O descaso e negacionismo do governo Bolsonaro na condução da pandemia da Covid-19 no Brasil é vergonha internacional. O governo federal mantém o país em estágio permanente de crescimento de casos e óbitos: somos o país que registrou por maior tempo mais de mil mortes diárias. Como consequência, essa grande circulação viral dá oportunidade de surgimento de variantes ainda mais agressivas do vírus, o que já vem ocorrendo em diversos estados e em cidades do estado de São Paulo, por exemplo.
Estudos apontam que cerca de 75% dos novos casos de Covid-19 no país foram causados por novas variantes do vírus.
A variante brasileira P1, inicialmente identificada em Manaus e que ocasionou o colapso no sistema de saúde no estado - uma tragédia que já era prevista por Bolsonaro e seu Ministro da Saúde que, ao invés de garantirem mais oxigênio para salvar vidas, orquestraram uma força tarefa para distribuição de cloroquina -, também é prevista para explodir em outras cidades brasileiras pela velocidade de transmissão, agressividade em pessoas mais jovens e resistência aos anticorpos.
No estado de São Paulo a variante brasileira foi detectada em 25 casos, sendo 9 na capital, 3 em Jaú, 1 em Águas de Lindóia e 12 em Araraquara, onde foi decretado lockdown por 15 dias pelo prefeito Edinho Silva, diante da extrema piora da crise sanitária na cidade, que está com 100% dos leitos de UTI e enfermaria de Covid-19 ocupados.
Vale lembrar que Araraquara é reconhecida por ser a cidade modelo no combate à Covid-19 no país desde o início da pandemia, pois realizou testes em massa da população e ações eficientes de prevenção. A cidade contou com a menor taxa de letalidade da doença no estado. Araraquara poderia ter entrado em colapso como Manaus, mas a prefeitura nunca desativou o hospital de campanha e teve coragem de manter as medidas de distanciamento.
No momento em que estamos, com várias variantes circulando pelo país com a população apta não vacinada, a taxa de transmissão só aumenta e provoca situações mais agressivas nas cidades.
Não há nada mais importante para salvar vidas, controlar o crescimento do número de casos e recuperar a economia do que vacinarmos toda a população brasileira apta a receber a vacina o mais rápido possível. É um absurdo vermos a interrupção da vacinação nas cidades porque o governo federal não garantiu número suficiente de doses da vacina no Brasil.
Assim como é inadmissível que o governo não autorize o Consórcio de Governadores do Nordeste a iniciar a vacinação do povo com as 50 milhões de doses que comprou da vacina russa Sputnik V, ou continuar negando a oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer.
Ainda faltam vacinas para estados e municípios e o governo federal segue demostrando o quanto não tem um plano de vacinação.
Bolsonaro tem responsabilidade direta em ter transformado o Brasil em terreno fértil para túmulos e variantes mais agressivas da Covid-19.
*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.