No ensejo do Dia Internacional de Luta das Mulheres, estou feliz e orgulhosa pela conquista do Oscar de melhor filme internacional para Ainda Estou Aqui, que conta a história de Eunice de Paiva, mulher que é exemplo de resiliência, tenacidade e luta para elucidar o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ao mesmo tempo em que conduzia com dificuldades sua família de cinco filhos, quatro deles crianças, em meio ao autoritarismo da ditadura militar brasileira.

Superando a tragédia, conseguiu finalmente que o Estado admitisse o assassinato de seu marido, por meio da Comissão da Verdade, instituída pela presidenta Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que se formou em advocacia e passou a defender os direitos dos povos indígenas.

A luta das mulheres brasileiras vem de décadas e décadas de avanços duramente conquistados e obstáculos erguidos por uma sociedade marcada pelo machismo e pela violência de gênero, que resulta em agressões físicas e verbais até mesmo dentro da própria casa, em feminicídios, em violência sexual, discriminações e muita opressão.

Nossa celebração para essa conquista se deve não apenas ao reconhecimento mundial da competência do nosso cinema e da grandeza da nossa cultura - ainda relativamente pouco conhecida lá fora - mas também por permitir que a temática dos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar ecoe justamente num momento em que forças de extrema-direita querem impor retrocessos e atacam a democracia no Brasil e em diversos outros países.

É impressionante como esse filme despertou ondas de ódio nas redes sociais. Evidentemente, a forma como o filme trata da perda sofrida pela família Paiva e o extraordinário trabalho de Eunice Paiva para chegar à verdade sobre o desaparecimento de seu marido, rompeu barreiras ideológicas e alinhamentos político-partidários. E isso assusta os extremistas de direita, que não querem que o passado ditatorial seja revelado, porque justamente pretendem instalar outra ditadura no presente.

Esse também é o motivo pelo qual esses mesmos grupos atacam a Educação, a liberdade de ensinar e aprender, os professores. O conhecimento é libertador, constrói o caráter, desenvolve a cidadania, transforma a sociedade. O conhecimento e a memória são poderosos instrumentos contra a tirania e as injustiças. Como nos ensina o filósofo espanhol George Santayana (1863 – 1952), aqueles que não conseguem se lembrar do seu passado estão condenados a repeti-lo.

O conhecimento e a cultura são os melhores legados que podemos deixar às futuras. Por isso, professores, artistas e intelectuais são tão atacados.

Em São Paulo, temos um governo obscurantista. Não quer que os professores formem pessoas conscientes. Quer "resultados", "metas". Não quer difundir e produzir conhecimento, mas manter o conformismo e a ignorância sobre os grandes temas da humanidade.

Escrever e ler o básico, conhecer matemática e educação financeira bastam para trabalhar por um baixo salário ou tornar-se "empreendedor", novo nome para o subemprego, comércio ambulante ou outras atividades informais. A estagnação da aprendizagem dos estudantes das escolas estaduais mostra que esse governo está destruindo a Educação pública no estado de São Paulo. Exatamente o que esse governo quer.

Somos resilientes e lutadores. O exemplo de Eunice Paiva nos ensina a sermos cada vez mais. E no dia 21 de março estaremos em assembleia na frente da Secretaria da Educação. Entregamos nossa pauta no dia 19 de fevereiro. Se não negociar, é greve!

E neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, faço questão de cumprimentar cada mulher do nosso Estado de São Paulo e, mais uma vez, colocar o nosso mandato popular na Assembleia Legislativa à disposição da luta em defesa das mulheres. Viva as mulheres!!!

Autoria
Professora Bebel é deputada estadual pelo PT, segunda presidenta licenciada da APEOESP e colunista do CCN Notícias
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