Pesquisa rápida pela internet lê-se que DJ (em inglês) significa “Disck Jockey”. Você, leitor, com certeza já deve ter ouvido essa expressão. Sabe o que significa? “DJ (dee jay)” é usado para designar um artista responsável por transmitir música (muitas vezes de sua autoria) na rádio, televisão ou em qualquer local onde se ouça música. Conceito original que foi alterado, ao longo dos anos, devido ao avanço das novas tecnologias.

Alguns dos mais famosos DJs no mundo são: DJ Tiesto, Paul Oakenfold, Armin Van Buuren, David Guetta, Moby, Fatboy Slim, Carl Cox e The Chemical Brothers. No Brasil, alguns dos mais famosos são: Mario Fischetti, Tiko's Groove, Gui Boratto, etc. No entanto, o que talvez você ainda não saiba, é que o primeiro DJ do Brasil, é negro, morador da Zona Norte e, apesar dos seus 87 anos de idade, ainda está em plena atividade (foto da capa). Nascido em Muzambinho, MG, DJ Oswaldo, ou Oswaldo Pereira, mudou-se para São Paulo aos 12 anos e instalou-se, desde então, na Casa Verde, Zona Norte. Descendente de escravizados africanos, das terras hoje conhecida como Moçambique, DJ Oswaldo foi o precursor na discotecagem no país, lá no início dos anos 50, quando alegrava desde festinhas do bairro, passando por casamentos até os grandes bailes. O nosso primeiro DJ conversou com a repórter Hillary Dandara sobre seu início de carreira, suas experiências e contou histórias deliciosas da nossa gente.

 

Hillary – Sr. Oswaldo, como tudo começou o gosto pela música?

DJ Oswaldo – Eu tomei gosto pela música, desde criança. Eu me lembro que em Muzambinho tinham dois clubes; o clube dos brancos e o clube dos negros, chamado Frente Negra. Meus pais me levavam lá. Eu também costumava ir aos bailes fora da cidade, com minha irmã mais velha. No Frente Negra, eu adorava ficar no meio dos  músicos, enquanto eles tocavam. Lembro também que quando eu ia entregar as roupas que minha mãe lavava para as madames da cidade, eu gostava de parar todos os dias num bar, mais ou menos às 7h30, para ouvir “O Guarani” (obra de Carlos Gomes), que tocava quando ia começar a Hora do Brasil. Eu ia no cinema da cidade, para ouvir as músicas do Francisco Alves, antes de começar o filme. E eu ficava admirado com a ideia de como seria possível sair música da caixinha do rádio. Então, quando vim pra São Paulo, iniciei um curso de técnico-eletrônica e comecei a trabalhar em montagens de aparelhos de rádio e televisão. Em seguida, fui trabalhar numa loja, perto da Av. Rio Branco, e surgiu a oportunidade de montar o meu próprio aparelho de som, além disso, nas festas que a gente ia, a minha principal função era ficar colocando as músicas pra tocar. E aí eu peguei o jeito.

 

Hillary – Aí, o senhor começou a trabalhar com música...

DJ Oswaldo – Nessa época, final dos anos 50, eu montei um aparelho de som para uma festa em Itapevi (na Grande São Paulo). Lá o dono da festa me convidou para fazer o que antigamente se chamava “domingueiras”, das 18h à meia-noite. Depois, fui convidado para trabalhar em bailes, das 22h às 4 da manhã, numa casa chamada “Ambassador”, na Av. Rio Branco, 82, perto do Largo Paissandu, que já não existe mais. Foi aí a minha estreia como DJ.

 

Hillary – E esse aparelho que o senhor montou?

DJ Oswaldo – Um amigo disse que a gente tinha que batizar o aparelho. E a gente deu o nome de “Orquestra Invisível Let’s Dance”. A partir daí, eu fiquei conhecido do pessoal que frequentava os bailes, pelas músicas que eu tocava e pela qualidade do som do aparelho. Na loja em que eu trabalhava, tinha o privilégio de ver o catálogo dos discos e ficava com alguns pra mim, principalmente de jazz. A coisa foi crescendo e foram surgindo outras equipes.

Hillary – E o senhor ainda continua trabalhando?

DJ Oswaldo – Eu nunca poderia imaginar que ainda estaria trabalhando. Em 2003, a jornalista Claudia Assef me procurou porque queria escrever um livro sobre o primeiro DJ do Brasil. Três meses depois, me levou para o lançamento do livro “Todo DJ já Sambou”, na Praça Benedito Calixto. Na época eu estava inativo e encontrei um esquema organizado e uma aparelhagem muito moderna para eu operar. Engraçado, eu me lembro que, em 1968, eu inventei um mecanismo no aparelho de som que emendava uma música na outra, mas o pessoal não gostou muito, porque num LP, o espaço entre as músicas era para as damas trocar de cavalheiros. Com a emenda não dava pra trocar de par. E agora, essa emenda é meio que uma exigência. A partir daquele momento, depois de tantos anos inativo, voltei a trabalhar e não parei mais. Viajei pra vários lugares do País. E o livro já está na 3ª edição.

 

Hillary – Seu Oswaldo, muita gente deve abordar o senhor pedindo conselhos sobre a carreira, o que o senhor diz para essas pessoas?

DJ Oswaldo - Eu sempre digo pra as pessoas que me procuram e me perguntam como fazer pra ser DJ, primeiro, observem bem o que as pessoas estão ouvindo e como estão dançando, antes de comprar aparelhagem. O material é caro e o segredo de tudo é fazer o pessoal dançar. Se não fizer, não funciona. É preciso muito feeling. Depois que “esquenta”, você encaixa todas as músicas...e aí vai embora! O pessoal do hip hop sempre me convidou para participar com eles. Eu fico ouvindo quieto no meu canto, só observando, pra depois fazer alguma coisa.

Após a entrevista, Oswaldo revelou que não ficou parada no tempo e diz ter, aproximadamente, 3 mil músicas em seu computador e não vê a hora de acabar essa pandemia e voltar a “discotecar” e embalar os bailes paulistas.

 

Hillary Dandara, especial para o CCN Notícias