Quando a pandemia da Covid-19 chegou por aqui, em março, as escolas foram fechadas e milhões de alunos ficaram sem suas aulas presenciais. Com o passar do tempo, milhares de educadores e, principalmente, os estudantes, não tiveram alternativa, senão assistirem às aulas, virtualmente. A grande maioria, no entanto, não conseguiu, porque, simplesmente, não tinham aparelhos eletrônicos e ou acesso à Internet adequados. Passados oito meses da pandemia, veio a dura realidade; pouquíssimos alunos, de fato, conseguiram acompanhar às aulas online. Uma tragédia pedagógica. Menos mal, porque a tragédia da perda de uma vida não se recupera, já o conteúdo de uma aula pode ser perfeitamente recuperado.

No entanto, a maior tragédia dessa triste realidade são as que brotaram das relações humanas. Milhares dos nossos alunos, hoje, sentem-se sozinhos, abandonados, carentes de relações afetivas e humanas. Pior, já é possível verificar o surgimento de uma nova tragédia: alunos que não conseguem sair de casa; que roem todas as unhas por ansiosidade; que engordam; que passam fome; que vivem nervosos e estressados; que dormem muito. Uma tragédia sem fim.

Por outro lado, aqueles que conseguiram acompanhar as aulas online foram submetidos a uma overdose de telas dos equipamentos eletrônicos por 3h, 4h até 5h seguidas de aulas e mais aulas enfadonhas, com conteúdos em cima de conteúdos, sem que houvesse, um minuto sequer, de relações humanas e trocas e experiências pedagógicas que, efetivamente, mostram e dão sentido a esses conteúdos escolares.

O fracasso retumbante das aulas virtuais (que em muitas unidades escolares só atingiram cerca de 10% ou menos dos alunos) demonstra que é impossível substituir as aulas presenciais pela “parafernália eletrônica”. Isto prova, o quanto é necessário e importante valorizar as relações humanas nas escolas, entre alunos, pais e os profissionais da educação.

A pandemia retirou milhões de empregos, enriqueceu milhares de empresários e empresas de tecnologia. Mas não conseguiu substituir as relações humanas nas escolas. Os alunos precisam de seus professores no dia a dia, com todas as virtudes e problemas pedagógicos que existem dentro de uma unidade escolar.

É triste perceber a tragédia pedagógica, mas, principalmente, a tragédia humana. Os professores não podem ser substituídos por tablets ou por quaisquer outros equipamentos eletrônicos. A tecnologia não fala, não chora, não se emociona quando um aluno aprende a escrever as primeiras letras do alfabeto. A tecnologia não faz festa quando seus alunos entram na universidade. A tecnologia também não fica feliz quando um grupo de alunos da escola se deu bem na vida.

O aluno precisa, e muito, da presença física do professor, porque ele faz a diferença. A tecnologia não consegue isso.

Um dia, alunos, pais e profissionais da educação voltarão para o convívio do maior e mais interessante agrupamento social que é a “escola”. Afinal, uma pessoa convive nesse ambiente, em média, por 15 anos. Um período que, seguramente, o transforma para toda a vida.

Roselei Julio Duarte, o Professor Duarte, é Professor de História e Diretor de Escola Municipal em São Paulo.


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