Já virou rotina, pelo menos deveria ser, colocar a máscara no rosto ao sair de casa, enquanto durar a pandemia do novo coronavírus. No entanto, depois de meses de isolamento social e com a flexibilidade da quarentena, já virou rotina também o mau uso das máscaras.

É comum presenciar as máscaras no pescoço das pessoas, colocadas sobre os balcões de bares, restaurantes e lanchonetes e, principalmente, guardadas, depois de horas de uso e, portanto, sujas, na bolsa e sem qualquer isolamento.

Segundo especialistas, usar as máscaras sujas (ou mau higienizadas), além de reduzir a proteção contra o Covid-19, a sujeira pode aumentar o risco de saúde. Essa semana, El País entrevistou especialistas para saber quais são outros tipos de problemas que o uso da máscara por horas seguidas pode ocorrer. O coordenador da Área de Enfermagem Respiratória da Sociedade Espanhola de Pneumologia e Cirurgia Torácica (SEPAR), Dr. David Díaz Pérez, afirma que “a umidade, a poeira e outras partículas que estão no ambiente saturam o filtro depois de um tempo de uso e sua capacidade de filtragem se reduz, portanto, não são tão eficazes quanto no início do uso”. Isso pode se tornar, inclusive, em um vetor de transmissão do vírus se deixadas em superfícies inadequadas ou manuseadas com as mãos sujas. Para isso não acontecer, é necessário respeitar o tempo de uso, o jeito certo de mexer e de higiene das máscaras.

Com relação à pele

Em contato direto com a pele, a máscara forma uma barreira corporal no rosto e causa alguns efeitos. O dermatologista Raúl de Lucas, coordenador do Grupo de Dermatologia Pediátrica da Associação Espanhola de Dermatologia e Venereologia (AEDV), explica que o aparecimento de lesões na área coberta pela máscara são mais frequentes e de variados tipos. O mais comum é a “acne friccional”, um tipo de acne produzida por roçadura. Outras possibilidades são a rosácea, vermelhidão, a irritação e a coceira, principalmente, em com peles sensíveis, dermatite atópica ou seborréica.

O uso de hidratantes e ou maquiagens também devem ser usados com cuidados. Abusar desses produtos e, imediatamente depois, colocar a máscara em ambiente úmido, pode aparecer a acne cosmética. O dermatologista alerta que, caso utilizar maquiagem, mesmo com uma parte de rosto coberto, é necessário usar produtos menos oclusivos e não exagerar na quantidade.

Embora a maioria dos problemas causados pelo uso prolongado e a constante fricção da máscara, a acne cosmética pode agravar-se com o efeito oclusivo extra ocasionado pela sujeira da máscara: a mau higienização satura o filtro e impede que a pele transpire adequadamente pelo acúmulo de bactérias.

Em casos de dermatite, acne ou qualquer outra lesão, é importante ir ao médico. A boa notícia é que é possível reparar os danos causados na pele ao chegar em casa. “Basta seguir uma rotina de higiene e hidratação”, a alerta o especialista.

Com relação à boca

Com relação à saúde buco-dental, mesmo com o uso da máscara por mais tempo do que o recomendado, é altamente improvável que aconteça a falta de oxigenação perturbadora do equilíbrio e propícia à determinadas bactérias, explica o presidente do Conselho Geral de Dentistas da Espanha, Óscar Castro Reino. Contundo, o especialista alerta que, ao não precisar mostrar tanto os dentes, a tendência das pessoas é relaxarem a higiene bucal. Óscar Reino lembra que a mucosa oral é uma das vias do coronavírus. A manutenção da boca saudável é fundamental.

Outro cuidado importante é em relação à escova de dente. “Agora, mais do que nunca, é imprescindível cuidar bem da escova, lavar bem as mãos antes e depois de usá-la, limpá-la, enxaguá-la e secá-la, mantê-la protegida na capinha, nunca compartilhá-la, afastá-la do vaso sanitário para evitar possível contaminação e não guardá-la com outras escovas”.

Muitas pessoas também acreditam que tenham desenvolvido halitose (mau hálito), pelo uso constante de máscara (se já não tinham antes e haviam detectado), diz Castro Reino. O que ocorre é, com o uso da máscara, uma parte do ar que expiramos fica em contato com sistema olfativo durante mais tempo e, assim, as pessoas percebem o problema. Outra explicação para esta situação é que a máscara, depois do tempo máximo de uso, acumula saliva o que, além da diminuição da eficácia, há aumento do mau odor.

O presidente da Sociedade Espanhola de Periodontia e Osseointegração (SEPA), Dr. Antonio Bujaldón, destaca que, diante de uma sensação de mau hálito, o recomendável é ir ao dentista “para verificar sua existência e, nesse caso, sua causa, já que 85% das halitoses são de origem bucal e a maioria está relacionada às gengivas”.

E sobre a respiração?

Segundo a portal-voz da Sociedade Espanhola de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica (SEIMC), Dra. María del Mar Tomás, “até o momento, não foi descrito nenhum caso de infecção bacteriana nas vias

respiratórias superiores associada ao uso indevido das máscaras cirúrgicas, embora não se possa descartar”. De acordo com o estudo publicado em maio deste ano, a principal queixa e problema com o uso prolongado das máscaras é a sensação de mau respiração. É comum quando termina o dia ter a impressão que ficou mais difícil respirar. Isso é acarretado pelo tempo excessivo da máscara, o filtro fica saturado de umidade e, portanto, a facilidade respiração diminui. A solução? Usá-la sempre limpa e apenas durante o tempo estipulado.

Contudo, o coordenador da Área de Enfermagem Respiratória da SEPAR lembra que a máscara “não está livre de efeitos incômodos e adversos para o usuário, principalmente, se descumprirmos as regras de uso e ignorarmos o tempo máximo de utilização ou as medidas de higiene”, diz.

Autoria
Thais Linhares é mestra em Ciências Sociais pela UNESP, professora da rede estadual de ensino e colaboradora do CCN Notícias
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