Se você leitor ou leitora parar para analisar a quantidade de expressões ou termos racistas que usa para se expressar no dia a dia, certamente, irá se surpreender. Sem querer, acabamos por reproduzir esses discursos preconceituosos e, invariavelmente, ofendendo ou magoando alguém. É impressionante! Para quase toda letra do alfabeto há uma palavra ou expressão que reproduz esse racismo enraizado que é preciso, de uma vez por todas, nos livrar. Os GTs Humanidades e Para Elas, do programa Sesc e Senac de diversidades preparou uma cartilha trazendo esses termos. Assim como eles, o CCN também faz um convite para todos reflitam e passem, a partir de agora, a mudar seu vocabulário e comunicar-se melhor.
A COISA TÁ PRETA
O termo associa a palavra “preto” com uma situação desconfortável, desagradável, difícil ou perigosa. DIGA: “a coisa tá difícil”
A DAR COM PAU
Tem origem nos navios que traziam os povos escravizados, quando algumas pessoas preferiam morrer de fome a serem escravizadas. Assim elas eram alimentadas à força com um tipo de colher de pau grande, daí vem a expressão “a dar com pau”. DIGA: “bastante” ou “muito”.
ATÉ TENHO AMIGOS QUE SÃO NEGROS
A frase de defesa quando se aponta alguma atitude ou fala racista. Ela aponta ainda mais o racismo. Não utilize essa expressão.
CABELO RUIM, CABELO DE BOMBRIL, CABELO DURO
Termos racistas usadas como bullying que depreciam a imagem e o cabelo de pessoas negras. Falar mal das características dos cabelos Afro também é racismo. DIGA: “cabelo crespo”, “cacheado” ou “afro”.
COR DE PELE
A expressão ficou conhecida para descrever a cor rosa-claro, fazendo referência à pele de pessoas brancas. Porém, como já é sabido, não existe apenas uma cor de pele, vivemos uma sociedade mista e plural. DIGA: “rosa-claro” ou “bege”.
COR DO PECADO
Utilizada erroneamente como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sensualizada. Em uma sociedade pautada na religião, pecar não é positivo, ser pecador é errado, e ter a pele associada ao pecado significa que ela é ruim. Outra expressão que faz a mesma associação de que negro é igual a negativo. Não use esta expressão!
CRIADO MUDO
Você sabia que o nome dado a este móvel faz referência aos criados (geralmente escravizados) que deviam segurar objetos para seus senhores? Como estes criados não podiam falar, eram considerados mudos, daí o termo criado-mudo. DIGA: “mesa de cabeceira”.
DENEGRIR
Tem como real significado “tornar negro”, “escurecer”. É usado para difamar ou acusar injustiça por outra pessoa, sempre usado de forma pejorativa, ou seja, utilizar esta palavra pejorativa é extremamente racista. DIGA: “difamar”.
DOMÉSTICA
Domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas. DIGA: “empregada” ou “funcionária”
ESCRAVO
Este termo trata os africanos como passivos e desprovidos de subjetividade. Os africanos que vieram para o Brasil eram pessoas, reis, rainhas, camponeses, homens e mulheres escravizados contra a sua vontade. DIGA: “pessoas escravizadas” ou “escravidão por escravização”
FAZER NAS COXAS
Acredita-se que a expressão vem da técnica utilizada pelos escravizados para fazer telhas. Por serem artesanais e seguirem os formatos dos corpos, as peças não se encaixaram bem umas nas outras, sendo consideradas mal feitas. DIGA: “mal feito”.
HUMOR NEGRO
Usam para descrever um tipo de humor ácido e com piadas de mal gosto com temas mórbidos, sérios ou tabus com tom politicamente incorreto. DIGA: “humor ácido”.
INDIADA
Utilizado para descrever um passeio, atividade ou viagem que não deu muito certo, algo trabalhoso, difícil ou até mesmo chato. O termo é pejorativo, pois “indiada” se refere a um grupo ou conjunto de índios. DIGA: “atividade ruim” ou “viagem chata”.
INVEJA BRANCA
Associa o “negro” ao negativo, a algo que faz mal e o “branco” ao que é positivo, uma inveja boa, um sentimento do bem. DIGA: “inveja”.
JUDIARIA
Do verbo “judiar”, significa tratar como os judeus foram tratados. É usado como sinônimo de fazer sofrer, atormentar, maltratar ou ainda com tom de pena. A palavra possui uma carga negativa e preconceituosa muito grande. DIGA: “sofrimento” ou “maltrato”.
LISTA NEGRA
Usada para descrever pessoas que, por alguma razão negativa, estão excluídas de certos grupos, ou ainda que uma pessoa está sendo perseguida. Mais uma vez a palavra “negra” é usada como algo negativo. DIGA: “lista proibida” ou “restrita”
MERCADO NEGRO
Muito usado para se refererir a um sistema de compras e vendas clandestino, ilegal. DIGA: “mercado clandestino”
MORENO(A)
Pessoas acreditam que chamar alguém de negro ou preto é ofensivo. Falar “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”. Você deve se referir a pessoa pelo nome ou questioná-la como ela prefere ser descrita. Não use esta expressão.
MULATO(A)
A palavra significa literalmente: mula, a cruza de um asno macho com uma égua. O termo surge na época da escravização, quando muitas mulheres escravizadas eram violentadas por “seus senhores” e tinham filhos que eram chamados de mulatos. DIGA: “pardo(a)” ou “mestiço(a)”.
NÃO SOU TUAS NEGAS
Trata a mulher negra como ”qualquer uma” ou “de todo mundo”, relembra o tratamento às mulheres escravizadas que eram, seguidamente, assediadas e estupradas. A frase deixa explícita que com "as negras pode tudo", e com as demais não se pode fazer o mesmo, e no tudo está incluso desfazer, mal tratar. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo. Não use esta expressão!
NEGA MALUCA
Há uma lenda que diz que o termo foi criado quando uma mulher escravizada estava fazendo um bolo e acidentalmente deixou cair cacau em pó na receita e, ao invés de descartar a massa, seguiu criando o bolo de chocolate. O termo reforça estereótipos. DIGA: “bolo de chocolate”.
NEGRINHO/BRANQUINHO (DOCES)
Usado para chamar o típico doce de chocolate (que é marrom). O mesmo serve para a palavra branquinho, que é o doce de leite condensado. DIGA: “brigadeiro” e “beijinho”.
NHACA
Desde a época colonial o termo é usado para falar de algo com cheiro forte, desagradável. O que pouca gente sabe é que Inhaca é uma ilha de Moçambique e é daí que vem o uso do termo, mais uma vez para reforçar estereótipos e preconceitos. DIGA: “cheiro ruim”.
TEM O PÉ NA COZINHA
Usada de forma preconceituosa para falar de pessoas de origem negra, uma vez que na época da escravização, este era o espaço destinado às mulheres negras. Não use esta expressão.
SAMBA DO CRIOULO DOIDO
É o título de uma canção de samba, composta por Sérgio Porto (pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta), que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba retratarem em seus enredos apenas temas de fatos histórico. Porém a expressão debochada reforça um estereótipo e descriminação aos negros. DIGA: “confusão”, “trapalhada” ou “bagunça”.