Estamos há 10 dias das eleições municipais. Os problemas da cidade de São Paulo, a maior da América Latina, são imensuráveis. Há carências em todos os setores. Um deles é o saneamento básico e a habitação popular.

O grande desafio para o próximo prefeito é ampliar o acesso aos serviços de saneamento, como abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, manejo das águas pluviais e dos resíduos sólidos. O raciocínio é lógico e simples; o saneamento tem relação direta com a saúde pública, quanto mais saneamento tiver o território, menor a incidência de doenças. Porém, sem uma política habitacional consistente, com construção de moradias para a população de baixa renda e urbanização de assentamentos precários não haverá como reduzir o déficit nesses setores e proporcionar melhor qualidade de vida aos paulistanos, principalmente, da periferia da cidade.

Um ponto crucial a ser debatido e levado a sério pelo próximo prefeito é priorizar a população de baixa renda (de até três salários mínimos), o atendimento das famílias em assentamentos precários, em situação de rua, em áreas de risco e de preservação.

Chama a atenção como as favelas e as chamadas “comunidades” estão estruturadas hoje em São Paulo e ressalta a precariedade com que vivem milhares de paulistanos. São elas as prioridades dos candidatos. Ou deveriam ser.

Nesta quarta-feira, 4 de novembro, foi o Dia das Favelas. Tidas e havidas pela maioria da sociedade como sinônimos de habitações precárias, do retrato da miséria, da fome, da desigualdade, da criminalidade e da violência no Brasil, as favelas são fruto do desprezo e da omissão do Estado. É obrigação do governante municipal dedicar sua gestão para esse segmento.

As favelas

As favelas surgiram na cidade do Rio de Janeiro, em meados do século XIX e depois se espalharam pelo país. O dado concreto é que a primeira favela originou-se em decorrência de três fatos que caracterizaram a sua formação, de modo geral, em todo o país. O primeiro motivo foi a “abolição da escravatura”, quando negros escravizados não contaram com nenhuma proteção do Estado, direitos civis e trabalho remunerado. O segundo motivo foi o destino que tiveram milhares de soldados que voltaram da Guerra de Canudos (1897). A grande maioria, sem moradia na cidade, foram levados, com amparo oficial do governo, a ocuparem uma chácara ao pé de um morro na cidade do Rio, onde já viviam os negros, agora “livres”. O terceiro motivo para o surgimento da favela no Rio, foi a migração da população rural que buscava na cidade melhores condições de vida.

O nome “favela” foi utilizado pela primeira vez, no dia 4 de novembro de 1900, quando o então delegado e chefe de polícia, Enéas Galvão, redigiu um documento endereçado ao Prefeito do Rio de Janeiro relatando que os moradores do “Morro da Providência” eram um “problema social, sanitário, policiais e, até mesmo, moral”. Um raciocínio que, infelizmente, predomina em grande parte da elite e dos governantes do país.

Como na região havia em abundância uma planta chamada “Faveleira”, o tal chefe de polícia batizou os moradores de “favelados” e, daí, o local de “Favela”.

De acordo com o censo de 2010, do IBGE, cerca de 12 milhões de brasileiros vivem em favelas. É uma população estigmatizada que luta diariamente contra o preconceito e a desigualdade. Priorizar a comunidade é reconhecer a sua importância na vida das cidades, sua cultura, sua alegria e garra.