Então...assisti ao filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. Confesso que estava receoso e evitando em vê-lo, porque sabia que, para mim, seria um filme que mexeria com as coisas do coração e iria provocar grandes emoções. Mas, fui. E compartilho aqui, minhas impressões sobre essa maravilha, brilhantemente interpretada por Fernanda Torres, Selton Mello e elenco.
Dividi o filme em três blocos. Três atos cronológicos, digamos assim.
Primeiro, os “anos de chumbo”. Retrata a ditadura militar no Brasil, em especial o início dos anos 70, com o ditador Emílio Garrastazu Médici no auge da repressão política. Assistir uma mulher como Eunice Paiva (Fernanda Torres) mantida presa, incomunicável, sendo torturada por todas as formas, físicas e psicológicas, durante 12 intermináveis dias, numa prisão foi devastador, impactante, cruel, desumano e tenso. E pior, foi apenas um dos lados terríveis do que foi a ditadura militar.
Segundo, “25 anos depois”. A história avança no tempo e mostra Eunice Paiva, agora recomeçando sua vida em São Paulo, em 1996, aos 48 anos de idade. Formada em Direito, Eunice trabalha na defesa das causas do Direitos Humanos e das terras dos povos originários contra os grileiros. Eis que novo impacto me toma por completo; ela recebe o Atestado de Óbito do companheiro Rubens Paiva (Selton Mello). Seu semblante de alívio é de arrepiar. A cena é linda. Ela e seus filhos, sentados à mesa, brindam o fim do pesadelo que perdurara 25 anos.
Terceiro, “o Alzheimer”. Aqui, quase derreti. O tempo avança mais um pouco e vamos para 2014, na ordem cronológica do filme. Eunice Paiva (agora interpretada por Fernanda Montenegro), com Alzheimer, e família tiram uma foto e, com delicadeza, mas com força e resignação dizem “Vamos sorrir”.
Saí, definitivamente, impactado do cinema. E, como já era de se esperar, refletindo sobre algumas coisas. Foi o governo federal que reconheceu e instalou a Comissão Nacional da Verdade, exatamente para localizar e dar informações sobre o paradeiro acerca de 20 mil brasileiros(as) sequestrados, torturados e, muitos deles, mortos. A grande maioria desaparecidos. Isso mesmo, 20 mil Eunices Paivas/Rubens Paivas sumiram, desapareceram durante a ditadura militar.
Novo pensamento passa pela minha cabeça. Entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, mais precisamente, no dia 8 de janeiro de 2023, quase aconteceu tudo isso novamente. Um golpe de Estado no Brasil. Uma nova ditadura militar, para continuar sequestrando, torturando, matando e ou desaparecendo com quem ousava criticar o regime militar. Pessoas eram jogadas em alto mar, enterradas em valas comuns, como a Vala de Perus, ou simplesmente, incinerados ou enterrados nas florestas.
Portanto, é “Sem Anistia” para os criminosos de 8 de janeiro. Nós estamos aqui para não deixar isso acontecer de novo.