A Seleção Brasileira enfrenta, nesta terça-feira, dia 8, o Paraguai. O jogo, que será no Estádio Defensores del Chaco, valerá pela 6ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, em 2022. No entanto, o grande momento não será a partida ou os gols, se saírem. O Brasil inteiro estará de olho no apito final da partida e às tão aguardadas declarações do técnico Tite e dos jogadores – até onde se sabe, proibidos de se manifestarem, pelo, agora afastado, presidente da CBF, Rogério Caboclo. O dirigente é acusado de assédio sexual contra uma funcionária da entidade máxima do futebol brasileiro. E, pelas declarações de Casimiro, logo após o jogo contra o Equador, toda a Seleção, incluindo comissão técnica, já tem posição fechada – mas não explicitada – em relação à realização da Copa América no Brasil, em plena terceira onda da epidemia da Covid-19.
Impossível não fazer um paralelo com o que aconteceu no dia 17 de março de 1970. Faltavam 78 dias para o início da Copa do Mundo do México e, há seis dias para o embarque da Seleção, o técnico João Saldanha foi demitido do posto a pedido direto do presidente ditador Gal. Emílio Garrastazu Médici ao presidente da Confederação Brasileira de Desportos, CBD, à época, João Havelange. Atitude, vale ressaltar, igualzinha a que fazia nos sindicatos de trabalhadores. Intervinha e nomeava presidentes alinhados com a ditadura da época.
Médici, além de mandar demitir Saldanha, ainda mandou nomear Mário Jorge Lobo Zagallo, um ilustre técnico desconhecido à época, mas que não causaria nenhum tipo de constrangimento para a ditadura militar brasileira.
Para entendermos melhor, vamos recordar o porquê o general exigiu a cabeça do técnico da Seleção. João Saldanha era um ex-líder do movimento estudantil e ferrenho militante do PCB. Saldanha estava revoltado com a morte do seu amigo, Carlos Marighella, assassinado pela ditadura numa emboscada na Alameda Casa Branca, nos Jardins.
Saldanha viajou para o México e acompanhou o sorteio que definiu o chaveamento da Copa. Levou debaixo do braço um dossiê em que denunciava para o mundo os mais de 3 mil presos políticos e centenas de mortos e torturados promovidos pela ditadura do general Médici.
Passados 51 anos, vivemos novamente um momento sombrio. O presidente Jair Bolsonaro, controla todos os principais postos estratégicos do Estado Brasileiro e nomeou mais de 12 mil militares em cargos fundamentais com salários exorbitantes. A mais recente investida do presidente, ele, um simples ex-Tenente, “enquadrou” o Exército ao evitar que o seu ex-ministro da Saúde, Gal. Pazuello, fosse punido por quebrar a disciplina, ao participar de ato político, o que é proibido pelo regimento interno do Exército. Com requintes de escárnio, Bolsonaro ainda blindou e nomeou Pazuello para um cargo no Palácio do Planalto, com salário de R$ 17 mil.
Na próxima terça-feira, 8, possivelmente, os jogadores da Seleção poderão anunciar que não vão jogar a Copa América sobre os quase 500 mil cadáveres vítimas da Covid-19. O técnico Tite será responsabilizado como um comandante fraco por não conter os atletas e, talvez, seja demitido.
Assim como o gal. Médici exigiu a contratação do técnico “amigo” Zagallo, o presidente Jair Bolsonaro também já decidiu que o seu militante negacionista, que faz questão de posar de galã e aparecer nas praias do Rio de Janeiro, Renato Gaúcho, possivelmente, possa assumir o comando da Seleção. O novo técnico terá, evidentemente, a incumbência de convocar, imediatamente, um time B para disputar a Copa da Morte, quer dizer, a Copa América.
O mais lamentável nessa história é assistirmos Bolsonaro se fortalecendo e se preparando para endurecer o regime. Todos viram que Bolsonaro recebeu dois importantes recados nos últimos dias. Primeiro, mais de 400 mil pessoas foram às ruas em todo o país, dia 29 de maio, e pediram um basta ao seu governo e, segundo, no dia 6, durante seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV, ouviu um sonoro panelaço popular exigindo vacina. Podemos somar por conta, o grito de “não à Copa América”. Vamos aguardar, então, o apito final.
*Roselei Júlio Duarte é professor de História e Diretor de Escola.