Estreia nesta quinta-feira, dia 4 de novembro, o aguardado filme “Marighella”, de Wagner Moura, que também faz a sua estreia como diretor. Rodado e finalizado em 2018, o filme de Moura passou por muitos entraves até ser liberado aqui no Brasil. “Sofremos censura, mesmo”, diz Wagner Moura. “Marighella” já rodou em diversos festivais internacionais, sendo aclamado pela crítica especializada. Na estreia mundial do filme que aconteceu no Festival de Berlim, Alemanha, em fevereiro de 2019, a produção foi aplaudida de pé pelo público.

O filme conta a trajetória dos últimos cinco anos de vida do escritor, político e guerrilheiro Carlos Marighella, líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar instalada no Brasil, a partir do golpe de 1964, e que durou até 1985. Marighella foi assassinado no dia 4 de novembro de 1969 em São Paulo, durante uma emboscada de agentes do DOPS, na época. A estreia marca os 52 anos da morte de Marighella.

Cerca de 350 pessoas, entre eles parte do elenco, o diretor, familiares de Marighella (seu filho Carlos Augusto e a atriz Maria Marighella, neta do guerrilheiro que também participa do filme), artistas e personalidades baianas acompanharam o pré-lançamento do filme, no último dia 25 de outubro, no histórico Teatro Castro Alves, em Salvador, BA, cidade onde nasceram tanto Marighella, quanto o diretor Wagner Moura.

Após a exibição, Moura discursou ao público e contou que teve muita dificuldade para iniciar sua carreira como diretor e considerou uma vitória conseguir fazer o filme. “Esse é um filme de amor e feito com muito amor. Não tinha como isso acontecer (a exibição) em outro lugar, senão em Salvador. É a nossa cidade, a cidade de Carlos Marighella”, antes de cair no choro e puxar emocionado o coro de “fora Bolsonaro”, junto com o público.

Carlinhos, filho de Marighella, contou que só conheceu o pai aos 7 anos de idade e demorou para usar o famoso sobrenome por conta da perseguição que sempre sofreu.

O filme foi inspirado no livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”, de Mário Magalhães. O protagonista é vivido pelo cantor e ator Seu Jorge. No elenco estão também Adriana Esteves e Bruno Gagliasso entre outros.

Quem foi Marighella?

Carlos Marighella nasceu em Salvador, BA, em 5 de dezembro de 1911.  Filho de Maria Rita do Nascimento, uma ex-empregada doméstica, negra e filha livre de escravos africanos trazidos do Sudão, e de Augusto Marighella, metalúrgico e ex-motorista de caminhão de lixo, imigrante de São Paulo para Salvador.

Ingressou no curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia, mas largou em seguida para atuar profissionalmente, em 1934, no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Logo depois, foi preso e torturado pela ditadura Vargas. Em 1939 foi novamente preso e torturado. Ficou encarcerado até 1945. Em 1946, já livre, foi eleito deputado federal constituinte pelo PCB-BA. Estudioso da revolução chinesa, Marighella foi novamente preso, após o golpe de 64, e torturado dentro de um cinema no Rio de Janeiro. A partir daí, começou a elaborar suas teorias sobre a luta armada no combate ao regime militar.

Em 1966, rompe com o PCB para fundar, em 1968, a Ação Libertadora Nacional (ALN), o mais conhecido e temido grupo armado de resistência ao golpe no País. Na noite de 4 de novembro de 1969, foi vítima de uma emboscada armada por agentes do antigo DOPS numa esquina da Alameda Casa Branca, em São Paulo, SP.

Em 1996, o Ministério da Justiça reconheceu a responsabilidade do Estado pelo assassinato de Marighella mas, só no dia 7 de março de 2008, concedeu a Clara Charf, companheira de Marighella à época, uma pensão vitalícia do governo brasileiro, embora nunca tenha reivindicado a quantia, mas o reconhecimento da perseguição ao militante. Em 2012, depois das apurações da Comissão da Verdade, o então Ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, oficializou a anistia a Marighella.