Ao completar, nesta sexta-feira, 15 dias de competições (e a um dia do seu encerramento, mas ainda com medalhas em disputa), os Jogos Olímpicos de Tóquio ficarão marcados para sempre como “os jogos do ineditismo”. Desde a cerimônia de abertura, com a engajada atleta japonesa e negra, Naomi Osaka, até atletas que não souberam perder (Medina e Djocovik); protesto no pódio, apesar de proibido, desde 1968; atleta grávida; a atleta mais jovem de todas as competições (apenas 13 anos); atleta que desistiu de competir para preservar a sua saúde mental.

Para nós, brasileiros, os Jogos de Tóquio também serão marcados por grandes surpresas, a começar pela sua performance, que pode superar ao quadro de medalhas dos Jogos do Rio de Janeiro, quando obteve 19 medalhas no total. O Brasil, nesta sexta, ocupa a 16º posição no quadro de medalhas, sendo 4 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze (16 no total). Além dos pódios já assegurados no futebol masculino, boxe e voleibol feminino. Resta saber quais serão as cores das medalhas.

Nossas 4 ouros foram conquistadas até agora pela ginasta Rebeca Andrade (prova de salto), Ítalo Ferreira (surfe), Martine Grael e Kahena Kunze (vela) e Ana Marcela Cunha (maratona aquática). Nossas 4 de prata foram para os skatistas Rayssa Leal, Kelvin Hefler e Pedro Barros, e para a ginasta artística feminina Rebeca Andrade. E as 8 bronzes para, Mayara Aguiar e Daniel Cargin (no judô); Fernando Scheffer e Bruno Fratus (natação); Luisa tefani e Laura Pigossi (tênis-duplas); Abner Teixeira (boxe); Alisson dos Santos (400 metros com barreiras) e Thiago Braz (salto com vara).

Protagonismo feminino

O que chama mais a atenção é a participação das mulheres entre os atletas brasileiros em Tóquio. Até agora 49% das medalhas foram conquistas por elas (3 ouros, 2 pratas e 2 bronze).

A jornada vitoriosa delas começou com Rayssa Leal, no Skate Street. A atleta mais jovem da história do Brasil em Olimpíadas (e uma das mais jovens da história das Olimpíadas), também se tornou a mais jovem medalhista, aos 13 anos, conquistando a prata.

A judoca Mayra Aguiar, que já havia faturado o bronze em Londres-2012 e Rio-2016, novamente, conquistou o bronze em Tóquio, tornando-se a única judoca, entre homens e mulheres, a subir no pódio em três olimpíadas seguidas.

No último domingo, 1 de agosto, a ginasta Rebeca Andrade, de 22 anos, tornou-se a primeira brasileira campeã olímpica na ginástica artística a vencer a prova de salto. Dias antes (29 de julho) ela já havia se tornado a primeira brasileira medalhista da modalidade após ganhar a prata no individual geral.

A dupla de tenistas Luisa Stefani e Lauro Pigossi conquistaram a medalha de bronze. O feito foi visto por muitos como “improvável”, depois de uma virada histórica ao salvarem quatro match points. Foi a primeira medalha do tênis brasileiro em jogos olímpicos.

Martine Grael e Kahena Kunze conquistaram a medalha de ouro na classe 49er FX da vela e chegaram ao bicampeonato olímpico. A vela é a modalidade que mais rendeu medalhas de ouro para os brasileiros na história das olimpíadas, com 8 no total.

A baiana Ana Marcela Cunha brilhou nos 10 km da maratona aquática feminina e se tornou a primeira mulher brasileira a ganhar a medalha de ouro em um prova de natação nas Olimpíadas. A atleta disparou nos metros finais e terminou a prova com o tempo de incríveis 1h59m30s.

Parabéns Yaras

A Seleção de Rugby feminino, que também é conhecida como as “Yaras”, apelido que reflete o espirito guerreiro da mulher brasileira, mesmo com muita luta, perdeu as 3 partidas iniciais na competição. Mas, as Yaras se despediram do torneio com uma vitória sobre a seleção japonesa com o placar de 21 a 12 e terminou na 11ª posição na competição.

O Rugby feminino, com pouca tradição e investimento, competiu contra nações tradicionais do esporte e caiu em um grupo com seleções candidatas à conquista de medalhas. Assim, como no futebol, as mulheres do rugby foram proibidas por lei (imposta pela ditadura militar) de jogar no Brasil. Somente em 1981, a modalidade foi permitida para mulheres no País.

Falta de investimentos: triste realidade

Levantamento realizado pelo Globo Esporte (Rede Globo), dos 309 atletas brasileiros presentes nas Olimpíadas de Tóquio-2020, 231 (75%) dependem do Programa “Bolsa Atleta”, criado em 2005 pelo governo Lula (PT). Para espanto de todos, esse programa não teve edital lançada no ano passado pelo governo Bolsonaro, o que levou os atletas à perda de rendimento.

A triste realidade do esporte olímpico brasileiro, hoje no Brasil, está refletido nos números; do total, 131 atletas não contam com nenhum tipo de patrocínio; 41 atletas precisaram, inclusive, fazer “vaquinha” para estarem no Japão; e 33 não conseguem viver só do esporte e têm outras profissões para se sustentarem, como motoristas de aplicativos, por exemplo, como a mais citada.

Um grande exemplo de descaso do governo e de algumas confederações foram as condições de treino a que o nosso atleta do arremesso de peso, Darlan Romani foi obrigado a se sujeitar para treinar. Darlan fez sua preparação em um terreno baldio o qual lhe ocasionou uma lesão. Mesmo assim, Darlan terminou a competição em 4º lugar. Certamente, com condições de treino adequadas e um investimento justo, ele estaria no pódio.

A atleta Vitória Rosa, eliminada da prova de 200 m rasos no Atletismo, desabafou sobre os desafios enfrentados no último ano. “Foi uma ano muito difícil. Embora a gente esteja em uma pandemia, também estou sem patrocinador e o salário do clube foi reduzido”, afirmou.

Não à toa, alguns dos medalhistas representam o País, mas não vivem mais aqui e treinam em outro lugar. Luisa e Laura, medalhistas, moram nos EUA e Espanha, respectivamente. Bruno Fratus, bronze nos 50 metros livres na Natação, também mora nos EUA.

O CCN Notícias parabeniza todos os atletas brasileiros em Tóquio pela garra e participação, mesmo em situação adversa. O CCN faz votos que o país em outra situação social, política e econômica, possa, em breve, retomar programas de incentivos ao esporte olímpico e que as empresas possam, num cenário político de mais confiança e menos vergonhoso, voltar a investir.

Autoria
César Augusto Rodrigues é professor de Educação Física
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