Em resposta ao Editorial “Menos demagogia, mais saúde”, publicado no dia 01/01/2022), no  Estadão.

Hoje (1º) fui surpreendido com um artigo de opinião, na Editoria Notas & Informações do jornal O Estado de S.Paulo, onde eles nos acusam de politizar a saúde e sermos iguais a Bolsonaro, dizendo, ao final do artigo, que tem que acabar com o vírus da politização da saúde. Ora, Estadão, 2022 começa e um dos grandes desafios do ano será, além de derrotarmos o vírus da  pandemia, precisamos derrotar o vírus do ódio ideológico e a xenofobia que provoca uma infecção crônica com manifestações recorrentes ao longo dos anos, como o delírio anticomunista, o macarthismo, os ataques do Comando de Caça aos Comunistas, as marchas da tradição que impulsionaram o Golpe de 64 e o veneno destilado neste editorial do Estadão.

Felizmente, estamos vencendo novamente esse vírus e, a vacina para ele, o povo brasileiro, vai, infelizmente, aprendendo em meio à dor, à fome, o desemprego, o isolacionismo no mundo, à destruição ambiental, à insensibilidade diante das vítimas da Covid e de desastres como as enchentes na Bahia, o desprezo à educação, à ciência e à tecnologia.

Na incapacidade de defender o Programa inoperante feito pelo governo Bolsonaro (presidente eleito com o apoio dos editoriais deste jornal), que tenta desde 2019 substituir o Programa Mais Médicos, recorre ao habitual ódio ideológico ao “Mais Médicos” e despreza qualquer análise dos dados técnicos, evidências científicas sobre os impactos do Programa.

O Estadão diz, portanto, querer despolitizar, ser técnico, mas faz uma avaliação do “Mais Médicos” sem levar em consideração nenhuma das centenas de pesquisas e estudos científicos realizados pelas melhores universidades brasileiras de acompanhamento do programa.

Por exemplo:

  1. Estudo da FGV: Mais Médicos melhora a atenção à saúde e reduz custos para o SUS, já que reduz internações; Mais Médicos reduz mortalidade infantil e mortalidade por doenças crônicas.
  2. Mais Médicos garante, pela primeira vez, médicos em todas as áreas indígenas do país, áreas remotas, regiões mais pobres.
  3. Mais Médicos reduz internações por hipertensão por diabetes.
  4. Mais Médicos tem alta aprovação popular.

Essas são só algumas evidências científicas ignoradas, o que demonstra que o Estadão é movido pelo ódio ideológico.

Outro ponto importante a ser levantado do artigo do Estadão, é que ele recorre à expressão de ódio: “cubanização do Brasil”. Dizer que 13 mil médicos, num universo de 500 mil médicos brasileiros, num país com mais de 210 milhões de habitantes, iriam “cubanizar o Brasil” é a mais pura demonstração do ódio e xenofobia contida no artigo e no jornal que o publica.

O autor deveria explicar porque esses médicos não “cubanizaram” os mais de 70 países, entre eles países da Europa, onde atuam. O mundo inteiro viu, em meio ao colapso do sistema de saúde italiano, quando países da Europa lhe negavam transferências de pacientes, foram os médicos cubanos que se deslocaram para salvar vidas. E, nem por isso, “cubanizaram” a Itália. Esse ódio ideológico alimentado por editoriais como esse, privou o Brasil de receber esta ajuda quando mais precisava.

Em suma, o Estadão, em sua incapacidade de defender o presidente que ele ajudou a eleger – quem não lembra do sofrível Editorial do Estadão às vésperas do segundo turno das eleições de 2018 (Uma escolha muito difícil) em que o  dizia que era “Uma escolha muito difícil” escolher entre Fernando Haddad e Jair Bolsonaro – não conseguir defender algo indefensável, como a incapacidade do governo de não cobrir, mesmo durante a pandemia, mais de 4 mil vagas do Mais Médicos, tenta construir um discurso que não se sustenta, de que a gestão da saúde nos governos do PT e no governo Bolsonaro são a mesma coisa. E o não enfrentamento da pandemia, por parte do governo Bolsonaro, demonstra claramente a diferença entre as duas gestões.

O Brasil chegou aonde chegou tendo uma gestão vergonhosa diante da maior tragédia humana dos últimos anos, tendo um governo que tem a desfaçatez de criar obstáculos para acesso de vacinas para nossas crianças. É uma vergonha o Brasil não estar liderando a vacinação como em 2009/2010 na pandemia da H1N1, onde fomos o país em que, proporcionalmente, sua população vacinou o dobro que vacinou os Estados Unidos e hoje vê este país já vacinando crianças e o Brasil perseguindo diretor técnico da Anvisa que segue a ciência, repetindo as piores práticas, das piores ditaduras.

A grande dificuldade que tentam criar fantasmas, como esse editorial do Estadão, é que na eleição de 2022 todos já sabem que criar fantasma não enche a barriga de ninguém, não coloca comida na mesa de ninguém, não dá emprego para ninguém, não repõe as vagas não ocupadas do Mais Médicos, seja no sertão do nordeste, nas regiões amazônicas ou nas periferias das grandes cidades, não leva vacina para o braço de ninguém. Esse discurso da conspiração fantasmagórica, de quem é inoculado pelo vírus do ódio, não terá espaço em 2022. Teremos grandes desafios para 2022, como reconstruir o SUS, resgatar o sistema público de saúde, e esses passos só serão alcançados com resgate da ciência, à luz das evidências científicas, do compromisso com a saúde pública, com paz, tolerância e respeito.

*Publicado originalmente no site “PT na Câmara”, dia 2 de janeiro de 2022.

Autoria
Alexandre Padilha é médico, professor universitário, Ministro das Relações Institucionais da Presidência da República e deputado federal licenciado (PT/SP). Foi Ministro da Coordenação Política no primeiro governo Lula, da Saúde no governo Dilma e Secretário da Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP. É colaborador do CCN Notícias
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