Os movimentos sociais, populares e os partidos de esquerda que compõem a oposição passaram boa parte de 2020 debatendo quais seriam os formatos de luta e quais alianças deveriam ser feitas para derrotar Bolsonaro. Nesse caloroso debate, destacaram-se duas propostas: a construção de uma “Frente Ampla” de um lado, e da “Frente de Esquerda”, de outro.

Os partidos de esquerda, em particular, dividiram-se nas seguintes defesas: o PDT, PSB e o PCdoB ficaram com a Frente Ampla; e defendendo a Frente de Esquerda, o PT e o PSOL.

Cabe mencionar, porém, que foi o PT, em 2018, por meio do então candidato Fernando Haddad, o primeiro partido a propor a construção de uma Frente Ampla, ao ponto de se esforçar para receber o apoio de Fernando Henrique Cardoso e parte do PSDB. Mas, como se sabe, isso não foi possível. Dessa forma, o segundo turno das eleições presidenciais de 2018 foi um confronto entre a “esquerda” contra a “extrema-direita”, representada por Bolsonaro, os saudosistas da ditadura apoiados pelos partidos de centro-direita, amplos setores da mídia e do mercado financeiro.

As duas propostas de “frente” têm como objetivo derrotar Bolsonaro em 2022. No entanto, a diferença entre ambas é que, para os adeptos da Frente Ampla, a centro-direita deveria ser levada em consideração já no primeiro turno, em uma composição de Chapa. Para os defensores da Frente de Esquerda, um eventual apoio dos partidos de centro-direita só entraria no radar no segundo turno.

O debate como disse, foi caloroso e seus argumentos diversificados. Era comum encontrar nos discursos dos defensores da Frente de Esquerda a negação a qualquer tipo de aliança com políticos que apoiaram o golpe de 2016 ou que tivessem apoiado e votado em Bolsonaro, em 2018 (fato que restringia muito as alianças e, principalmente, porque a esquerda estava dividida). Outro argumento recorrente era o fato da centro-direita ter tido a oportunidade de incorporar-se na Frente Ampla, em 2018, mas se negou (fato que deixou claro a sua posição de não ser, assim, tão diferente da extrema-direita).

Já os defensores da Frente Ampla preocupavam-se em seus discursos e posicionamentos, que a esquerda ficasse isolada contra Bolsonaro, em um eventual segundo turno, em 2022, e não repetisse a catástrofe de 2018. Argumentavam, por sua vez, que “pontes” com a centro-direita deveriam ser feitas para garantir apoio do eleitorado desse espectro contra Bolsonaro.

Saindo da teoria à prática, esse debate ganhou às ruas e pode ser testado por duas vezes. Primeiro, durante as eleições municipais. O PT e o PSOL lançaram candidaturas isoladas em várias cidades, que representavam seus discursos. Conseguiram articular algumas frentes de esquerda aqui e acolá, como em Belém, Florianópolis e Porto Alegre. Mas, os resultados todos conhecem. Foram aquém do esperado para o PSOL. Mas, foram piores para o PT que colecionou derrotas por todo o país, em comparação com o PDT e o PSB que conseguiram ganhar algumas capitais importantes, como Recife e Fortaleza.

O segundo momento aconteceu após os resultados eleitorais de 2020. A esquerda passou a defender uma aliança com parte da direita, que havia rompido com Bolsonaro, para vencer as eleições Congresso Nacional. Outro fracasso. Grande parte da direita, atraída por cargos e verbas prometidas e gracejadas pelo governo federal, obteve uma vitória consistente sobre a aliança feita entre a esquerda e parte direita.

Mesmo com esses rotundos insucessos, os adeptos de ambas as propostas de “frente” continuaram a se digladiar este ano. Felizmente, o debate parece ter chegado ao fim com a volta de Lula ao jogo político. Com seus direitos reestabelecidos e com a suspensão dos seus processos da Lava Jato, Lula empreendeu uma nova postura: logo no seu primeiro discurso, o ex-presidente mostrou disposição para se reconciliar com os segmentos da sociedade que estavam em guerra com o PT. Pesquisas eleitorais indicam que ele já venceria Bolsonaro.

Conclusão: nesse bate e rebate, o fato é que a tese da Frente Ampla parece estar vencendo por W.O. sem que a Frente de Esquerda entre na disputa para 2022.

Tanto Lula, quanto Ciro Gomes, já assumem a possibilidade de terem empresários como candidatos a “vice” em suas Chapas. Aparentemente, ambos adotarão estratégias para atrair diferentes setores de centro e da centro-direita brasileira com o mesmo objetivo: tentar formar maioria de eleitores para ganhar as eleições de 2022.


 

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