O documento “Casos e Surtos de Covid-19 em Instituições Escolares: Orientações para os Profissionais de Saúde” foi enviado aos e-mails institucionais na semana que passou.
Um Protocolo lamentável e irresponsável. Tanto a Secretaria Estadual de Educação, quanto às secretarias municipais de Educação e de Saúde lavam as mãos, literalmente, e jogam a responsabilidade nas costas dos profissionais de saúde, dos supervisores e diretores de escola. Na verdade, serão os professores, diretores e supervisores de escola que terão de administrar um problema de saúde pública, sem ter o mínimo de prepara para tanto. Não faz parte de suas funções, enquanto profissionais de Educação.
Os governos estadual e municipal não querem dar o braço a torcer e aceitar que o retorno prematuro das aulas presenciais foi um erro. Não querem pagar o ônus político que significa a suspensão das aulas presenciais. Mas, jogam a “batata quente” nas mãos dos profissionais de Educação e de Saúde estadual e municipal.
Enquanto isso, a população, a julgar pelo que dizem os governos e a mídia, fica com a ideia de que os diretores de escola e os professores “não querem trabalhar”, já os “preocupados” governantes apelam para o populismo: “eu mandei reabrir, mas eles fecharam”. Simples assim. E os profissionais da Educação ficam com o desgaste político.
Mas, em realidade, as mortes entre os profissionais da Educação e de alunos continuam se acumulando.
Um fato precisa estar bem claro: suspensão de aulas não é competência de profissionais da Saúde, de diretor de escola e, muito menos, da supervisão escolar. Suspensão de aulas é política de governo que, como descreve a legislação, deve proteger os cidadãos, sem exceção.
Mas, esse protocolo enviado pelos governos estadual e municipal transfere a responsabilidade para outros atores sociais e tentam dividir o magistério, porque a confusão é tremenda. Está acontecendo de tudo um pouco. Em alguns lugares, não houve suspensão das aulas, em outros, a suspensão adotou critérios variados: somente a turma em que for comprovado o contato com o vírus; ou somente o professor da sala; ou ainda, algumas turmas e alguns professores; ou até a suspensão de toda a unidade escolar. Os dias de suspensão também são bastante variados; vão de 7 a 15 dias.
Esses são apenas alguns exemplos. Existem outros. É tão surreal que parece que o Coronavírus que circula entre as unidades escolares só atingem alguns alunos ou alguns professores.
Medidas paliativas como essas, mostram que os governos estão empurrando com a barriga um problema que, dia após dia, só aumenta. Essas “orientações” comprovam que professores, alunos, diretores e supervisores estão sendo tratados iguais a boi a caminho do matadouro e morrendo igual a cordeiros. Dizem: “sua escola só será fechada por alguns dias se alguém morrer ou se contaminar”. Eis a mais cruel das escolhas.
Não quero ninguém contaminado. Não quero ninguém morto. As nossas vidas não têm preço. Não somos sacos de cimento que, quando um acaba, se pega outro. Somos seres humanos. Mas, os governantes fingem que não veem o aumento das denúncias e dos casos fatais. Para piorar, as equipes de limpeza foram diminuídas em 40% e da cozinha em 50% nas escolas municipais.
Como todos já perceberam, os sistemas de saúde pública e particular estão no limite, e o Estado e a Cidade de São Paulo caminham para ser a nova Manaus. Chega de fingimentos e negar que o coronavírus não se espalhou ainda mais com a reabertura precoce das escolas. Os profissionais da Educação querem trabalhar com toda a segurança e para isso, precisam da vacina.
Como escreveu o escritor e ensaísta polonês, Adolf Rudnicki, “vivemos num mundo ameaçado, e neste mundo, o único valor autêntico que nos resta é a vida, nada mais que a vida”.
Pela suspensão imediata das aulas presenciais no Estado e na cidade de São Paulo.
* Roselei Júlio Duarte é Professor de História e Diretor de Escola.