Nesse 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, o CCN Notícis homenageia uma das maiores escritoras do país: Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Bitita, apelido de infância, nasceu em Sacramento (MG), mas foi na Zona Norte de São Paulo que viveu a maior parte de sua vida, mais especificamente, na favela do Canindé, às margens do Rio Tietê, onde é hoje o Estádio da Portuguesa de Desportos. Depois, Carolina mudou-se para Santana.
Mulher negra, com a escolaridade apenas das séries iniciais, sustentava seus três filhos catando papel e papelão pela cidade. Nas horas vagas, retratava sua rotina em “diários”. Essas crônicas não só expunham seus dias, mas também, a miséria, os abusos, os preconceitos sofridos por ela, sua família e os moradores da região.
“Descoberta” pelo jornalista Audálio Dantas, os escritos de Carolina Maria de Jesus foram publicados e fizeram grande sucesso. “O Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, de 1960, foi sua primeira publicação traduzida para 13 idiomas, em mais de 40 países.
Depois do sucesso, Carolina passou a ser assediada pela grande mídia e empresários que queriam que ela escrevesse sobre coisas que não eram do seu interesse. Com a recusa, Carolina foi abandonada até o esquecimento total.
Doutora Carolina
Anos após sua morte, a obra de Carolina de Jesus foi revisitada e novos livros foram publicados. No último dia 9 de fevereiro, o Conselho de Coordenação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, CFCH, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, concedeu o título de “Doutora Honoris Causa” à Carolina de Jesus.
Para o Conselho de Filosofia e Ciências Sociais, a escritora, além de ter sido tema de 58 teses e dissertações nos últimos seis anos, é uma autora “fundamental na luta antirracista”, tendo enfrentado em vida “questões relacionadas ao que se denominou ‘racismo estrutural’ que, dentre as suas mais variadas formas de produzir o apagamento do negro da história nacional, procurou silenciar mulheres como Carolina Maria de Jesus como parte da produção da literatura brasileira”.
O Conselho diz ainda que a título visa a “reparação histórica do apagamento não de uma personalidade, mas de um segmento étnico que historicamente foi negado o lugar na cultura nacional”.
Carolina Maria de Jesus faleceu aos 62 anos, vítima de uma crise de insuficiência respiratória, em 13 de fevereiro de 1977.