“A mulher de todos os séculos civilizados só conheceu uma finalidade – o casamento. O seu lugar ao sol, agasalhada pela sombra viril e protetora de um homem que se encarregasse de todas as iniciativas. Todos os anseios e necessidades paravam neste ponto, com o consequente sofrimento incluído no contrato.” – Pagu, em Parque Industrial (1933).
Patricia Rehder Galvão (1920-62), a Pagu, foi uma jornalista, escritora desenhista, poeta e militante política. Se destacou como um dos grandes nomes do Movimento Modernista. É considerada uma das figuras femininas mais polêmicas no Brasil no século XX.
Pagu começou sua carreira aos 15 anos de idade, contribuindo com jornal de bairro do Brás. Aos 20 anos, aproximou-se de intelectuais paulistanos no movimento antropofágico. Casou-se com o poeta Oswald de Andrade, com qual tem seu primeiro filho, Rudá de Andrade. Separaram-se em 1935.
Em 1940, casou-se pela segunda vez com o jornalista Geraldo Ferraz, quando nasceu, Geraldo Galvão Ferraz. Foi filiada por sete anos ao Partido Comunista do Brasil (PCB).
Fundou, junto com Oswald, o jornal “O Homem do Povo”, que foi proibido pelo governo Getúlio Vargas. Por sua militância e notoriedade, Pagu acabou sendo detida como militante comunista. Ela foi a primeira mulher presa política do país. Ao sair da prisão, lança sua obra de maior destaque “Parque Industrial”. Ao longo de sua carreira, trabalhou nos jornais “A Plateia”, “A Manhã”, “O Jornal”, “A Noite” e “Diário de São Paulo”. Também contribuiu, sob o pseudônimo de King Shelter, escrevendo contos de suspense para a revista “Detetive”, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. Em meados dos anos de 1950, mudou-se para Santos (SP), na qual atuou como crítica literária, teatral e de televisão no jornal “A Tribuna”. Na cidade, liderou a campanha para a construção do Teatro Municipal, além de fundar a Associação dos Jornalistas Profissionais e a “União do Teatro Amador de Santos”. Morreu aos 52 anos em decorrência de um câncer. Seu último texto, o poema “Nothing” foi publicado em “A Tribuna” na véspera de sua morte.
Pagu já foi nome de música da Rita Lee, teve algumas biografias publicadas, já foi personagem de uma minisérie da Globo, “Um só Coração” e também já foi tema de filme. O “Eternamente Pagu” (1988), de Norma Bengell, conta toda a trajetória da escritora, desde o seu começo na carreira até sua mudança para Santos. Faz uma alusão nos últimos momento de sua vida, a depressão com o câncer e até uma tentativa de suicídio. O filme baseia-se na forte personalidade de Pagu, moldada, desde muito jovem, quando enfrentou toda a forma de autoridade. Norma Bengell constrói uma personagem livre e intensa, assim como Pagu. Essa forma “muito segura de ser” implica em todas as suas relações expostas no filme: com seu pai, casamento, política e até mesmo na maneira como enxerga a vida.
Esta semana, dia 9 de junho, Pagu completaria 110 anos. A sua força enquanto uma mulher que desafiou os padrões impostos pela sociedade ainda é uma referência. Viva, eternamente, Pagu.
Thaís Linhares
Cientista Social e mestranda da Unesp