Entre março e abril desse ano, escrevi uma trilogia ao CCN Notícias analisando a performance das esquerdas nas eleições municipais de 2012, 2016 e 2020. Falei também sobre a possibilidade das esquerdas vencerem as eleições municipais de 2024 na cidade de São Paulo com um(a) único(a) candidato(a). Agora em junho, surgiram alguns outros ingredientes, tanto à direito, quanto à esquerda, capazes de incrementarem a análise, daí esse quarto artigo. Vamos lá.

O Secretário Nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, no último dia 8 de junho, continua insistindo no “fogo amigo” contra o apoio do PT ao Deputado Federal Guilherme Boulos (PSOL). Jilmar considera “burra” essa aliança. De acordo com seu raciocínio, seria um perde-perde. “A gente perde a bancada, porque a aliança fica mais estreita, não ganha a eleição na Capital e perde, mais uma vez, porque o PSOL não está votando com o nosso governo”. O Secretário afirma que essa aliança pode, inclusive, afastar outros partidos políticos. Para concluir, diz que “se essa aliança com o PSOL continuar, o presidente (Lula) nem vai poder fazer campanha na cidade de São Paulo, porque o MDB e o PSD vão chiar demais”.

Jilmar Tatto defende um diálogo honesto em que o fortalecimento do PT na cidade de São Paulo e do governo Lula sejam prioridades. Diz ele que é preciso ter uma candidatura em 2024 que esteja comprometida com a defesa do governo no Congresso e a reeleição do presidente em 2026!

Claro que a resposta veio rápido. O Deputado Estadual Antônio Donato, um dos que defenderam o apoio do PT à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), também em entrevista ao Estadão, foi no fígado de Tatto: “O que percebo é a família Tatto, cada vez mais, integrada ao projeto de reeleição de Ricardo Nunes (MDB)”. E acrescenta: “Jilmar é um caso clássico do fracasso que subiu à cabeça, afinal foi sua candidatura à prefeitura com resultado ridículo que permitiu o crescimento de Boulos como opção para o eleitorado paulista”, sentenciou.

Caro leitor, sempre é bom lembrar que o PT vive este dilema, desde 2022, quando o presidente Lula, a presidenta nacional do partido, Deputada Federal Gleise Hoffamann, e Luiz Marinho, então presidente do PT Paulista “selaram um acordo às portas fechadas para o PT apoiar a candidatura de Boulos à prefeitura, em 2024. Em troca, Boulos (candidato ao governado do Estado) e Juliano de Medeiros (candidato à presidência) desistissem do pleito para apoiarem as respectivas candidaturas de Fernando Haddad e Lula, em 2022.

Outros petistas já tentaram desqualificar esse acordo, mas Gleise Hoffmann foi enfática: “Houve acordo, sim. As conversas foram comigo, com Lula e Marinho. À época, foram bem divulgadas e ninguém (no PT) questionou. Pode-se ter divergência, mas houve o acordo. E acordo é para ser cumprido”.

Outro lado

O ex-ministro de Bolsonaro e hoje Deputado Federal Ricardo Salles (PL), que ficou famoso pela frase “deixar a boiada passar”, em entrevista ao jornal O Globo, anunciou que estava abandonando a corrida para a prefeitura de São Paulo porque o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, disse que o partido precisaria apoiar um candidato de centro-direita. Salles entendeu o recado. “Não vou concorrer. A direita perdeu. O Centrão ganhou. Valdemar, por intermédio do Deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL), ex-ministro da Dilma, e elo com o PT, controla duas secretarias e duas subprefeituras na administração Nunes, em São Paulo. O deputado não apoiou Bolsonaro no ano passado e ainda disse que não queria ser o candidato da direita, dando a entender que o PL irá apoiar a reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Como dizia o ex-governador de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto: “Política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”, ainda é muito cedo para fazer qualquer análise para outubro de 2024. No entanto, mesmo que o prefeito Ricardo Nunes esteja realizando uma péssima administração e demonstrando sua total incompetência em gerir e investir os recursos públicos (vamos lembrar que ele bate no peito para dizer que tem R$ 36,6 bilhões em caixa, mas abandonou a cidade com falta de sinalização, redução na previsão de obras entregues até o fim do mandato, sujeira acumulada nas ruas, falta de recolhimento periódico do lixo, falta de recapeamento asfáltico, não construiu corredores de ônibus como prometeu, não fez obras de drenagens para amenizar as enchentes, a saúde está com filas de espera gigantescas, faltam remédios básicos nas UBS, falta de funcionários na Educação de modo geral), ele tem possiblidades de se reeleger. Nunes aproveitou o conturbado início de ano para unificar a direita e a centro-direita na esperança de repetir a ampla aliança feita por Bruno Covas que, em 2020, aglutinou dez partidos e reelegeu-se com o pé nas costas.

Enquanto isso, as esquerdas não conseguem avançar na unidade política. Ao contrário, figuras importantes neste jogo ficam se digladiando em praça pública, quando deveriam estar discutindo um candidato que possibilitasse a construção de uma grande aliança, às semelhanças das que elegeram Fernando Haddad (com sete partidos) e a de Lula (com dez partidos). Já passou da hora das principais lideranças dos partidos de esquerda sentarem-se à mesa, deixar as diferenças de lado e iniciar uma conversa em torno da construção de um amplo arco de aliança, incluindo centenas de candidatos à Câmara Municipal.

Para concluir, basta fazer uma analogia com o que diz Lula ao comparar a política ao futebol: Ricardo Nunes (MDB mais direita) 1 x 0 Boulos (PSOL e PT mais esquerda).