O Pastor da Igreja Batista da Água Branca (IBAB), em São Paulo, teólogo, conferencista e escritor, Ed René Kivitz, em entrevista ao canal do Youtube Podpax, na última quinta-feira, 6 de outubro, colocou todos os “pingos nos is”, e definiu o modelo de sociedade proposto por Bolsonaro que, infelizmente está acompanhado por parte de evangélicos fanáticos.
O Pastor, autor do livro “Quebrando Paradigmas”, de 1994, fala sobre a necessidade do crente descobrir que há vida fora do culto e que este culto é apenas uma manifestação da igreja, não é propriamente “a igreja”. Kivitz diz que não há sentido em acreditar em algumas colocações que alguns pastores pregam. Segundo Kivitz, a existência do Diabo e do Inferno são exemplos de distorção e fanatismo. “Ninguém acenderia uma fogueira e jogaria sua filha ou seu filho vivo, como prova de amor a Deus. Como acreditar que Deus enviaria seus filhos ao inferno?” Pergunta. “Depois da nossa morte, tudo está nas mãos de Deus, mas antes da nossa morte, tudo está em nossas mãos”, diz o pastor. Kivitz pergunta o porquê fazer debates teológicos sobre a existência do inferno, mas não fazer nada para debater a existência da miséria e da fome? “Esse sim, o verdadeiro inferno”, segundo Kivitz.
O momento político
Em relação ao momento político e social em que vivemos, o Pastor Kivitz avalia que o país vive em situações de “apartaides”, de exclusões sociais e, agora, de exclusão ideológica. “Quem está no poder político e econômico, não gosta que o povo se organize em cooperativas, em sindicatos para reivindicar direitos, em grupos de discussão para ganhar consciência de classe, de raça e de gênero. Se Bolsonaro for eleito, esse caos piora”, diz. Segundo o Pastor, o Congresso recém eleito é formado por 48% de políticos identificados com o chamado “Centrão”. No Senado, já há maioria para se pedir impeachment de ministro do Supremo (Supremo Tribunal Federal). ”Se Bolsonaro for reeleito, teremos um Executivo, que já colocou no bolso o Legislativo, com o orçamento secreto e com os novos eleitos, e, se houver impeachment de ministros do Supremo, Bolsonaro colocará também no bolso o Judiciário, ou seja, teremos os três poderes alinhados sem que haja o equilíbrio entre os poderes. “Isso aqui vai virar uma Hungria. É o golpe, sem golpe. Um golpe dentro da ordem democrática corrompida e degenerada”, diz o Pastor.
Por outro lado, o pastor Kivitz diz que “se Lula ganhar as eleições, cria-se um fato novo a esse bolsonarismo, que tem uma índole golpista, autoritária e amor pela ditadura. Não sou contra as pessoas, sou contra as ideias e eu não posso ser a favor de ideias que são contra as pessoas. Não posso acreditar numa ideia que diz que eu não posso existir”, indigna-se. “Se nós estivéssemos na Idade Média, não teria dúvida que já teria sido queimado na fogueira como herege”.
Kivitz afirma que hoje não estamos mais discutindo quem é corrupto, quem não é. Mas, sim, marcos civilizatórios. Kivitz propõe que imaginemos as seguintes situações: o que aconteceria se um preto tivesse atirado acidentalmente uma arma de fogo no saguão de um aeroporto? O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, fez isso e não aconteceu nada! Imagine o que aconteceria se ficasse comprovado que a família do presidente Lula tivesse comprado 51 imóveis com dinheiro vivo? Imagine se ficasse comprovado que os filhos do presidente Lula tivessem homenageado milicianos e dessem empregos para eles em seus gabinetes? Imagine como a elite brasileira reagiria se soubesse que o filho de Lula estivesse namorando a filha do um vizinho assassino? “Nós temos 3% da população mundial e 11% dos mortos pela Covid. São mais de 700 mil mortes que poderiam ter sido evitadas e o presidente não foi visitar um só hospital”, diz.
O que acontece é grotesco. “Não estamos falando de corrupção, mas de modelos de sociedade”, analisa o Pastor. “O Mandeta (ex-ministro da Saúde), que propôs um protocolo alinhado com a OMS (Organização Mundial da Saúde) de combate à Covid, não foi eleito. Mas, o Pazuello, general subserviente ao presidente que deu ordem para cancelar a compra de vacinas, foi eleito”, diz.
Para finalizar, Kivitz avalia que hoje há uma boa parte da sociedade que quer manter esta ordem estabelecida: “homem vale mais do que mulher, hétero vale mais do que gay, magro vale mais do que gordo, branco vale mais do que preto, rico vale mais do que pobre, americano e europeu valem mais do que brasileiro, sul-americano e africano. Nós não estamos falando em corrupção, mas num modelo de civilização. Quando uma determinada religião se confere no direito de destruir, depredar, incendiar, agredir terreiros de religião de matriz africana, nós não estamos falando de corrupção. Quando temos um país estruturalmente racista e que ainda discute a legitimidade da cota racial, não estamos falando de corrupção, mas de modelo de sociedade”. Segundo Kivitz, o cidadão não pode achar normal que um jornalista e um ambientalista sejam assassinados e o presidente diga que a culpa foi deles e questionar o que eles estavam fazendo lá. “Não posso achar normal que um evangélico saque da arma, atire em outro evangélico dentro da igreja e o culto continuar. Isso não tem a ver diretamente com o Bolsonaro, mas com a cultura do bolsonarismo, de uma mentalidade que faz o sujeito sair na rua com a suástica tatuada, fazer discurso nazista e dizer que isso é liberdade de expressão. Não posso admitir isso. Esse modelo de sociedade proposto por Bolsonaro não é compatível com a espiritualidade cristã, humana e cidadã”, finaliza.