A cena teatral paulista é uma das maiores do Brasil. Na Zona Norte de São Paulo alguns teatros concentram-se, majoritariamente, na região de Santana. Os maiores são: Sesc Santana, Jardim São Paulo, Alfredo Mesquita e Teatro do Sol, mas também temos o Teatro do CEU Jaçanã e o Teatro Nelson Rodrigues que, na verdade, fica na Vila Galvão (Guarulhos), mas, devido a sua proximidade, é considerado um bairro da extrema Zona Norte de São Paulo. 

Com a pandemia do coronavírus, todos esses espaços estão, temporariamente, fechados, e os grupos e companhias teatrais foram obrigados a buscar outras formas para continuar seus trabalhos.

O setor teatral também tem se mobilizado em campanhas de incentivo à permanência das pessoas em casa. Com apresentações e temporadas adiadas, muitos artistas estão optando por realizar atividades online, dentre elas: “lives” de contação de história, rodas de conversa, ensaios abertos, debates e agora estão surgindo as primeiras experiências de apresentações virtuais. 

Um exemplo dessa proposta cênica online é “Pandas ou Era uma Vez em Frankfurt”. A montagem conta com os atores Mauro Schames e Nicole Cordery e direção e dramaturgismo, de Bruno Kott. A estreia foi no dia 15 de maio, por meio da plataforma Zoom, e é possível garantir seu lugar pelo Sympla – site especializado em venda de ingressos. As sessões são às sextas e sábados, sempre às 20h e as vendas se dão pelo formato “pague quanto puder”, sendo que, toda a renda será revertida para o Fundo Marlene Colé, idealizado para assistir artistas neste momento de pandemia. 

A obra é baseada no texto do dramaturgo romeno Matéi Visniec “A História dos Ursos Pandas contada por um saxofonista que tem uma namorada em Frankfurt”. A adaptação, pensada especialmente para o formato online, possibilita uma série de reflexões sobre o momento atual. A partir da história de duas pessoas que acordam na mesma cama e não se conhecem ou não se reconhecem, a peça traça uma narrativa acerca da construção de uma relação. O público, pouco antes do começo, é instruído a como deixar apenas as telas das personagens visíveis e é convidado a manter os microfones abertos durante toda a apresentação. “É a minha casa ou é a sua casa?”, a pergunta de uma das personagens sem nome, logo de início, já nos proporciona um “click”, afinal, apesar de estarem se relacionando entre si, os olhos estão voltados para a câmera, e os artistas parecem falar diretamente com cada um dos espectadores. Desde o prólogo, no qual, através de uma tela compartilhada, visualizamos os “melhores stories” de uma conta no Instagram, até a troca constante de cenários – que na verdade são planos de fundo colocados na plataforma –, mas com os quais os atores se relacionam e são capazes de gerar profundidade. A encenação propõe caminhos que conservam alguns dos cânones do teatro e que são capazes de tocar o público.

Sem saber ao certo quando o país se normalizará, artistas têm se mobilizado para fazer dessa nova realidade virtual uma maneira de fomentar a arte, mas não podemos esquecer que é papel do Estado garantir que as diversas profissionais do setor tenham seus direitos garantidos e amparados por meio de políticas públicas.