Para cinéfilos inveterados como eu, a simples menção do nome Robert De Niro evoca instantaneamente uma galeria de personagens icônicos, muitos deles mergulhados no submundo do crime. Indubitavelmente ele é o segundo no meu top 3 atores de todos os tempos (Marlon Brando em primeiro e Al Pacino em terceiro).

A expectativa para “The Alto Knights: Máfia e Poder”, seu mais novo filme, era palpável, especialmente com a promessa de vê-lo pela primeira vez em sua carreira interpretando dois papéis distintos. E para aumentar ainda mais o hype, a produção conta com nomes de peso que nos presentearam com a obra-prima "Os Bons Companheiros": o produtor Irwin Winkler e o roteirista Nicholas Pileggi. A nostalgia e a promessa de um retorno à velha guarda do cinema de máfia eram inegáveis.

Dirigido por Barry Levinson, conhecido por “Sleepers” e “Rain Man”, o filme nos transporta para a Nova York das décadas de 50 e 60, acompanhando a ascensão de duas famílias mafiosas rivais, lideradas respectivamente por Vito Genovese e Frank Costello. A grande sacada (e o principal chamariz) é De Niro encarnando ambos os Capos. Vito, o chefe frio e calculista, e Frank, o gângster charmoso e com forte influência política. A premissa é fascinante e a oportunidade de ver De Niro confrontando a si mesmo em cena é, no mínimo, curiosa.

Em termos de atuação, De Niro entrega o que se espera dele. Seu Vito Genovese exala a aura de poder silencioso e ameaçador que consagrou muitos de seus papéis. Já seu Frank Costello possui um carisma mais sutil, permeado por uma inteligência astuta. É inegável o talento do ator em diferenciar as nuances de cada personagem, tanto na postura quanto na dicção. A maquiagem é bem feita também.

Apesar do brilho individual de De Niro, o filme em si parece não ter o “punch” e é difícil também quando temos referências de “Cassino”, “Os Bons Companheiros” e o próprio “O Irlandês” mais recente. A trama segue um caminho já bastante trilhado por essas outras produções do gênero: a ascensão, as disputas de poder, a violência inevitável e as traições internas. Embora a ambientação de época seja convincente e a fotografia competente, falta à narrativa uma faísca de originalidade que a eleve acima de outros filmes de máfia.

A influência de "Os Bons Companheiros" é sentida, principalmente no ritmo da narrativa e na tentativa de humanizar os personagens, mostrando suas vidas para além dos crimes. Contudo, falta a "Alto Knights" a energia visceral e a sagacidade dos diálogos que tornaram o filme de Scorsese um clássico atemporal. Os personagens secundários, apesar de bem interpretados, carecem de maior desenvolvimento, servindo muitas vezes apenas como peças no tabuleiro da disputa entre Vito e Frank. O destaque fica com as atrizes Kathrine Narducci(conhecidíssima por “Sopranos”) e a Debra Messing interpretando a Bobbie Costello.

Em suma, "Alto Knights" é um filme que certamente agradará aos fãs do gênero e, principalmente, aos admiradores de Robert De Niro. Sua performance dupla é um feito notável e demonstra a versatilidade do ator. É um bom filme, bem feito e com atuações sólidas, mas que talvez não deixe uma marca tão indelével quanto os trabalhos anteriores que contaram com a participação desses produtores.

Para quem busca uma revisitada nostálgica ao gênero com um toque de ineditismo na atuação de seu protagonista, pode ser uma boa pedida. Mas para aqueles que esperavam uma reinvenção da roda, talvez a experiência fique um pouco aquém das expectativas.

 

Ficha Técnica:

*Filme: Alto Knights

*Ano: 2025

*Diretor: Barry Levinson

*Onde Assistir? Cinema e depois PrimeVideo

Autoria
Michel Chamon é paulistano, publicitário, escritor de crônicas, crítico de cinema, cinéfilo inveterado e colaborador do CCN Notícias.
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