São nos apelidos pejorativos que se escondem as ofensas mais duras e deixam marcas para o resto da vida. “Grafite”, “Fumaça”, “Somália”, “Apagão” e “Senzala” são apenas alguns dos muitos apelidos espalhados pelo mundo dos esportes, principalmente no futebol, que manifestam um tipo de racismo, infelizmente, naturalizado nos dias de hoje: o “racismo recreativo”.

O ex-centroavante do São Paulo, Grêmio e Wolfsburg (Alemanha) e Seleção Brasileira, Edinaldo Batista Libânio, mais conhecido como “Grafite”, em entrevista para o Globo Esporte disse que sentia um certo desconforto ao lembrar da origem do seu apelido. No início de carreira, em 1999, começou a ser comparado ao objeto utilizado na escrita por ser negro, magro e alto.

Também em entrevista ao GE, um dos jogadores mais conhecidos do futebol de várzea de Pernambuco, Evanézio Gomes de Sá Júnior, mais conhecido como “Apagão”, hoje contratado pelo Centro Limoeirense (Série A2 do Campeonato Pernambucano) demonstrou descontentamento como é chamado. “Quando eu era criança, jogava muito na várzea e ganhei esse apelido. Não gostei, mas acostumei. Mas, se pudesse escolher, eu preferiria que me chamassem de Juninho, que vem do meu nome. Não quero que meu filho passe pelo que eu passei”, disse o jogador.

Até mesmo Pelé, no início da carreira, já no Santos, chegou a ser apelidado de “Gasolina” e, depois na Seleção Brasileira de 58, alguns amigos tentaram apelida-lo de “Alemão”. Mas, Pelé também não aceitou a referência grosseira e racista que insiste associar atletas negros à cor da sua pele.

De acordo com jurista e doutor pela Universidade de Harvard (EUA), Adilson José Moreira, autor do livro “Racismo Recreativo”, de 2019, “tal conceito deve ser visto como um projeto de dominação que procura promover a reprodução de relações assimétricas de poder entre grupos raciais por meio de uma política cultural baseada na utilização do humor como expressões e encobrimento de hostilidade racial”.

Para todos aqueles que utilizam esse tipo de humor, o termo “racismo recreativo” surgiu apenas para deixar o mundo mais chato. Mas, felizmente, na verdade, o mundo está ficando mais justo com àqueles que sofrem há centenas de anos com um racismo revestido de humor.

A imprensa esportiva precisa colocar em pauta o debate sobre as relações étnico-raciais no esporte brasileiro. Só assim, atletas negros e negras poderão ter o direito de ser chamado pelo seu nome; o básico que é a sua identidade.


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