O terceiro governo Lula de fato já começou, dois meses antes da posse. Lula já representa o Brasil perante as nações do mundo e já toma decisões sobre o futuro do país, em interlocução com o atual Congresso Nacional, com os partidos políticos, movimentos sociais e sociedade civil organizada. Sua equipe de transição reflete o arco de forças que o apoiou, mas a diretriz é clara: cumprir imediatamente o compromisso com o combate à fome e à miséria no país, com a preservação do meio ambiente e com a construção de bases para o desenvolvimento sustentável não apenas no Brasil, mas no mundo. Como disse Lula, na COP27 no Egito, temos um único planeta e a vida de todos depende da sua preservação.

O governo Lula já começou não apenas porque o atual mandatário abandonou o posto, deixando nas ruas e em frente a quartéis uma turba de golpistas inconsequentes que tarda a ser desmobilizada. Começou porque a tarefa de reconstruir o país é urgente e inadiável. É urgente e inadiável aprovar as bases legais e orçamentárias para a volta do Bolsa Família, para o aumento deste auxílio de R$ 405,00 para R$ 600,00, para a criação do adicional de R$ 150,00 para cada filho até 6 anos de idade, para o descongelamento do valor per capita da alimentação escolar, para o aumento real do salário mínimo, enfim, para medidas emergenciais que vão permitir à população mais pobre o mínimo de dignidade, mas porque também irão contribuir para o reaquecimento da nossa economia.

Evidentemente, a volta do crescimento econômico depende também de outros fatores, e o presidente Lula tem acenado com iniciativas do Estado brasileiro neste sentido, como a retomada de obras e medidas para aquecer um setor fundamental, que é o da construção civil. Mas a simples volta de um presidente sério ao governo brasileiro já despertou sinalizações muito positivas em termos de investimentos no nosso país. Alemanha e Noruega anunciaram que irão descongelar o Fundo Amazônia, para preservação da floresta. O governo alemão irá conduzir um processo de investimentos na indústria brasileira. A China também pretende negociar com o Brasil sua inserção na chamada “nova rota da seda”, que já congrega 140 países e beneficia seus membros com investimentos e transferência de tecnologia. O Brasil voltará a ser protagonista dos BRICs (reunindo Brasil, Rússia, Índia e China), voltará a priorizar o Mercosul e seus mercados e, também, retornará ao seleto G-20, que reúne as principais economias do mundo.

Entretanto, há grandes obstáculos a enfrentar. E eles já surgiram com força e espaço na grande mídia, buscando preservar os interesses do capital especulativo em detrimento dos compromissos sociais sufragados nas urnas com a eleição do presidente Lula. As reações às iniciativas da equipe de transição e às declarações do novo presidente contra as limitações do teto de gastos para o desenvolvimento das medidas emergenciais provocou alvoroço exatamente onde era esperado: no chamado “mercado” e seus representantes nos meios econômicos e veículos de comunicação.

Em primeiro lugar, é uma balela dizer que a exclusão das medidas sociais do teto de gastos quebrará o Brasil. O que quebra o Brasil são sucessivas quebras do teto para uso em medidas eleitoreiras ou voltadas à compra de votos, como reiteradamente fez o governo Bolsonaro durante quatro anos, sob o silêncio conivente do tal mercado. Onde foram parar cerca de R$ 750 bi, resultados dos furos no tal teto de gastos realizados por Bolsonaro em seu governo? O que Lula negocia neste momento é a exclusão de R$ 175 bi do teto de gastos em medidas que permitirão a milhões e milhões de brasileiros voltarem ao mercado consumidor, beneficiando a economia e, portanto, fazendo com que parte desse valor retorne ao Estado por meio da arrecadação de impostos. As medidas também irão beneficiar a produção de alimentos, reaquecendo o setor agrário, sobretudo a agricultura familiar, já presente na cesta de fornecedores da alimentação escolar, por exemplo.

Obviamente, o chamado mercado não é composto apenas de especuladores. Porém, é o grupo ligado ao capital financeiro, que lucra especulando na bolsa e recebendo juros e dividendos da dívida pública, que comanda a resistência à política social do novo governo. Esse setor abocanha quase metade do orçamento federal e é hora de inverter essa lógica. Lula não é um governante irresponsável e já demonstrou isso em oito anos de governo. Ele não pretende dar um calote que inviabilize e economia, a governabilidade e a inserção do Brasil no mundo. Mas já demonstrou que não será um escravo dos interesses especulativos que fizeram a festa durante o atual governo.

Para isso, precisará do apoio ativo de quem lutou e luta pela reconstrução do nosso país. E isso começa já na posse. Seremos muitos e muitos, milhares em Brasília no dia primeiro de janeiro de 2023 e simbolicamente subiremos a rampa do Planalto com o nosso presidente.