Entidades organizadoras dos blocos de Carnaval de Rua de São Paulo lançaram nesta segunda-feira, 4 de abril, manifesto em protesto contra a decisão da Prefeitura de manter o cancelamento do Carnaval de Rua na cidade, mesmo com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes aberto e fechados.

A decisão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), no início de janeiro, foi confirmada no último dia 18 de março. No entanto, a realização dos desfiles das Escolas de Samba no Sambódromo está valendo. Os blocos estão com receio de saírem às ruas sem a infraestrutura fornecida pela administração em outros anos, como apoio para desviar o trânsito, fornecimento de banheiros químicos e credenciamento de ambulantes. A decisão monocrática da Prefeitura soa, simplesmente, como uma proibição de milhares de pessoas curtirem e brincarem o Carnaval. O prefeito Ricardo Nunes alega falta de tempo e de patrocínio.

O manifesto intitulado “Manifesta Carnaval de Rua Livre com Diversidade e Democracia! Contra a Violência Policial e a Censura” diz que nos últimos dois anos, as entidades não colocaram os blocos nas ruas para “defender a vida”, mas questiona “no dias atuais, o cenário sanitário parece promissor e estável”. E faz comparações, “festivais, campeonatos esportivos, eventos religiosos e de negócios estão acontecendo normalmente”. “O Sambódromo (continua) já está com a festa marcada e não há justivicativa para proibir o carnaval de rua livre, diverso e democrático, nesse abril de 2022”. O Manifesto ainda cobra o prefeito a responder “qual é o critério que privilegia aglomerações em espaços privados e reprime o livre encontro público?”. Veja a íntegra do Manifesto e quem o assina.

Íntegra do Manifesto

 

Manifesta Carnaval de Rua Livre com Diversidade e Democracia!

Contra a Violência Policial e a Censura - Abril de 2022

 

Quando a humanidade inventou a rua, o carnaval já existia. É mais antigo do que a República Brasileira, mais antigo do que a Constituição Federal. Carnaval é tradição na Cultura Popular. Ele torna reais direitos necessários para a existência humana: direito à liberdade, direito à cidade, direito à democracia, direito à folia, à alegria, ao prazer... o direito à vida!
Estamos vivendo tempos difíceis e complexos para quem defende a vida. Guerra, genocídio, pandemia, fome, carestia, inflação e desemprego. Para aglomerar na rua com responsabilidade é necessário compromisso com a ciência, alto índice de vacinação, contaminações e mortes em curvas pequenas e descendentes.
Para defender a vida nós ficamos em casa o tanto quanto foi possível nos últimos dois anos. Não colocamos o bloco na rua e cumprimos nossa responsabilidade coletiva. Nos dias atuais, o cenário sanitário parece promissor e estável. Festivais, campeonatos esportivos, eventos religiosos e de negócios estão acontecendo normalmente. O sambódromo já está com a festa marcada e não há justificativa para proibir carnaval de rua livre, diverso e democrático, nesse abril de 2022.
Não podemos aceitar qualquer violência contra o carnaval. Não podemos aceitar ameaças, censuras, punições ou castrações – físicas ou jurídicas – contra aquilo que é nosso por direito:
bater nossos tambores em praça pública.
Governos deveriam apoiar a cultura e o carnaval popular. Desgovernos podem dificultar. Mas todos devem saber: quem faz e decide sobre a festa é o povo, auto-organizado em blocos, cordões, quilombos, escolas, fanfarras, suas comunidades, folionas e foliões... E não importa a forma: seja numa roda, num ensaio ou num cortejo, o carnaval deve ser respeitado.
Carnaval é respeito: aos corpos, às fantasias, à comunidade, a quem dele vive e trabalha. Carnaval é cuidar da natureza celebrando a entrada e saída de mais um ciclo. São os catadores que trabalham e se divertem, são os ambulantes que não atravancam o caminho, são as pessoas que voluntariamente cuidam da rua da cidade onde moram, são artistas. É trabalho coletivo, organicamente evocando toda nossa brasilidade.
As maiores riquezas do Brasil são nossa natureza, nosso povo e nossa cultura. Não os interesses que privilegiam o lucro, o individualismo, o consumismo e o patrimonialismo. Não aceitamos hipocrisias. Qual é o critério que privilegia aglomerações em espaços privados e reprime o livre encontro público? Nossa festa vai tomar forma e vai acontecer nas ruas, esquinas, vielas e praças de nossa cidade como sempre aconteceu, vai florescer em celebração como sempre fez.
A gente vem de longe: é ancestral e histórica a força do carnaval. Temos a Lei do nosso lado, pois a garantia da manifestação livre é direito constitucional. E seguiremos multiplicando vida através da alegria.
Contra todo tipo de autoritarismo, violência e censura contra a cultura popular!
Em defesa do Carnaval de Rua Livre, com diversidade e democracia!

Assinam: ABASP, Arrastão dos Blocos, Comissão Feminina, Fórum dos Blocos, UBCRESP e Ocupa SP.
Academicos da Cerca Frango
Acadêmicos da Ursal
Bloco Delírios Comunistas
Bloco Desbundas Artes
Bloco do Água Preta
Bloco do Chocolatte
Bateria Bela Brisa
Bloco do Fuá
Bloco DuChat
Bloco Gambiarra
Bloco Manga Rosa
Bloco não serve mestre
Bloco Não Tô bem Não Tô bem 279
Bloco Skaravana
Bloco Vem com o Pai
Coletivo Comum
Coletivo Lunáticas
Desbundas Artes
Cordão da Mentira
Cordão do Jamelão
MOVA Coletivo
Movimento Independente Mães de Maio
Sorika
Filhos de Netuno - SP
Bloco Pitbull banguela
Maloka Socialista (PSOL)
Mov. Cult. Darcy Ribeiro PDT
Mandata coletiva Bancada Feminista do PSOL
Ana Beatriz Nestlehner Cardoso de Almeida
André Albert
André Nogueira
Andreza cadima
Anna Cecília Junqueira
Antonio Erick Gomes da Silva
Bárbara Maués
Bel Borges
Carol Coltro
Daniel Luis da Silva
Débora Maria da Silva
Desbundas Artes
Dylan Rocha Silva
Eduardo Varallo
Elaine de Melo Coutinho
Erika Hilton - Vereadora e Presidenta da Comissão de Direitos Humanos de SP
Estêvão Romane
Fábia Karklin
Fabio lopes
Felicia fabula Santos Andrade
Fernanda Azevedo
Fernando César Siniscalchi
Filó Silva
Gabriela Toledo
Gabriely Momesso
Gustavo Madeira
Higor Correa
ingrid larsen
Inti Queiroz
Jeruza Souza - Moradora do Bixiga
Juka Tavares
Juliana Matheus
Juliana Mirovski
Karina Barreto (bloco feminista)
Katita Bloco Pitbull banguela
Lamparina 313
Laura Cangussu
Lila Argenta
Lincoln Antonio
Lira Alli
livia maria botin
Luciana Gurgel
Mahira Gomes Oliveira
Marcelo Campos - Bloco Galera da Rampa
Marcelo Pitel - Mov. Cult. Darcy Ribeiro PDT
Marcio Castro
Marco Antonio Ribeiro
Maria Antonieta Figueiredo
Maria Cristina de Campos Pires
Maria Gabriela dos Santos
Mariá Guedes
Mauricio Martins Rocha
Nanci Pittelkow
Natalia C C A Weber
Natalie Amendola
Pablito Diaz
Paulo Duarte
Paulo Junqueira
Priscila Schmidt
Rafael Pajé Massi
Renata Bruggemann
Renata Rosa Bruno
Renato Martins
Ronaldo Fonseca
Rosemeire de Almeida - integrante Bloco Fua/Socióloga
Ruy Mello
Sandra Mariano
Sílvia Mule
Thiago B. Mendonça
Tiago de Castro
Victor Beltrão Rocha - Embu das Artes
Zoraide Bertussi