em Barueri, SP, na Grande São Paulo.
Em campo, o Palmeiras ganhou a partida e classificou-se para a grande final contra o Santos, nesta terça-feira, 25, dia do aniversário de São Paulo. O destaque não foi a classificação do Palmeiras, mas o que aconteceu nos minutos finais do jogo; a invasão de torcedores do São Paulo, a tentativa de agressão a jogadores do Palmeiras e uma faca ou punhal que o árbitro da partida teria encontrado em campo no momento da invasão.
Já se fala, inclusive, em impedimento do São Paulo de disputar por, pelo menos, cinco edições da Copinha, como punição.
Durante a invasão, uma grande surpresa dentro de campo; os jogadores do São Paulo contiveram os invasores e impediram que agredissem seus pares palmeirenses. É preciso destacar a coragem do jovem garoto do São Paulo, Caio Matheus, de apenas 17 anos, que enfrentou e segurou um brutamonte são paulino que, inexplicavelmente, queria agredir o time adversário.
Caio Matheus, ao conter o agressor, duas vezes maior que ele (foto), deu um exemplo de cidadania, ao evitar a agressão e demonstrar cuidados com a vida dos seus companheiros de profissão.
O segundo fato ocorreu em outro jogo, desta vez pelo Campeonato Pernambucano. Náutico e Ibis se enfrentavam no Estádio dos Aflitos, em Recife, PE, quando um torcedor do Náutico foi flagrado com um teste de Covid-19 positivo no meio dos torcedores. O “esperto” publicou em suas redes sociais uma foto sua junto com o resultado positivo (foto), além de provocações e deboches. Não há outro adjetivo se não chama-lo de “assassino” em potencial.
A diretoria do Náutico foi avisada pelos próprios torcedores do time sobre o perigo que situação representava e, imediatamente, acionou a Polícia Militar que deu ordem de prisão ao sujeito.
São dois fatos que nos comprovaram que, em hipótese alguma, devemos tolerar qualquer tipo de violência física ou psicológica. E aí, louvores para o jovem Caio Matheus e aos torcedores conscientes do Náutico.
Mas, por outro lado, os fatos nos revelaram dois absurdos: a adoção da torcida única (no caso do jogo entre Palmeiras e São Paulo, quando só a torcida do São Paulo teve acesso à partida), que não resolve problemas de violência entre torcidas. Apenas, serve para que o Ministério Público e a Polícia Militar lavem as mãos e digam que “fizeram sua parte”. A torcida única apenas mascara a discussão sobre a violência no futebol brasileiro. E anotem aí, a violência poderá acontecer em maior grau nessa terça-feira se algo não for revisto pelas autoridades. Os arquirrivais Palmeiras e Corinthians jogarão quase ao mesmo tempo na cidade. O Palmeiras pela final da Copinha, e o Corinthians pelo início do Campeonato Paulista.
Mas, fico com as atitudes positivas que nos dão a esperança que há luz no final do túnel. Enquanto tivermos jovens, como Caio Matheus, e torcedores conscientes, como aqueles do Náutico, com atitudes cidadãs e corajosas há que se supor que uma outra sociedade é possível.