Os números do primeiro turno das eleições de 2024 mostraram que os partidos políticos que se dizem de “centro” e aqueles que se identificam com a direita ou extrema-direita tiveram um crescimento considerável. E há algumas razões para isso.

Primeiro, a onda bolsonarista que veio se desenvolvendo, desde 2013, passando pelo golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, e consolidando-se, em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, ainda toma conta do País. Tanto que a maioria dos prefeitos das 26 capitais identificados com Bolsonaro foram reconduzidos ao governo, cravando o chamado “continuísmo”. Não por terem feito boas gestões. Ao contrário, em quase todas há evidências, provas e acusações de inúmeras irregularidades graves e gravíssimas. Mas nada como inundar as Prefeituras com as chamadas “emendas parlamentares”, que até bem pouco tempo, foram tratadas como “secretas”, e distribuídas com todo esmero pelo todo poderoso presidente da Câmara Federal, Deputado Federal Artur Lira. Vale lembrar que é a primeira vez que eleições são realizadas ao mesmo tempo que essas emendas secretas foram distribuídas. E aí, vem o segundo motivo; não é possível esconder o impacto que obras financiadas por essas emendas às vésperas das eleições, causam na percepção popular.

O país à direita

O país está mais à direita e mais suscetível ao clientelismo muito recorrente no pós-ditadura. O Congresso continua sendo um grande balcão de negócios. Além disso, persiste no horizonte um empenho desenfreado da extrema-direita em tentar desacreditar a política e as instituições democráticas, ao utilizar-se de métodos repugnantes, agressivos e baixos ao abordarem adversários, ideias e propostas. Dois exemplos se destacam: a tentativa de golpe em 2023 e o advento Pablo Marçal.

Ainda que não se tenha contestado os resultados e a credibilidade das urnas nessas eleições e a aberração Pablo Marçal tenha sido contida, a direita convencional e a extrema-direita ainda estão à espreita. Esse fenômeno requer muito mais atenção e ação, principalmente, da Justiça Eleitoral que parece em letargia diante das manobras e arroubos desse cidadão e o que ele representa. O perigo é iminente.

É verdade também que a direita bolsonarista não obteve o resultado esperado. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, projetava, antes das eleições, a conquista de mais de 1 mil prefeituras e o partido venceu em apenas 520. Metade do previsto. No entanto, Bolsonaro, o inelegível, ainda é um bom cabo eleitoral, ao emplacar candidatos em algumas capitais, apesar de ter fracassado em outras. Em São Paulo, preferiu não arriscar e fincou um pé em cada canoa: a de Ricardo Nunes (MDB) e a de Pablo Marçal (PRTB). Em geral, catapultou a influência do governador Tarcísio de Freitas. No entanto, no Rio de Janeiro, sua a principal base, o candidato Alexandre Ramagem (PL), não teve votação expressiva na disputa com Eduardo Paes (PSD), apoiado por Lula. A impressão é que Bolsonaro saiu diminuido das eleições.

Os progressistas

Já os partidos identificados com a esquerda tiveram um desempenho bom, mas tímido. O PT, por exemplo, apesar de ter a máquina federal, não conseguiu desempenho que almejava. Mas, cresceu. De 182 prefeituras conquistadas em 2020, passou a 248 agora. Conquistou maior número de vereadores(as) eleitos(as). De 2.668, em 2020, passou a 3.118, em 2024. O partido também obteve maior número de votos em todo o país, com um crescimento de 28%. Em 2020 obteve 6,9 milhões de votos. Nessas eleições, conquistou 8,9 milhões.

É notório que o PT carece de um processo mais consistente de renovação, de ideias e de lideranças. O partido precisa renascer, rejuvenescer e voltar a atrair com força e entusiasmo a população, sobretudo, os mais carentes, a classe média baixa e a média.

O partido de Lula deve, inclusive, entender como age o povo evangélico, que a cada ano cresce em número de praticantes e de engajamento na política, sobretudo à direita, mesmo não sabendo que são as verdadeiras grandes vítimas. No entanto, há setores no PT que os afastam das políticas de inclusão social, empurrando-os cada vez mais ao colo de seus algozes. Se o PT não entender isso, corre o risco de isolar-se ainda mais desse importante segmento.

O alento é que a direita e a extrema-direita em São Paulo estão divididas. Disputam à tapa o protagonismo do seu campo político para 2026. Até mesmo entre os evangélicos que perderam o norte com a postura dúbia de Bolsonaro, a julgar pela reação do Pastor Silas Malafaia.

Conclusão: embora a direita tenha tido um bom desempenho nessas eleições, está longe o entendimento de que a esquerda tenha sido derrotada, como alguns analistas da mídia disseram. A esquerda vem consolidando-se. Os índices econômicos são os melhores dos últimos anos, a taxa de desemprego caiu vertiginosamente, a massa salarial e o poder de compra do brasileiro cresceu, há perspectivas do Brasil subir vários degraus na comparação de melhores economias do mundo. Lula continua forte e um páreo duríssimo e com chances reais de reeleger-se, em 2026.

Colaborou o colunista e professor Rosilei Duarte