Não sou economista, nem especialista no assunto. Mas, por força das circunstâncias, esforcei-me para entender e explicar a você, leitor, o que de fato aconteceu na Lojas Americanas.
Há alguns dias, fomos surpreendidos com a notícia de que a Americanas anunciou um rombo financeiro espetacular de R$ 20 bilhões. O que isso quer dizer? Que ela vai falir? Que milhares de trabalhadores serão demitidos? Isso pode acontecer em outras redes de lojas?
CCN Notícias foi atrás das informações. Saiba, passo a passo, o que aconteceu e o que está por trás dessa (criminosa ?) operação financeira.
Toda e qualquer empresa que se prese faz um balanço financeiro ao final do mês. Bem a grosso modo, o contador observa o que foi arrecadado e quais foram as despesas para, ao final, anunciar o lucro. Essa é a pedra fundamental do Capitalismo. Um estabelecimento comercial qualquer compra produtos de um industrial por “x”, vende esse produto em sua loja por “y”, paga todas as despesas e prevê o quanto irá investir em reformas, ampliação do estabelecimento, diversificação de produtos, a possibilidade de contratação de mais funcionários, etc. O que sobra no mês, o dono ou os donos do estabelecimento embolsam. É o chamado lucro.
No caso em questão, a diretoria do grupo Lojas Americanas parece ter feito empréstimos ao banco para adiantar a compra de produtos. Mas, espertamente, escondeu essa operação no tal “balanço financeiro”. Daí o rombo. Quer dizer, ao não levar em conta o que devia ao banco, a Americanas apresentou um “lucro” bem maior do que de fato era.
É como se você, leitor, não pagasse o aluguel e divulgasse todo alegrinho que sobrou mais dinheiro no mês.
Claro que essa operação na Americanas precisa ser investigada, detalhada e os nomes dos responsáveis virem à tona.
O que sabemos até agora é que, assim que soube do rombo, pela própria diretoria da Americanas, o recém empossado mandachuva operacional, Sérgio Rial, e outros diretores, renunciaram. É como se dissessem; “opa, entramos numa fria, estamos fora!”. Quem assumiu no lugar garante que o caixa da empresa ainda é sólida e dá para aguentar sem quebrar.
Bem, o ato de esconder do público consumidor e, principalmente, de quem investe na empresa é crime. O que aconteceu na Americanas foi um escândalo. Talvez o maior ocorrido mercado brasileiro até hoje.
Segundo o jornalista Luis Nassif, um dos ou talvez o único responsável pelo rombo da Americanas chama-se Jorge Paulo Lemann.
Baluarte do Capitalismo e um dos homens mais ricos do país, Lemann, dono da Ambev (produtora e distribuidora de cervejas) “sempre primou pelas práticas mais nocivas do capitalismo financeiro. Ele não é um semeador de empresas, não é o investidor que desbrava novos mercados”, segundo Nassif. No início dos anos 90, quando o mundo parecia sucumbir ao chamado neoliberalismo, Paulo Lemann surgiu como o grande nome do mercado financeiro. Comprou a cervejaria Brahma e, logo depois, a Antártica, criando o monopólio chamado, Ambev. Claro à custa de fechamento de unidades e muitas demissões.
Cultuada no início, a ação verificou-se ser um grande escândalo porque, segundo as leis nacionais uma empresa não pode deter o monopólio do mercado seja lá qual for o ramo. Mas Lemann, com a conivência do então governo federal, deu um jeitinho. Com a crise na Rússia, Lemann viu o seu Banco Garantia quase falir. Mas, já estava focado na Ambev usando todas a armas do Capitalismo: a busca do lucro a qualquer custo.
Para tanto, escolheu setores que, historicamente, sempre deram “lucro”. E, ao invés de investir em pesquisa, inovação, crescimento, geração de emprego e renda, Lemann foi atrás apenas do lucro. Comprou a Telemar e a saqueou. O mesmo o fez com a Eletrobrás.
A grande mídia, por sua vez, eterna defensora das privatizações, compraram (e ainda compram) a ideia de capitalistas à frente das estatais, segundo a qual, fariam gestões mais eficientes.
Lemann, senhores e senhoras, é o todo poderoso investidor da Lojas Americanas, e, a julgar pelo que fez (e, na verdade, o que fazem todos aqueles que compram estatais) fica evidente o quão nocivo é a gestão privada do patrimônio público. Qualquer empresário gosta de lucro. E muito lucro. Basta oportunidade.
Defender as estatais e o patrimônio público está longe de ser uma questão ideológica, mas de sobrevivência dos serviços e dos empregos de milhares de brasileiros e brasileiras.