O racismo estrutural e científico (ocorre?) de tal forma que impossibilitam o pleno direito à cidadania da população negra. Estamos falando de mais de 53% dos brasileiros(as) que, além de tudo, enfrentam o racismo e as abordagens policiais que aumentaram nos últimos 20 anos, como apontou a pesquisa do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania).

“A polícia tem o imaginário do elemento suspeito: aquele com bigodinho fininho e cabelinho 'na régua' que retrata a cultura negra favelada. A gente consegue ver que, a partir dessa construção do elemento suspeito, a gente está criminalizando todos através da estética. Criminalizando um território,” como disse o pesquisador do Cesec, Pedro Paulo Silva.

Em um recorte de raça (negra), gênero (masculino) e trabalhador (informal, de sobrevivência) tem sua liberdade em risco a todo instante e isso fica evidente ao observarmos alguns casos no final de 2021 e início de 2022 seguidos de violência e racismo no Brasil.

Em 1 de dezembro de 2021, o policial militar algemou um homem negro na moto da corporação, acelerou e o arrastou por uma avenida da Zona Leste de São Paulo, depois da vítima ter furado o bloqueio policial. O policial, que teve o nome preservado, foi afastado e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo instaurou um inquérito policial militar para apurar a conduta do profissional.

Moïse Kabagambe, imigrante negro congolês, que junto com a sua família escolheram o Brasil para viver, justo o Brasil, um dos países com maior taxa, quando o assunto é genocídio de jovens negros e, nesse caso, imigrante. Foi morto no quiosque em que trabalhava quando foi cobrar um pagamento atrasado de R$200,00 reais. Seu assassinato não poderia ter sido mais horrível, além de escancarar a realidade social e política e evidenciar a reforma trabalhista totalmente precarizada. Moïse também foi vitima de trabalho quase escravo, sem carteira de trabalho assinada, 13º  salário, férias, FGTS, representação sindical e vale transporte/alimentação. O jovem foi um dos vários milhões de trabalhadores(as) negros(as) brasileiros e imigrantes que estão trabalhando de forma análoga à escravidão no Brasil. (Foto da Capa, manifestação em frente ao Instituto Jorge Amado, em Salvador, BA).

Durval Teófilo Filho, tinha 38 anos, pai e trabalhador. Foi assassinado pelo Sargento da Marinha, Aurélio Alves, de 61 anos. O assassino disse que supôs estar diante de um bandido, disparando, então, três tiros. A vítima não teve chance de sobreviver.

Outro caso de racismo foi o caso do jovem negro Yago Corrêa de Souza (21 anos), no dia 6 de fevereiro, na Favela do Jacarezinho, Rio de Janeiro. Yago havia saído de casa para comprar pão, quando foi abordado por militares dentro de uma farmácia que fica na região. Tomado pelos policiais como suspeito de tráfico de drogas, tal e qual o estereótipo e o parâmetro no imaginário da PM para abordagens a elementos considerados suspeitos, Yago foi levado à prisão. O delegado ainda complementou: “estava na hora errada e no lugar errado”. À imprensa Yago desabafou, "foi horrível, eu passei fome, a comida estragada. Quero justiça", afirmou após deixar o presídio. O trabalho do advogado agora  é provar a inocência de Yago. Mostrar que não fazia parte de nenhuma organização criminosa e o que realmente aconteceu foi a prática do racismo estrutural. É o estereótipo do bandido brasileiro.

O pós-abolição (depois de 1888) canalizou um regime patriarcal e extremamente racializado. Quando olhamos pra os dias atuais, percebemos novas formas de racismo que desumaniza e criminaliza a população negra. Contudo, os movimentos socais e movimento negros estão atentos aos direitos que também são nossos.

Autoria
É graduada em Arqueologia pela UFS, assessora da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, da Central Única dos Trabalhadores, ativista social, mulherista africana e colaboradora do CCN Notícias.
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