Chegou a hora de uma conversa séria, porém, fraterna, com você, militante petista. Há algum tempo venho percebendo que muitos militantes do meu partido ao debaterem um assunto que, nem sempre é polêmico, preferem partir para o ataque pessoal, muitas vezes com argumentos chulos, preconceituosos e desqualificados, em vez de embasados na teoria e na prática política.
Um desses pontos – neste caso, polêmico - que suscitou essa minha observação, foi o debate sobre a transferência da sede nacional do PT, de São Paulo para Brasília, com a manutenção de um escritório em São Paulo.
Em primeiro lugar, acho que essa transferência está atrasada há, pelo menos, vinte anos. Sendo em Brasília, haverá, certamente, o barateamento dos custos de locomoção dos dirigentes, além das questões políticas envolvidas.
O ponto que quero abordar é o porquê, além disso, alugar uma sala num prédio localizado numa das regiões mais caras da cidade, para abrigar um “escritório” do Diretório Nacional: na Av. Angélica (Santa Cecília)?
Para comportar o Diretório Nacional, a militância vai arcar com dois aluguéis? É isso? Aliás, como ex-Secretário de Finanças que fui, tanto do Diretório Zonal de Santana, quanto da Subsede da APEOESP, na Zona Norte, quanto custam esses aluguéis? Não seria mais racional e econômico o DN ter um único espaço? Se é para ter uma “representação” em São Paulo, por que não ser conjuntamente com os Diretórios Estadual (Rua John Harrison, Lapa) ou no Municipal (Rua Asdrubal do Nascimento, Bela Vista)? Neste caso, não estaríamos economizando os nossos parcos recursos para investir nas duras campanhas municipais de 2024?
Outra questão; se é para termos Diretórios destinados às instâncias do Partido, então, por que não desenvolvermos uma campanha séria para a aquisição de um local e deixar os aluguéis de lado? Lembro-me que a Direção chegou a cogitar em transferir os Diretórios para um daqueles galpões abandonados na região do Brás ou do Pari, mas, não sei o motivo, a proposta perdeu-se no tempo.
Investimentos na militância
Talvez, o mais grave e o que mais incômoda, seja a forma como o Partido investe nossos recursos. Não priorizar a formação da militância e, consequentemente, o fortalecimento das bases sociais, para mim, é o ponto chave. A bancada de vereadores do PT, por exemplo, vem caindo, eleição após eleição (de 11, em 2012, para 8, em 2020, correndo o risco de diminuir mais ainda, em 2024) e teremos que nos esforçar muito para eleger Guilherme Boulos, nas eleições para a Prefeitura, no ano que vem. Esse é um reflexo direto do distanciamento do PT das bases.
Mas, o exemplo, serve também para fatos pontuais. Em 2017, quando voltei a dar aulas, lá no Jardim Damasceno, não faltaram propostas para que eu voltasse à direção do Partido. Mas, já estava decidido em encerrar minha carreira onde comecei; na escola. Naquele mesmo ano, aprovamos no Conselho de Escola emprestar gratuitamente os espaços da unidade para a comunidade, a partidos políticos, mandatos e ONGs para que realizassem atividades. Esperava que a chamada “esquerda” ocupasse, de fato, o local. Mas, não. A “direita” organizou-se e soube aproveitar bem melhor. E aqui vai um desabafo; nunca fui procurado por um parlamentar ou um assessor do PT para ocupar os espaços! Ao contrário, cansei de receber a visita de outros parlamentares, como Eliseu Gabriel (PSB), Sandra Santana (PSDB), João Cury (MDB) e da Bancada Feminista (PSOL), além de dezenas de assessores de vereadores de outros mandatos.
O que mais chamou a atenção foi a quantidade de pessoas mobilizadas quando emprestávamos o espaço. Para citar três exemplos: Movimento de Moradia do Jardim Capadócia (500 pessoas) – ligado à direita; Associação Amigos do Futuro Melhor (2.000 pessoas – tiveram que fechar a rua – também ligado à direita) e, recentemente, uma Plenária do PSOL com 400 pessoas.
Mas, quando a gente escreve ou se pronuncia sobre esse distanciamento do PT, lá vem os discursos rancorosos, preconceituosos e decorados de certa militância: “esses pobres do Jardim Damasceno só votam em parlamentares da direita”!!!! Claro, senhoras e senhores! A “direita” e a militância do PSOL se organizam e estão presentes, semanalmente, na região. E os parlamentares e assessores do PT, onde estão? Talvez, priorizando outras regiões mais nobres.
E por que isso acontece? Simples. Porque a “direita” investe seus recursos na formação de sua militância e nas suas ONGs. Idem o PSOL. E o PT? Está havendo também esses investimentos ou tudo fica para seis meses antes das eleições?
Essa reflexão serve, também, como um desabafo. Reflita você também. Mas, não me agridam. Não digam que sou uma “velha liderança de um passado longínquo do PT”. Em vez das agressões furtuitas, por que não contra argumentam com ideias, fatos e propostas?
Esses dias tivemos eleições para os Conselhos Tutelares. Convenhamos, foi lamentável a participação do PT. Pífio. Conversei com uma candidata ao Conselho Tutelar no Tucuruvi (que prefiro não identifica-la), que me revelou não ter recebido um centavo sequer do partido para imprimir os chamados “santinhos”. Enquanto isso, as igrejas evangélicas, com suas pautas fundamentalistas, financiaram seus candidatos e deram um banho de votos no PT e na “esquerda”.
Talvez, os recursos dos santinhos para as campanhas ao Conselho Tutelar foram parar no aluguel das sedes do Diretório Nacional.