O dia 6 de janeiro de 2021 entrará para história. Foi o dia em que milhares de pessoas, a maioria armada, invadiram o “Capitólio” (o Congresso Nacional dos EUA), em Washington DC, para impedir que os congressistas confirmassem a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 3 de novembro de 2020.

A invasão, incentivada pelo próprio presidente derrotado nas eleições, Donald Trump, resultou em cinco pessoas mortas e 52 feridos, além de um grande vexame internacional.

Ainda na madrugada de quinta (7), Trump, ao ver seu intento naufragado, não se fez de rogado. Uma hora depois de debelada invasão, afirmou pelo Tweeter; "embora eu discorde totalmente do resultado da eleição e os fatos me confirmem, haverá uma transição ordenada em 20 de janeiro”. Trump usou o perfil do porta-voz da Casa Branca Dan Scavino, para o comunicado, uma vez que estava bloqueado na rede social.

Evidente, que um evento dessa magnitude repercutiu em todo o mundo e os debates começaram. Os jornalões e o noticiário das TVs, dos canais abertos e fechados, por aqui, cobriram o fato e anunciaram a “tentativa de auto-golpe” de Donald Trump. Mas, teve quem defendesse que a ação estava limitada a um grupo de debiloides, desajustados e, até bandidos, supremacistas brancos, minimizando o fato.

O debate continua aberto e o CCN Notícias abre espaço para a sua contribuição.  Afinal, a invasão do Capitólio foi tentativa de “golpe de Estado” ou uma “ação de supremacistas brancos enraivecidos pela derrota para um negro na disputa pelo representante do Estado da Geórgia ao Senado? Escreva! Dê sua opinião.

Não foi golpe!

Para a economista brasileira Monica de Bolle, que vive em Washington há anos, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional e professora da Universidade Johns Hopkins e licenciada da PUC de São Paulo, a invasão do Capitólio por seguidores de Donald Trump não deve ser encarada como uma tentativa de golpe. Para ela, o fato revela que os supremacistas brancos estão agonizando nos EUA. O episódio que teria decretado essa agonia foi a vitória do democrata negro Raphael Warnock, ao senado pelo estado da Geórgia, um estado sulista de tradição racista.

“A gente tem um levante negro de um lado, e a morte do supremacismo branco, o supremacismo estrebuchante, de outro. É isso que estamos testemunhando agora na televisão. Um dia histórico que vai demarcar exatamente essa divisão dentro do país. Mas é uma divisão diferente”, afirmou a brasileira em um áudio que circula nas redes sociais.

A economista acredita que os EUA estão revivendo a Guerra Civil (1861-1865) que marcou a disputa entre os estados do sul (racistas e supremacistas chamados de “Confederados”) que queriam a manutenção da escravidão, e os estados do norte (os Federados), favoráveis à abolição. Monica diz que, assim como naquela época, os supremacistas estão perdendo a sua hegemonia e o episódio marca o “renascimento do pluralismo” e “abertura para o novo”, diz.

A brasileira acredita que as interpretações dadas ao ‘evento’ como sendo uma tentativa de golpe, “é errada e em total dissonância com o que é o contexto histórico dos EUA. Não é golpe. A gente está vendo uma ala que se acabou. Uma maioria que está virando minoria. Mas que se recusa a aceitar sua posição inferior. Por outro lado, tem o renascimento do pluralismo. É disso que se trata”.

Monica de Bolle apoiou a candidatura de Aécio Neves e o impeachment de Dilma Roussef.

Foi golpe

Já para Ana Maria Ribeiro, Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a tese defendida por Mônica de Bolle “é a prova de uma visão limitada do que está acontecendo”. Ana Maria compara o que aconteceu, dia 6, no Capitólio, com o que aconteceu em 2014, no Brasil, logo após as eleições presidenciais, quando o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) pediu revisão de votos e liderou, a partir de então, o movimento que culminou no golpe de Estado de 2016.

Para Ana Maria, tanto a invasão do Capitólio, quanto a vitória do candidato negro ao Senado, na Geórgia, “apontam para um acirramento e paralisia do estado norte-americano”. Segundo ela, as consequências econômicas serão sentidas mais adiante, mas, as sociais já são possíveis de se vislumbrar; “instabilidade total, desobediência civil e enfraquecimento do estado, já que os supremacistas ainda detêm as armas e não há regulamentação sobre as redes sociais”, avalia. “É muita ingenuidade acreditar no ‘novo’ sem enxergar o todo”, complementa Ana Maria.

Já a professora Lúcia Capanema, que pertence ao corpo permanente de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, acredita que Mônica De Bolle foi “um pouco Poliana nessa questão”, diz. (Poliana significa mulher que se sente senhora soberana cheia de graça ou aquela que se sente pura e graciosa). Para ela, “no fundo EUA e Brasil têm muita coisa em comum em suas histórias, principalmente, a colonização e a escravidão”. A virada da Geórgia (com a vitória do candidato negro ao Senado) é “um momento importante, mas não é vitória do pluralismo”, como disse De Bolle. Segundo a professora da UFF, o “capital sempre vence tanto lá, quanto aqui”. Quanto ao discurso do ‘novo’, Lucia Capanema iguala as performances de Donald Trump e Jair Bolsonaro. “O discurso do novo não vem com etiqueta de qualidade ou de ideologia fundadora. Fico com Davida Harvey, para quem o capital pode fazer concessões aqui ou ali, dependendo das coalizões de forças, mas não mexam em sua estrutura. Aí é que a verdadeira briga começa”.

O debate, portanto, está aberto. Afinal, se Trump tivesse vencido as eleições e o candidato negro da Georgia ao Senado também tivesse vencido, o mundo estaria assistindo àquelas cenas estarrecedoras?


 

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