Após o País ficar quase um mês sem um Ministro da Educação, Jair Bolsonaro anunciou na última sexta-feira, 10/7, o ex-vice-reitor da Universidade Mackenzie, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro, para ocupar o Ministério da Educação.

Está escrito em seu currículo Lattes que fez curso de doutoramento completo em Educação. Foi Bolsonaro quem disse, pelo Facebook, que Ribeiro é “Doutor”. Diz também que tem graduação em Teologia. Ribeiro foi integrado, em maio de 2019, à Comissão de Ética Pública ligada à Presidência da República.

Quando o cenário para a condução do MEC parecia ir de mal a pior, com as desastradas gestões de Vélez e Weintraub (ou de Decotelli, que nem chegou a assumir), a nomeação de Ribeiro parece ter piorado ainda mais. O vice-reitor da Mackenzie tem um histórico de declarações e pensamentos ultra polêmicos, o que permite imaginar que a Educação regredirá no país aos tempos do “chapéu de burro”, “palmatória” ou “os joelhos sobre o milho”.

Fundamentalismo

É que Milton Ribeiro é fundamentalista evangélico (como os fundamentalistas islâmicos ou ortodoxos judeus, que levam ao pé da letra cada linha do antigo testamento, do Alcorão ou da Torá, sem qualquer pré-disposição ao diálogo). O exemplo mais visível da diferença de postura dos fundamentalistas é acreditar que Deus criou o homem a partir do barro e a mulher, a partir da costela do homem; que a escravatura, a homofobia e o sionismo judeu foram e são movimentos legítimos. Sem contar, é claro, o sistema capitalista (que vivemos) desenvolvido e legitimado pelo protestantismo.

Para os fundamentalistas evangélicos, a principal forma de disseminação dessas ideias é através da Educação. Ao contrário de outros evangélicos mais estridentes, esses fundamentalistas como Milton Ribeiro, são polidos, falam bem e dão a impressão de serem altamente instruídos.

Por trás da polidês

Apesar das boas intenções escritas no papel ou ditas em discursos públicos é preciso, no entanto, dar uma olhadinha no passado recente do ministro para saber o que realmente passa por sua cabeça.

As redes sociais já trataram de expor quem é o ministro, tais as falas absurdas que já proferiu, todas elas gravadas em vídeo e disponíveis no youtube.

Para começar, Milton Ribeiro se opõe radicalmente à continuidade do Bolsa Família e de todos os programas sociais que existem hoje no país. Ataca a liberdade sexual que haveria nas universidades. Condena o uso da pílula anticoncepcional. Para ele, há uma prática sexual sem limites, quando o mais importante é o momento e não se “A, B se é homem, se é mulher, se é esse, se é aquele, se é velho ou se é novo. Não interessa. O que interessa é o momento”, afirmou.

Criança “deve sentir dor”

O novo ministro é a favor do uso de práticas “severas” no ensino de crianças. Em vídeo, publicado pela Igreja Presbiteriana Jardim da Oração, ele afirma que é preciso “deixar marcas” nos filhos. “Não iremos conseguir isso (educar as crianças) por meios justos e suaves. Deve haver rigor. Severidade. Talvez, algumas mães fiquem com raiva de mim. (As crianças) devem sentir dor”, disse.

Para o ministro, cabe ao homem assumir o controle de sua família e decidir quais rumos tomar. “Ele deve se impor, porque quando o homem não assume esse papel, a família é atacada por inimigos. Segundo a Bíblia, o homem é a cabeça do lar, ele aponta o caminho que a família vai tomar”, disse Ribeiro.

Avançando mais a análise, para o novo ministro, o feminicídio (assassinato de mulheres em contexto de violência doméstica ou em aversão ao gênero), não passa de “paixão louca”. Em vídeo de 2013, Ribeiro explica que o assassinato de mulheres, às vezes, é uma confusão entre paixão com amor. Ao comentar um caso que aconteceu à época em que gravou o vídeo, Ribeiro justificou o crime, culpando a jovem de 17 anos assassinada pelo namorado de 33 anos; “ela pode ter dados sinais a ele que estava apaixonada ou coisa do tipo e que ela aprendeu, está acostumada a passar, e o cara entendeu assim, só que não era nada daquilo. E a criança pode fazer isso. E o cara, o pedófilo está pensando que a criança está querendo alguma coisa com ele, mas o que ela está fazendo é uma replicação daquilo que ela vê de maneira indevida na tevê aberta”, afirmou Ribeiro. Milton Ribeiro também é terminantemente contra o casamento entre homossexuais. São raciocínios como esses que levam os fundamentalistas islâmicos, por exemplo, a obrigarem as mulheres a usarem burca nas ruas e proibi-las de frequentarem locais públicos, quando outros homens estiverem presentes.

Milton Ribeiro é Segundo-tenente R2 (Armas de Infantaria) do Exercito. Mas não seguiu carreira.


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