A entrevista que o ex-presidente Lula deu ao programa “O É da Coisa”, de Reinado Azevedo, foi impressionante por vários motivos. Podemos destacar a boa audiência do programa – bem acima do normal e a oportunidade de ver antigos desafetos se aproximarem por um nobre objetivo: a derrota de Bolsonaro e tudo o que ele representa. Mas de tudo que foi abordado de relevante na conversa, uma questão arrepiou os simpatizantes do petista: Como o líder da esquerda pode defender abertamente que a Caixa Econômica Federal se torne “capital misto”?
É importante salientar que, embora os políticos da direita liberal estejam completamente sem chance de chegar ao poder em 2022, o mercado financeiro continua forte e atuante e aprendemos com o golpe contra Dilma em 2016 que, na atual conjuntura, o capital financeiro exerce forte pressão na política.
Sabemos que Lula não pode ser classificado como radical e que teve o seu governo (2003-10), marcado pela conciliação. Logo, é natural que para ganhar e conseguir governar, o projeto do Partido dos Trabalhadores deve adote um discurso mais moderado. Porém, o que não pode ser admitido pela militância é um governo ainda mais conciliador e pró-mercado do que a primeira gestão Lula.
Um candidato à vice-presidente vindo do meio empresarial e alianças com partidos de direita são aceitáveis para boa parte dos correligionários de Lula. Bom lembrar que foram ações políticas assim, em 2002, que deram bons resultados nas urnas e que garantiram estabilidade ao governo. Mas, seria inaceitável a adoção de medidas neoliberais que só encontramos paralelo com o governo Fernando Henrique Cardoso e que, nem Bolsonaro, conseguiu implementar.
A abertura de capital da Caixa Econômica Federal geraria os mesmos malefícios que a abertura de capital da Petrobras feita por FHC na década de 1990. Quando uma empresa estatal abre seu capital e se torna de “economia mista”, fica completamente vulnerável à especulação financeira.
É importante ressaltar que o Banco do Brasil e a Petrobras só sofrem pressão do mercado para sua privatização porque se tornaram vítimas da especulação nas Bolsas de Valores, a partir da abertura de seus capitais. Se Lula é contra a privatização do Banco do Brasil e da Petrobras, nada mais coerente do que ser contra a venda de parte da Caixa, visto que a única consequência disso seria o aumento da pressão do mercado por privatizações e, em longo prazo, resultaria em um prejuízo equivalente ao crime cometido contra a Petrobras.