Quando o ex-presidente Lula disse em um vídeo publicado em seu canal do youtube que era preciso “combater a desigualdade”, sabia o que estava falando. O Mapa da Desigualdade 2020, publicado, nesta quinta-feira, 29, pela Rede Nossa São Paulo, comprovou com números e fatos surpreendentes os que se preocupam com o bem-estar do povo sabem por intuição ou experiência política.

Diz o estudo, que um morador da periferia de São Paulo pode viver 23 anos a menos do que um morador de áreas consideradas mais nobres da cidade. O estudo revela, por exemplo, que no bairro Jardim Paulista, a idade média chega a 81,5 anos. Já no Jardim Ângela, Zona Sul, é de apenas 58,3 anos (o pior índice pesquisado).

Segundo o coordenador-geral da Rede Nossa SP, Jorge Abrahão, a desigualdade tem inúmeras razões. Uma delas é a qualidade do serviço de saúde, conforme aponta Ronivon Souza Ribeiro, líder comunitário na região do Jardim Ângela. “As pessoas do Jardim Paulista desfrutam da qualidade do serviço de saúde prestado na região e têm alimentação adequada”, diz. Já Jorge Abrahão diz que, além da qualidade de saúde, há falta de saneamento (que se agravou com a epidemia da Covid-19), habitação, crescimento da violência e da mortalidade infantil que são bastante desiguais.

Segundo o estudo divulgado, na periferia da cidade, chega a faltar água por 16 dias seguidos. O número de infectados e de mortos pela Covid-19 são muito maiores dos verificados nas zonas nobres. O que revela uma relação direta entre as mortes e a desigualdade. O desemprego e a falta de itens básicos de sobrevivência, como energia elétrica de qualidade ou transporte público, também são bem distintos.

A Rede Nossa SP detectou também um certo desânimo das populações periféricas que assistem incrédulas pessoas lucrando e enriquecendo-se ainda mais durante a pandemia, em detrimento do aumento das dificuldades da imensa maioria.

O estudo Mapa da Desigualdade foi realizado nos 96 distritos da capital. Comparou dados, abordou várias áreas da administração pública e verificou serviços e equipamentos públicos.

Às vésperas das eleições municipais, esses números e fatos devem, a partir de hoje, fazer parte do espectro das preocupações dos pretendentes à Prefeitura e à Câmara Municipal. Pelo menos, estarão presentes nos discursos da propaganda eleitoral. Para tirar do papel as promessas que os candidatos fazem, são necessárias adoção e redefinição de políticas públicas, de investimentos e prioridades. “Um compromisso ético”, como diz Jorge Abrahão.