Apurados 100% das urnas neste 2º turno das eleições municipais, o candidato Bruno Covas foi reeleito prefeito de São Paulo com 59% dos votos válidos (3,1 milhões de votos). Já o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, obteve 41% dos válidos (2,1 milhões de votos).
Covas prometeu não deixar a Prefeitura da Capital como fez seu antecessor, João Dória jr., que após ganhar as eleições, em 2016, e prometer que cumpriria o mandato até o fim, em 2018, candidatou-se ao governo do Estado e a entregou a Prefeitura a Covas, o seu vice.
Em seu discurso de agradecimento, Covas prometeu “governar para todos, a partir de amanhã”. Segundo ele, não existirá distrito azul ou vermelho, mas a cidade de São Paulo, repetindo, sem muita criatividade, o discurso de Joe Biden, eleito presidente dos EUA.
De braços dados com ele, estava o governador do Estado, João Dória Jr. Ao discursar, Dória deu um recado a Bolsonaro; “restam poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”, talvez, de olho nas eleições de 2022. Dória disse que irá transformar diferenças em consensos, sem explicar o que isso quer dizer.
Doria disse ainda que Bruno Covas fez uma campanha sem fakenews, mentiras e ataques.
Polêmicas e atritos
Bruno Covas assumiu a prefeitura de São Paulo, após o prefeito eleito nas eleições de 2016, João Dória Jr. ter deixado a prefeitura para concorrer ao governo do Estado. Ao assumir, de lá pra cá, a gestão Covas (agora prolongada até 2024) foi marcada por polêmicas e atritos.
Em certo sentido, foi uma continuidade da gestão Dória. Viagens inexplicáveis, aumento do IPTU em 50% para os pobres; contratos emergenciais inexplicáveis; desemprego recorde; aumento do desconto da alíquota do funcionalismo para a Previdência de 11% par 14%, enquanto recusou-se a reajustar os salários da categoria; desmonte os hospitais de emergência no Pacaembu e no Anhembi, após o avanço da Covid-19 estagnar entre as classes A e B; fechamento de hospitais públicos, o que agravou a situação sanitária na pandemia; fechamento de farmácias nas UBS, AMAs e Bases do SAMU; privatizações do patrimônio público; não realização de obras de zeladoria, dando a sensação de abandono da cidade; baixo investimento em obras viárias de combate às enchentes; baixo investimento nos equipamentos públicos, como escolas e CEUs; baixo ou quase nenhum investimento na Cultura, com congelamento, cortes e suspensão dos programas de financiamento; extinção das Secretarias da Mulher e da Promoção e Igualdade Racial, entre outras iniciativas.
Bruno Covas chegou a mentir durante a realização de um debate nestas eleições. Disse que havia herdado uma cidade endividada pela gestão anterior (que era a de Dória, mas preferiu atacar a gestão de Fernando Haddad, do PT). No dia seguinte, tanto o próprio Fernando Haddad, quanto a insuspeita Folha de S.Paulo desmentiram o então candidato. Haddad, na verdade, deixou R$ 5 bilhões em caixa.
Acusações não param por aí
Estas eleições foram recheadas de acusações. Muitas delas precisam ser esclarecidas pelo, agora, prefeito eleito Bruno Covas.
Aliados do então candidato foram flagrados distribuindo cestas-básicas, há três dias das eleições (na quinta-feira, 26) na região da Brasilândia, na Zona Norte da Capital. Participaram da “ação” carros de som adesivados com o número do PSDB e do candidato e tocando o jingle da campanha.
A iniciativa foi de uma entidade chamada Movimento Social Beneficente, comandada por Edmilson Almeida da Silva, presidente do Diretório Zonal do PSDB, na Brasilândia. Ele confirmou a distribuição das cestas, mas argumentou que não se tratava de campanha política de Bruno Covas.
Outra distribuição de cestas foi verificada no distrito de Marsilac, extremo-sul da cidade. O assessor da subprefeitura de Parelheiros, Vagner Fernandes, divulgou um vídeo que registrava a ação. Um carro da Secretaria da Habitação acompanhava o “evento”.
Covas anuncia “bônus” e pede voto
O próprio candidato, Bruno Covas, fez uma live nas redes sociais, menos de 24 horas antes do início das eleições, afirmando que iria pagar um bônus financeiro aos funcionários da rede terceirizada da prefeitura. Em seguida, agradece o apoio e convoca os beneficiados para redobrarem a militância. Ou seja, pediu voto.
O que dizem especialistas?
O criminalista e professor da PUC-SP, Fernando Hideo, em entrevista à Carta Capital, reconhece elementos que indicam a ocorrência de crime eleitoral no caso do fornecimento de cestas básicas. “A oferta de cesta básica caracteriza vantagem entregue aos eleitores e os sinais que identificam a campanha do Bruno Covas indicam, em tese, a finalidade de obtenção de voto”, afirma. O criminalista basea-se no artigo 299 do Código Eleitoral, que prevê reclusão de até quatro anos.
Já o professor em direito eleitoral Alexandre Rollo, também disse à Carta Capital, que a discussão pode girar em torno da vinculação ou não à campanha de Bruno Covas.
Para o jurista Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, ao confundir a posição de prefeito com a de candidato, Bruno comete flagrante ilegalidade eleitoral.
“No papel de candidato ele está usando a máquina pública para mobilizar, por meio da rede terceirizada de serviços da prefeitura, os beneficiados para a reta final de campanha”, diz. “Anunciar o bônus, agradecer o apoio e convocar para novas iniciativas eleitorais é gravíssimo. Esse gesto precisa ser apurado com rigor”.
O que dizem Bruno Covas e a Prefeitura
A assessoria do prefeito e candidato à reeleição, Bruno Covas, declarou em nota que a campanha não distribuiu cestas básicas e que esse tipo de conduta esteja sendo compartilhada e acusa a informação de “fakenews”.
No entanto, pelo vídeo da entrega das cestas terem “viralizado” nas redes sociais, a Prefeitura reconheceu que houve distribuição de cestas básicas na Brasilândia. A candidatura de Guilherme Boulos prometeu tomar “as medidas cabíveis”. A Guarda Civil Metropolitana abriu sindicância.
Tanto vereador quanto prefeitura negam qualquer irregularidade e em sua defesa, a campanha de Covas diz que não há contra ele nenhum processo judicial ou acusação concreta.
O vice de Covas também tem problemas
Enquanto Luíza Erundina, 85 anos, vice de Boulos, cumpriu toda a agenda política de campanha, o vice de Bruno Covas, vereador Ricardo Nunes, do MDB, foi literalmente escondido pelos tucanos por ter um comportamento polêmico e desaconselhável. O objetivo era tirá-lo do foco. Não compareceu, por exemplo, a uma sabatina organizada pelo portal UOL e jornal Folha de S.Paulo e mentiu na tribuna da Câmara dizendo que “não recebeu o convite”.
Nunes foi alvo de um Boletim de Ocorrências feito por sua mulher. Segundo ela, o vereador e vice na chapa de Covas, a teria agredido. Mais tarde, a mulher disse que não se lembrava de ter feito o B.O. Claro, que as redes sociais não deixaram por menos, e publicaram o B.O.
Nunes também é peça central em outro crime eleitoral cometido pela candidatura de Bruno Covas, que precisa ser explicado; a organização de uma campanha, com a participação do Secretário Municipal de Educação, Bruno Caetano, entre os diretores das creches conveniadas para pressionarem os funcionários e os pais dos alunos a votarem em Covas, caso contrário, as Creches, com a vitória de Boulos, seriam fechadas. Em relação às creches conveniadas, Nunes responde a uma investigação da promotoria do Patrimônio Público e Social do Ministério Público do Estado de São Paulo que apura indícios de superfaturamento no aluguel dessas creches, além de outras irregularidades, como o pagamento a uma dedetizadora pertencente a sua família para executar serviços nessas creches. O candidato Guilhermo Boulos moveu ação no Tribunal Superior Eleitoral pedindo abuso de poder econômico.