Há alguns dias, li um artigo na Internet sobre a fome no Brasil. Assinado por Renato Maluf, Presidente da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), é ex-presidente do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional); Ana Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede Penssan; e Rosana Salles, nutricionista e pesquisadora da Rede Penssan.

Logo de saída, o artigo nos coloca do dado aterrador de que mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome, o que representa um acréscimo de 14 milhões de famintos em apenas um ano. Mostra também que mais de 125 milhões sofrem de alguma insegurança alimentar, o que representa mais de 58% da população do nosso país. Mais adiante, os articulistas nos lembram de que, em 2004, 64,8% das famílias estavam em segurança alimentar, chegando a 77,1% em 2014.

É preciso que nos conscientizemos de que a fome é um problema estrutural no Brasil e não um fenômeno natural. A existência de pessoas miseráveis e famintas é consequência direta das escolhas políticas, resultado das políticas governamentais e da inação do poder público e de parte da sociedade em relação ao problema. Se um país opta por atender os interesses das camadas já privilegiadas em detrimento da maioria da população, o resultado será o aumento da desigualdade, da pobreza e da fome.

Essa questão me preocupa muito e não é de hoje. O sindicato ao qual sou filiada e do qual sou presidente licenciada, a APEOESP, vem atuando há muitos anos para que se garanta nas escolas alimentação adequada e também para que os próprios profissionais da educação tenham acesso a esta alimentação. Tanto assim que a entidade tem assento no Conselho Estadual de Alimentação Escolar.

Tão logo assumi o mandato de deputada estadual, preocupei-me em reunir especialistas e pessoas envolvidas no tema, como a chef Janaína Rueda, que tem propostas nessa área, e formulamos o projeto de lei 891/2019, que institui o Programa Estadual de Alimentação Escolar, lamentavelmente vetado pelo então governador João Doria. Nós precisamos derrubar esse veto. No meu entendimento, a escola é parte da luta contra a fome, porque para a escola pública vão as crianças pobres, filhas e filhos da classe trabalhadora. Na escola, muitas vezes, a criança e jovem fazem sua única refeição nutritiva. E os estudos demonstram o nexo direto entre alimentação adequada e a aprendizagem escolar.

O Brasil é um grande produtor de alimentos e seu povo passa fome. Essa é grande contradição que impede nosso país de progredir, como vinha fazendo entre 2003 e 2015. Os dados estatísticos demonstram que um caminho mais promissor estava sendo trilhado. Ou seja, é possível e necessário mitigar a fome da população, ao mesmo tempo em que o país passe a executar políticas estruturantes para gerar mais empregos, renda e oportunidades. O povo quer e precisa trabalhar. Quem tem fome, tem pressa, dizia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Que essa seja a nossa pressa também.