No dia 17 de abril de 2016 (no último sábado), há cinco anos, em transmissão ao vivo pela TV Globo, o Brasil assistia a algumas das cenas mais deprimentes da recente história política do País.

Ao declararem seus votos evocando Deus, família, bons costumes e um Brasil livre da corrupção, 367 deputados federais autorizaram a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Outros 146 deputados votaram contra.

Alguns desses episódios merecem ser lembrados para destacar o nível de hipocrisia e as estratégias perpetradas pelos golpistas.   

Sob o olhar complacente das forças políticas que hoje assinam manifesto em defesa do estado de direito, um ex-capitão do Exército, deputado Jair Messias Bolsonaro, dedicou o seu voto exaltando a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Notório agente da repressão, Ustra torturara Dilma durante a ditadura civil militar.  

As condições para a depor a presidente foram arquitetadas pela elite financeira, parlamentares antipetistas e do hoje centro democrático, além de parte do judiciário e da mídia corporativa.

Para isso, versões seletivas de corrupção sem provas se multiplicaram. Associar corrupção ao PT era a narrativa central da guerra de informação que conquistou parte da classe média.

O golpe não precisou de tanques nas ruas, mas usou sutilezas jurídicas e simbologias. O Pato Amarelo da Fiesp indignava-se com a exploração de tributos pelo governo. Pedaladas fiscais se transformaram em sinônimo de propina.

Dilma ainda sofreu atitudes machistas. Primeiro, lançaram piadas da sua incapacidade intelectual. Editaram-se trechos com falas mostrando desconexão do assunto. E espalharam adesivos na entrada dos tanques de combustível dos carros?

Para além do espetáculo de horrores, o golpe de 2016 teve o objetivo de desmontar o pouco de Estado de Bem-Estar Social construído após muita luta do povo brasileiro.

BRASIL PÓS PANDEMIA – Com a Operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro no comando empresas de construção e a indústria naval foram destruídas. A Lava Jato, que prometia varrer a corrupção, se tornou o maior escândalo jurídico do Brasil.

O impeachment pavimentou o caminho para a entrega das riquezas nacionais como o petróleo do pré-sal e retirou direitos dos trabalhadores com as ditas reformas.     

Com Temer na presidência medidas antipopulares avançaram. Mas havia um risco na eleição de 2018. Por isso, o golpe se consumou com a condenação sem provas do presidente Lula e sua arbitrária prisão.

A prisão de Lula e seu impedimento de concorrer à Presidência abriu caminho para Bolsonaro que, com respaldo de militares da chamada linha dura do regime, venceu a eleição.

Uma vitória após campanha marcada por falta de debates e por estrutura gigantesca de comunicação nas redes sociais. E com impulsionamentos de fake news e apoio maciço das igrejas evangélicas.

Apesar da sua máquina de mentiras ainda continuar a funcionando, hoje o resultado é catastrófico. O País quebra recordes de desemprego com mais de 14,3 milhões de pessoas sem trabalho. A carestia voltou a rondar os lares brasileiros. Já são 27 milhões de brasileiros passando fome.  

O Brasil atingiu 365 mil mortes pela Covid-19, muitas das quais poderiam ser evitadas não fosse o negacionismo do presidente. O País tem o seu quarto ministro da Saúde na pandemia e registra mais de 4 mil óbitos diários.

O colapso no sistema de saúde chegou com a falta de leitos, carência de medicamentos para intubação e oxigênio.  

Mas o cenário agora ganhou alento com a anulação pelo STF da condenação do presidente Lula e o retorno dos seus direitos políticos.  

Após tanto sofrimento o mundo pós pandemia tem que ser diferente. O País precisa resgatar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e protetor do cidadão.  

No Brasil pós pandemia, a saída é a recuperação econômica com distribuição de renda. Em tempos não tão distantes, a esperança venceu o medo. Agora, a esperança vai vencer o ódio.

* Juliana Cardoso é vereadora (PT), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo. E integrante da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança.