No dia 16 de março, centenas de mulheres participaram do Grito das Mulheres em Defesa da Vida, realizando uma caminhada pelas ruas do centro de Piracicaba para denunciar o feminicídio, o machismo, a violência contra a mulher, e reivindicar mais políticas públicas, proteção e melhor atendimento às vítimas da violência de gênero.

O mais recente caso de feminicídio em Piracicaba ocorreu na madrugada de 10 de março, um domingo, quando o ex-namorado da jovem Camila Cristina Galdino atirou contra ela à queima-roupa e também matou um dos donos do bar onde ela se encontrava, por tentar defendê-la. É mais uma evidência da letalidade da cultura machista que considera a mulher extensão e propriedade de seu marido, companheiro, noivo ou namorado, sem direito a vida própria e sem o direito de dar um basta a relacionamentos opressivos.

Dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública mostram que o Estado de São Paulo tem a maior taxa de feminicídios do Brasil. Foram registrados 221 crimes, em 2023, 26 apenas no mês de dezembro. Em 2022, houve 195 feminicídios e, em 2021, 140. Ou seja, o número está aumentando expressivamente. Outros casos de agressões contra mulheres também passaram de 52.980, em 2022, para 60.000, em 2023.

Isso denota o peso da sociedade patriarcal sobre a vida das mulheres, mas evidencia também a reação machista aos ainda insuficientes avanços que as mulheres vêm conquistando. Como mulher, professora, liderança sindical, deputada estadual, vivenciou variadas manifestações de machismo e misoginia – que é ódio patológico que alguns homens nutrem contra as mulheres, sobretudo aquelas que se destacam. Isto ocorre em muitos ambientes e situações, inclusive no movimento e até mesmo no parlamento. Recentemente nossa companheira vereadora Rai de Almeida recebeu pesadas ameaças anônimas por email.

Ameaças e agressões não nos farão recuar. Não consideramos outra possibilidade que não continuarmos lutando e avançando. O custo é muitas vezes alto demais, mas não podemos recuar. Na condição de Procuradora Especial da Mulher na Assembleia Legislativa de São Paulo, recebo um número muito grande de denúncias, muitas delas relacionadas com o exercício do mandato de vereadoras em diversas Câmaras Municipais do nosso estado. Muitas vezes o assédio e as agressões ocorrem durante as sessões legislativas, à vista de todos e são registrados em vídeo. Isso ajuda a formar os processos contra os agressores.

Como deputada estadual, apresentei vários projetos visando prevenção e proteção das mulheres. Um deles é o Rede Segura, que pretende estabelecer um sistema, contando com a adesão de estabelecimentos comerciais e instituições e espaços públicos, nos quais a mulher poderá realizar denúncias e buscar amparo imediato. Outro projeto visa a instalação de totens, com câmeras e tela, localizados em locais ermos e pontos de ônibus, por meio do qual a mulher que se sentir ameaçada poderá dialogar com integrantes de órgãos de segurança, que poderá ver o que se passa naquele local. Também protocolei projeto que estabelece uma pensão especial para mulheres vítimas de violência, entre tantos outros.

Neste ano, coloco-me como pré-candidata a prefeita de Piracicaba pelo Partido dos Trabalhadores. Embora segurança pública seja atribuição majoritariamente do Governo do Estado, se minha candidatura for homologada pelo meu partido, pretendo dar muita atenção ao tema, sobretudo no que se refere à segurança das mulheres. Um dos pontos pelo qual venho lutando há muito tempo é a Delegacia da Mulher com funcionamento 24 horas. E mais: com pessoal capacitado para atender com gentileza e eficiência as mulheres que procuram essa delegacia exatamente quando estão passando por situações terríveis. Merecem amparo e respeito.

Acredito que o poder público, em todas as suas esferas, tem obrigações incontestáveis em relação à segurança pública de forma geral e também com a relação à proteção e políticas para as mulheres. No caso das prefeituras ela passam, por exemplo, pela iluminação das ruas e vielas das periferias, pela retirada do mato e entulhos que possam servir de esconderijos para agressores e outros criminosos, pela multiplicação de postos de saúde capacitados a atender as mulheres em suas especificidades, pela introdução nos currículos escolares das noções básicas de cidadania e direitos das mulheres, para a formação de uma consciência coletiva anti-machista e muitas outras medidas.

Neste mês das mulheres que está se encerrando, o Grito das Mulheres em Defesa da Vida em Piracicaba mostrou que as mulheres estão ativas e dispostas a luta pela vida, por cada palmo conquistado e por mais e melhores conquistas.