Em primeiro lugar, há que se colocar os pingos nos “is”, sob pena de haver distorções na análise. Para entender o resultado do quadro eleitoral que surgiu das urnas em 29 de novembro, é preciso entender que há no País dois campos políticos: o conservador e o progressista.
Esses campos, porém, não são homogêneos. Pelo contrário, disputam ferrenhamente o controle político do campo.
No Campo Conservador, há três blocos de partidos distintos, além de um outro bloco que, nem o mais genioso analista, poderia identificar. São eles: a) bloco bolsonarista, formado por Republicanos, PSL, PSC, Patriotas e PRTB; b) o chamado Centrão, formado por PSD, PP, PL, Solidariedade, PROS, PTB, Avante, PMB, DC, PMN e PTC; c) e o bloco neoliberal formado por PSDB, MDB, DEM e Novo.
Os indefinidos, que estão no limbo da política e não se expressam com clareza para os eleitores são; Podemos, PV e Cidadania. Pendulam pra cá ou pra lá conforme o vento sopra. Mas, sempre no campo conservador.
Já o Campo Progressista é formado por dois blocos: a) a centro-esquerda, formada por PSB, PDT e Rede; e a esquerda, formada pelo PT, PSOL e PCdoB.
Em segundo lugar é preciso pontuar que é necessário verificar o número de votos que cada partido teve no primeiro turno das eleições, bem como o número de prefeituras conquistadas. Não se deve contar o 2º turno, porque, como se sabe, adquire nova configuração política, ao contrário do 1º que é quando cada partido aufere a sua força popular.
Tendo isso bem claro, já é possível fazer as contas e tirar conclusões.
Comparando-se os resultados das eleições de 2016 com os de 2020 é seguro afirmar que houve uma vitória flagrante do Campo Conservador. Os partidos que mais cresceram em número de votos foram, entre os partidos bolsonaristas, o PSL e o Patriotas. Já no Centrão, foram o Avante, o PROS, o PSD e o PP. Os bolsonaristas praticamente dobraram a votação. Em 2016, obtiveram 6,5 milhões de votos e em 2020, 12,9 milhões. O Centrão, saíram de 25,9 milhões, em 2016, para 31,1 milhões, em 2020. Não é à toa que Bolsonaro, por inúmeras razões, abandonou seus discursos raivosos contra a “velha política”, acenou ao centro, distribuiu cargos e verbas à vontade e, hoje, cogita filiar-se ao PP. Não é à toa também que este bloco político, hoje, está com Bolsonaro. Amanhã, quem sabe?
No outro lado desse campo conservador, a direita neoliberal, formada pelos partidos que lideraram o golpe de Estado contra Dilma Rousseff, em 2016, sofreu uma grande derrota pelo peso e importância que têm no cenário político, embora o DEM tenha crescido. Os partidos que mais perderam foram o PSDB que despencou de 17,6 milhões de votos em 2016, para 10,7 milhões de votos em 2020. O MDB também sangrou, foi de 15 milhões em 2016, para 10,9, em 2020.
Por que a grande mídia faz uma análise diferente dessa? É porque cometem o erro de agrupar o campo conservador em dois blocos apenas: o bolsonarista de um lado e o neoliberal, de outro, acrescido dos partidos de centro. Por isso, a Globonews e seus seguidores batem na tecla de que os “extremos perderam” e o centro se fortaleceu. Passam o pano para as derrotas do PSDB e do MDB e da centro-esquerda. Evidente, que é preciso verificar o que aconteceu em alguns grandes centros. Em São Paulo, o PSDB emplacou (sob suspeita de irregularidades) Bruno Covas e o DEM, Eduardo Paes, no Rio de Janeiro. Além da popularidade de Bolsonaro ter despencado nos grandes centros. O problema é que as eleições municipais não influenciam as eleições presidenciais. Isso é uma outra história.
O campo progressista também foi derrotado. Caiu de 26,6 milhões de votos, em 2016, para 21,3 milhões, em 2020. Os partidos desse campo que mais perderam votos foi o PSB, a Rede e o PCdoB. O Partido dos Trabalhadores que é apontado na grande mídia e seus seguidores como o "grande perdedor das eleições", teve mais votos em 2020 do que em 2016: de 6,7 milhões para 6,9 milhões. Evidente, que o peso de não ter conquistado nenhuma capital conta bastante para a narrativa da derrota. Mas, reconquistou cidades de médio porte. Duas delas no ABC paulista. O mesmo sentimento recai sobre o PSOL que, apesar de circunscrito a São Paulo, obteve importante votação com Guilherme Boulos, e compondo a segunda maior bancada na Câmara Municipal com seis vereadores.
Em resumo: Os dois grandes derrotados nessas eleições foram o bloco neoliberal (PSDB e MDB à frente) e a Centro-Esquerda (PDT e PSB à frente). A esquerda estagnou-se no geral em relação a 2016. O que, na verdade, é ruim porque há quatro anos, a derrota foi espetacular. O PT continua sendo, apesar de tudo, o único partido de esquerda que tem inserção em todos os Estados. E em várias prefeituras em que a centro-esquerda ou a esquerda venceram, o Partido está na composição das chapas vitoriosas.
ELEIÇÕES 2020 – 1º TURNO
CAMPO CONSERVADOR |
||||||||||
DIREITA BOLSONARISTA |
||||||||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
||||||
Republica |
3.882.124 |
103 |
5.105.457 |
208 |
||||||
PSC |
1.761.906 |
87 |
2.134.869 |
116 |
||||||
PSL |
487.592 |
30 |
2.792.016 |
90 |
||||||
Patriotas |
286.493 |
1 |
2.052.761 |
48 |
||||||
PRTB |
162.418 |
9 |
834.606 |
6 |
||||||
TOTAL |
6.580.533 |
242 |
12.919.709 |
468 |
||||||
CENTRÃO |
||||||||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
||||||
PSD |
8.085.600 |
537 |
10.615.207 |
650 |
||||||
PP |
5.747.833 |
495 |
7.573.697 |
682 |
||||||
PL |
4.553.814 |
294 |
4.672.856 |
345 |
||||||
PTB |
3.559.753 |
254 |
2.679.903 |
212 |
||||||
Solidariedade |
1.469.099 |
60 |
1.948.580 |
93 |
||||||
PMN |
801.407 |
28 |
159.284 |
13 |
||||||
PROS |
687.250 |
50 |
1.359.084 |
40 |
||||||
PMB |
291.804 |
3 |
62.060 |
1 |
||||||
PTC |
270.056 |
16 |
206.960 |
1 |
||||||
Avante |
267.680 |
12 |
1.678.622 |
80 |
||||||
DC |
211.648 |
8 |
242.846 |
1 |
||||||
TOTAL |
25.945.944 |
1.757 |
31.199.099 |
2.118 |
||||||
DIREITA NEOLIBERAL |
||||||||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
||||||
PSDB |
17.633.653 |
785 |
10.701.951 |
512 |
||||||
MDB |
15.026.090 |
1035 |
10.924.918 |
774 |
||||||
DEM |
4.937.238 |
266 |
8.300.991 |
459 |
||||||
NOVO |
38.512 |
- |
420.612 |
- |
||||||
TOTAL |
37.635.193 |
2.086 |
30.348.472 |
1.745 |
||||||
SEM DEFINIÇÃO |
||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
Cidadania |
2.629.900 |
117 |
2.562.056 |
139 |
PV |
1.674.983 |
98 |
721.001 |
47 |
Podemos |
1.655.094 |
29 |
3.307.230 |
96 |
TOTAL |
5.959.977 |
244 |
6.590.287 |
282 |
CAMPO PROGRESSISTA |
||||||||
CENTRO-ESQUERDA |
||||||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
||||
PSB |
8.407.656 |
403 |
5.238.449 |
250 |
||||
PDT |
6.404.512 |
331 |
5.318.595 |
311 |
||||
REDE |
995.447 |
4 |
387.034 |
5 |
||||
TOTAL |
15.807.615 |
738 |
10.944.078 |
566 |
||||
ESQUERDA |
||||||||
PARTIDOS |
2016 |
PREFEITURAS |
2020 |
PREFEITURAS |
||||
PT |
6.795.749 |
254 |
6.972.246 |
179 |
||||
PSOL |
2.099.382 |
2 |
2.236.455 |
4 |
||||
PCdoB |
1.940.600 |
80 |
1.184.609 |
46 |
||||
UP |
- |
- |
16.960 |
- |
||||
TOTAL |
10.842.526 |
336 |
10.410.270 |
229 |
||||
RESUMO DAS VOTAÇÕES (excluindo os indefinidos) |
||
CAMPO PROGRESSISTA |
VOTOS |
PREFEITURAS |
2016 |
26.650.141 |
1.074 |
2020 |
21.354.348 |
795 |
TOTAL |
-5.295.793 |
-279 |
CAMPO CONSERVADOR |
VOTOS |
PREFEITURAS |
2016 |
70.161.670 |
4.085 |
2020 |
74.467.280 |
4.331 |
TOTAL |
+4.305.610 |
+246 |
Fonte: TSE